Economia

Milei se reúne com o FMI e promete um arrocho mais brutal que o esperado

Entre as propostas incendiárias do ‘libertário’ estão o fechamento do Banco Central e a dolarização da economia

O ultradireitista Javier Milei, candidato à Presidência da Argentina. Foto: Alejandro Pagni/AFP
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Funcionários do Fundo Monetário Internacional se reuniram virtualmente nesta sexta-feira 18 com o ultradireista Javier Milei, o mais votado nas eleições primárias do último domingo que definiram os candidatos à Presidência da Argentina. O primeiro turno ocorrerá em 23 de outubro.

A agenda, segundo o órgão, serviu para “trocar pontos de vista sobre as perspectivas econômicas atuais da Argentina e entender suas prioridades de política econômica”. Para Milei, foi uma oportunidade de reforçar seu compromisso com um ajuste fiscal brutal, mais impactante que o solicitado pelo próprio FMI.

Em momento algum, ao longo da campanha primária, o “libertário” escondeu seu apreço pelo arrocho e por propostas incendiárias, a exemplo da dolarização da economia e da eliminação do Banco Central. Ele também repete a promessa de extinguir o Ministério da Ciência e privatizar o Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas, o prestigiado Conicet. Sua ideia é criar o Ministério do Capital Humano e deixar sob seu guarda-chuva as pastas de Desenvolvimento Social, Saúde, Educação e Trabalho.

O partido de Milei, La Libertad Avanza, compartilhou com o jornal argentino Clarín detalhes da reunião com o FMI, cuja duração se aproximou de uma hora e vinte minutos. A legenda colocou sobre a mesa, entre outras propostas:

  • um ajuste fiscal “mais importante” do que o exigido pelo fundo;
  • a “abertura” da economia;
  • mudanças nas leis trabalhistas;
  • uma reforma monetária que elimine o Banco Central;
  • o encerramento do déficit fiscal por meio do corte de gastos;
  • unificar os “tipos de câmbio” na Argentina.

Milei já declarou em diversas ocasiões que sua candidatura defende “um ajuste fiscal muito mais profundo do que o que eles [FMI] propõem”.

Representantes do fundo também se reuniram nesta semana com a ex-ministra da Segurança Patricia Bullrich, candidata à Presidência pelo partido Juntos por el Cambio, alinhado em torno do ex-presidente neoliberal Mauricio Macri.

O encontro do FMI com o ministro da Economia e candidato de centro-esquerda à Casa Rosada, Sergio Massa, ocorrerá na semana que vem, em Washington.

A Argentina vive as consequências da decisão do governo Macri de contrair, em 2018, um empréstimo de 57 bilhões de dólares com o fundo, uma fatura oferecida como “legado” a Alberto Fernández e Cristina Kirchner.

Ao assumir o poder, no final de 2019, Fernández renunciou às parcelas de desembolso pendentes e promoveu em 2022 uma renegociação, chegando a um acordo pelo qual o país receberia 44 bilhões de dólares em 30 meses. Em troca, o governo teria de aumentar suas reservas internacionais e reduzir o déficit fiscal, de 3% do Produto Interno Bruto em 2021 para 2,5% em 2022, 1,9% em 2023 e 0,9% em 2024.

Na próxima quarta, o Conselho Executivo do FMI se reunirá com Massa para aprovar o envio de recursos à Argentina após um acordo sobre a quinta e a sexta revisões do programa, envolvendo o repasse de mais 7,5 bilhões de dólares em duas parcelas: em 23 de agosto e na primeira semana de novembro.

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