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Argentina: Massa critica proposta de Milei de ‘dolarizar’ a economia

Para o ministro da Economia e candidato à presidência, não há reservas de dólares para concretizar o plano do rival; um rompimento com a China, prometido por Milei, complicaria ainda mais o cenário

O ministro da Economia e candidato à Presidência da Argentina, Sergio Massa. Foto: Luis Robayo/AFP
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A proposta de dolarizar a economia argentina, um dos motes da campanha eleitoral de Javier Milei para a presidência do país, vem repercutindo entre os candidatos à Casa Rosada. Na última quinta-feira 24, o ministro da Economia da Argentina e candidato à presidência, Sergio Massa, criticou a ideia. A fala de Massa aconteceu durante o Conselho das Américas, realizado em Nova York, nos Estados Unidos.

“Vamos dolarizar a Argentina sem dólares de exportação”, especulou Massa, ao tratar da proposta do concorrente. “Não há dólares do fundo, não há dólares de exportações. Minha pergunta é: de onde virão os dólares para a dolarização?”, questionou o candidato da frente peronista.

Em seguida, Massa tratou do que, na sua visão, seriam as consequências de uma eventual vitória eleitoral de Milei, em termos da relação da Argentina com os seus principais parceiros comerciais.

“Imaginem se no dia 11 de dezembro [quando o novo presidente tomará posse] vamos romper com o Mercosul e vamos romper a relação com a China”, disse aos empresários presentes no evento. “A primeira coisa que temos que saber é que vamos romper com os nossos dois mercados mais importantes. Ao romper com a China, perdemos um mercado de 15 bilhões de dólares“, pontuou.

O que seria ‘dolarizar’ a economia

A ideia de Milei de dolarizar a economia argentina não é nova. O ex-presidente Carlos Menem (1989-1999) tinha na dolarização uma das âncoras do seu discurso de governo, embora nunca tenha conseguido implementá-la. Nos seus anos à frente do país, marcados por sucessivas privatizações, Menem implementou, porém, a paridade do dólar com a moeda argentina. Algo semelhante ao que fez o Brasil, durante a implementação do Real. 

A proposta do candidato atual é relativamente fácil de ser compreendida: basicamente, tornaria o dólar norte-americano a moeda oficial da Argentina. Uma consequência prática da medida seria fazer com que todas as transações no país vizinho fossem feitas em dólares, de compras básicas a salários.

A justificativa é que a dolarização poderia estabilizar a economia argentina e conter a forte inflação no país, que, no último mês de julho, atingiu 113,4% ao ano. Outros dois países da América Latina também são dolarizados: El Salvador e Equador, desde o início dos anos 2000.

Acontece que, para implementar a dolarização, Milei precisaria, caso eleito, da aprovação do Congresso argentino. Além disso, em caso de aprovação, a Argentina poderia perder não apenas a capacidade de emitir a sua própria moeda, mas o poder de controle sobre a moeda usada no país. Em última instância, a dolarização exigiria a extinção do Banco Central argentino, o que é defendido, aliás, por Milei.

Para dolarizar a economia, é necessário que a Argentina disponha de reservas (ou estoques) de dólares. É aqui que reside, justamente, o problema principal para que a medida se concretize: as reservas internacionais da Argentina vêm caindo nos últimos anos. 

No final de julho, o Banco Central argentino informou que o país possuía 25,6 bilhões de dólares em reservas. O problema é que a maior parte desse valor está presa em ativos como ouro, linhas de crédito com a China e outros bancos internacionais, o que quer dizer que não representa uma quantia líquida e disponível para gasto imediato.

Dolarização na prática?

Apesar de toda a aparente dificuldade política e econômica para dolarizar a economia argentina, o dia a dia dos argentinos está, há décadas, ligado ao dólar. Mais recentemente, alguns setores da economia do país já mostram que, na prática, a dolarização não é uma ideia tão distante assim.

A poupança em dólar é uma realidade para um povo acostumado, desde a década de 1980, a altas taxas de inflação. Atualmente, no câmbio oficial, o peso vale menos de um terço de um centavo de dólar. A realidade faz com que os argentinos adotem algumas formas de câmbio paralelo, no qual a cotação gira, hoje em dia, na seguinte proporção: um peso valendo um décimo de centavo de dólar.

Um exemplo prático da presença do dólar nas transações argentinas está no mercado imobiliário. Segundo a plataforma ZonaProp, uma das principais do país, mais de 60% dos anúncios de apartamento para aluguel na capital Buenos Aires, atualmente, já são feitos em dólar. Há dois anos, segundo o mesmo levantamento, o percentual era de 20%.

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