Observatório do Banco Central
Formado por economistas da UFRJ, analisa a economia suas relações fundamentais com a moeda e o sistema financeiro
Observatório do Banco Central
Qual a melhor proposta em discussão sobre o reajuste dos combustíveis?
A inflação de combustíveis é uma opção política
A elevação dos preços dos combustíveis foi o principal responsável pela alta da inflação de 2021. Como busquei argumentar em outro espaço, a inflação de combustíveis é uma opção política. Resumindo o argumento: a) os aumentos dos combustíveis não têm relação com os custos de exploração do petróleo doméstico e/ou do refino; e b) a Petrobras adquiriu capacidade de refino do petróleo doméstico após o desenvolvimento do pré-sal e aprimoramento de suas refinarias.
A justificativa para adoção da política de Preço de Paridade de Importação (PPI) seria então: i) formalmente declarada capacidade das refinarias e distribuidoras terem condições de competir no mercado nacional com a Petrobras; e ii) a não declarada priorização pela distribuição de lucros e maximização do valor acionário da empresa.
Todavia, diante do impacto sobre o custo de vida nas famílias e da aproximação da eleição, as pressões políticas para uma alteração na situação atual têm levado até mesmo o governo Bolsonaro a propor uma PEC para permitir que a União, Estados e municípios reduzam parcialmente ou totalmente os impostos sobre combustíveis e o gás de botijão em 2022 e 2023 (Valor).
Essa PEC apresenta ao menos quatro problemas: i) por ser uma PEC, demanda aprovação de 2/3 da Câmera e do Senado; ii) cria um elevado custo fiscal, estimado pela equipe do Ministério da Economia entre 54 bilhões de reais e 75 bilhões (Valor); iii) não resolve o problema da instabilidade dos preços; e iv) é válida apenas por dois anos.
Uma segunda PEC foi apresentada pelo senador Carlos Fávaro (PSD-MT), que visa, além das desonerações dos combustíveis, a inclusão de questões de mobilidade urbana, criar um auxílio diesel de 1,2 mil reais para caminhoneiros autônomos e ainda propõe aumentar o subsídio ao gás de cozinha para famílias de baixa renda de 50% para 100%. Como fonte de recursos para os 17,7 bilhões necessários seriam empregados os dividendos pagos pela Petrobras à União e as receitas do governo federal com leilões do pré-sal (Estadão).
Devido aos custos fiscais das propostas anteriores, a própria equipe econômica busca convencer a “ala política” a apoiar o Projeto de Lei (PL) 1.472/2021, de autoria do Senador Rogério Carvalho (PT). Esse PL visa atuar diretamente sobre a volatilidade dos preços dos combustíveis através dos seguintes mecanismos:
- Programa de estabilização dos preços, por meio de um mecanismo de bandas sob administração do governo.
- Uma nova política de preços internos de venda a distribuidores e empresas comercializadoras de derivados do petróleo produzidos no Brasil, cuja variação ocorrerá de acordo com os custos de produção.
- Conjunto de possíveis fontes de recursos adicionais, tais como um imposto sobre exportação de petróleo bruto, dividendos da Petrobras devidos à União; participações governamentais destinadas à União; resultado positivo apurado no balanço semestral do Banco Central do Brasil (BCB) da gestão das reservas cambiais; e receita de superávit financeiro de fontes de livre aplicação disponíveis no balanço da União.
Há ainda o PL 3.450/2021, do senador Jader Barbalho (MDB-PA), que está em análise no Senado. O texto traz como objetivo central a proibição da vinculação dos preços dos combustíveis derivados de petróleo aos preços das cotações do dólar e do barril de petróleo no mercado internacional, ou seja, a utilização do PPI (Senado Notícias).
As diferenças entre o PL 1.472/2021 e os primeiros são evidentes. Não representam o custo da renúncia fiscal e focam na raiz do problema, que é a elevada volatidade dos preços e patamares muito acima dos custos de exploração e refino. Ter como fontes importantes dos recursos a própria poupança em momentos que os preços internacionais estiverem abaixo do piso das bandas e impostos das exportações quando a cotação estiver mais elevada, são pontos positivos do projeto.
Já em relação ao PL 3.450/2021, ao proibir a adoção do atual PPI, em princípio resolveria também os pontos mais relevantes de patamar e volatilidades dos preços sem ter a necessidade de empregar subsídios. Por outro lado, a interrupção do PPI no cenário presente, sem que haja uma estratégia do governo para reorientação da Petrobras, no sentido de voltar a investir em refinarias e de capacitação para sustentar a oferta interna, pode trazer instabilidades para a dinâmica atual da oferta de derivados do petróleo.
Diante do exposto, entendo que a melhor estratégia para o atual contexto seja a aprovação do PL 1.472/2021, mas que no médio para longo prazo se reestruture o setor de refino e distribuição no sentido de que a economia não fique refém do setor privado ser competitivo com os preços da Petrobras.
Se a presença do setor privado traz mais prejuízos ao País, pela incapacidade de concorrer com a oferta de derivados de petróleo com a Petrobras, caso esta baseasse seus preços em seus custos, cujo petróleo importado é a menor parte do refinado, seria melhor ter apenas a estatal.
Caso o setor privado queira permanecer no mercado, teria que investir em novas refinarias, ampliando a capacidade de refino do País compatível com o petróleo explorado internamente. Contudo, estratégias de investimento que envolvam maior prazo de retorno e risco, não parecem ser a predileção do nosso setor privado e, portanto, vislumbro essa possibilidade com pessimismo.
Um minuto, por favor…
O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.
Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.
Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.
Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.
Assine a edição semanal da revista;
Ou contribua, com o quanto puder.