Observatório do Banco Central

Formado por economistas da UFRJ, analisa a economia suas relações fundamentais com a moeda e o sistema financeiro

Observatório do Banco Central

A inflação brasileira em evidência

‘O aumento da inflação tem um impacto devastador para os mais pobres’

Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
Apoie Siga-nos no

A inflação medida pelo IPCA atingiu a marca histórica de mais de 10% entre os meses de janeiro e dezembro de 2021. Esse nível tão elevado não era observado desde 2015, sendo o atual resultado o terceiro pior no período pós-Real (Figura 1). As consequências desse resultado são devastadoras, notadamente para os mais pobres.

Figura 1 – IPCA acumulado em 12 meses entre os anos de 1996 e 2019. Elaboração própria. Fonte: IBGE.

O perfil de gastos dos mais pobres, a grande maioria da população, está concentrado em despesas com alimentação. Como a inflação atual tem na cesta básica um peso significativo, foi gerada uma situação de vulnerabilidade considerável, pondo em risco a capacidade de subsistência de muitas famílias.

Um exercício que ajuda a compreender a dimensão desse resultado está presente na análise da variação anual do IPCA acumulado em 12 meses. Qual foi o aumento percentual do resultado de um ano em relação ao resultado do ano imediatamente anterior? Nota-se que a inflação de 2021 aumentou cerca de 122%, quando comparada com a inflação observada em 2020. Em uma perspectiva histórica, esse resultado só não foi pior do que a variação observada nos primeiro anos do segundo governo FHC, quando a inflação de 1999 teve um aumento de quase 442% (em relação à inflação observada em 1998).

Figura 2 – Variação Anual do IPCA acumulado em 12 meses entre os anos de 1996 e 2019. Elaboração própria. Fonte: IBGE.

Como o Brasil adota o regime de metas de inflação, quando o resultado observado ultrapassa a meta é dever do presidente em exercício do Banco Central comunicar, publicamente, quais foram as razões para que a meta não tenha sido atingida. Assim, no dia 11 de janeiro de 2022 a explicação foi detalhada em uma carta encaminhada pelo atual presidente do BCB, Roberto Campo Neto, e destinada ao presidente do Conselho Monetário Nacional, o ministro da Economia Paulo Guedes.

As justificativas para uma inflação acima da meta foram pontuadas da seguinte maneira: (1) elevação dos preços das commodities, em especial; (2) aumento nas taxas de consumo de energia elétrica dada a escassez de chuvas; e (3) desequilíbrios entre demanda e oferta de insumos aliados com períodos de incerteza nas cadeias produtivas globais.

A solução apontada pela autoridade monetária para conter o avanço e retornar a inflação para próximo da meta está centrada na figura da taxa de juros. Mais especificamente, a autoridade pontua que a continuidade do aumento da taxa de juros ainda se faz necessária. Além disso, a “incerteza” quanto à manutenção das regras fiscais também é colocada como um elemento que afeta de forma negativa as expectativas dos agentes de mercado e pode minar o processo de recuperação.

Ao elevar a taxa de juros, os condutores da política econômica realizam a manutenção de uma escolha que cria restrições ao avanço da economia no curto prazo na esperança de que no longo prazo – quando as contas estiverem equilibradas e o ambiente de negócios em uma situação confortável para investimentos estrangeiros – a economia, enfim, volte a crescer.

Isso significa que os mais pobres são impactados de forma dupla: a inflação corrói a renda e os altos juros impedem que mais empregos sejam gerados, inviabilizando o aumento da renda através do trabalho formal.

A estratégia adotada pelo BCB penaliza a camada economicamente mais vulnerável da população: não há possibilidade de aumento na renda e a expansão dos preços compromete uma parcela cada vez maior da renda disponível.

Sem acesso a instrumentos que possibilitem uma recomposição da renda, a situação dos mais pobres se mostra preocupante e os atores responsáveis pela condução da política econômica brasileira têm errado tanto no diagnóstico quanto nas soluções para a contenção da inflação.

Em um ano de eleições presidenciais, a probabilidade de que esses fatores tenham muito peso na decisão dos eleitores é alta. Agora basta ver para que direção a economia seguirá a partir de 2023, tomando 2022 como um ano de transição ou continuidade em relação a esta política econômica excludente e confusa.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.