Mundo

Na Cúpula de Financiamento Global, Lula repete críticas ao Banco Mundial e ao FMI: ‘Deixam muito a desejar’

Para presidente brasileiro, organizações deixaram de atender aos interesses da sociedade; segundo Lula, questões climáticas viram ‘brincadeira’ sem mudança institucional

O presidente Lula (PT), durante a Cúpula do Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris, na França. Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da República
Apoie Siga-nos no

Para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), instituições internacionais, como o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), “não funcionam mais e não atendem mais às aspirações e aos interesses da sociedade”. As críticas foram feitas durante a Cúpula do Novo Pacto de Financiamento Global, em Paris, na França, nesta sexta-feira 23.

Ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, Lula tratou do papel de organismos internacionais na geopolítica atual, e chamou a atenção para o fato de que, segundo ele, as demandas da sociedade mundial – marcadas pela desigualdade – não são atendidas por órgãos como o FMI, o Banco Mundial e a ONU.

“Aquilo que foi criado depois da Segunda Guerra Mundial, as instituições de Bretton Woods, não funcionam mais”, disse Lula. 

O presidente brasileiro se referiu ao que ficou conhecido como sistema de Bretton Woods: um conjunto de acordos feito no final da Segunda Guerra Mundial, que criou, por exemplo, o Banco Mundial e o FMI, além de ter criado regras para as finanças globais. O sistema, em si, acabou no início dos anos 1970, quando os EUA anunciaram o fim do padrão-ouro para o dólar, mas as instituições citadas permaneceram.

“Muitas vezes, os bancos emprestam o dinheiro, e esse dinheiro é resultado da falência do Estado. É o que estamos vendo na Argentina hoje“, disse Lula, ao tratar do FMI. O presidente brasileiro observou, ainda, que “é importante que a gente tenha noção de que não pode continuar com as instituições funcionando de forma equivocada”. 

Ele citou o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) como exemplo de funcionamento inadequado: “os membros permanentes não representam mais a realidade política de 2023”, afirmou Lula.

O presidente brasileiro disse que a ONU precisa “voltar a ter representatividade e força política”. Para ele, se mudanças institucionais não forem feitas, “a questão climática vira uma brincadeira”. Para contextualizar a declaração, Lula questionou os líderes presentes sobre uma série de acordos climáticos que, na prática, não foram cumpridos ou foram cumpridos parcialmente, como o Protocolo de Kyoto e o Acordo de Paris. Para Lula, a condição básica para que os acordos sejam realmente cumpridos é que haja “uma governança mundial com força para decidir as coisas e a gente [os países] cumprir”.

‘Por que eu tenho que comprar dólar?’

No discurso, Lula tratou rapidamente de dois temas ligados de maneira direta ao comércio internacional: o papel atual da Organização Mundial do Comércio (OMC) e as iniciativas, lideradas pela China, de tornar o comércio mundial menos dependente do dólar.

Para o mandatário brasileiro, a OMC “faz muito pouco”. Segundo ele, “é por isso nós temos a volta do protecionismo”. Nos últimos anos, a entidade vem experimentando um esvaziamento do seu protagonismo como instância mediadora no comércio internacional. A questão passa, inclusive, pela postura dos EUA sobre a OMC. Em um plano mais amplo, a dinâmica do comércio internacional, atualmente, vem favorecendo a formação de acordos bilaterais e a intensificação de medidas protecionistas.

Lula questionou, também, o fato de países como o Brasil e Argentina, segundo ele, terem que “fazer comércio em dólar”. “Por que eu tenho que comprar dólar?”, questionou Lula. O presidente brasileiro disse que essa é uma discussão que está na sua pauta e que o tema será tratado na próxima reunião dos Brics, em setembro.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo