Diálogos da Fé

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Como superar a fragmentação do movimento evangélico

A transformação social começa na base e é construída pela ação coletiva e consciente para a emancipação da classe trabalhadora

Imagem: iStock
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O movimento evangélico é altamente fragmentado e, por isso, muitos pesquisadores afirmam que não se pode considerar os evangélicos como um grupo homogêneo. Em vez de uma única igreja evangélica, existem centenas de milhares, muitas delas pequenas e informais, cada uma com sua própria teologia, rituais e práticas. Embora todas compartilhem um certo fundamento teológico protestante, elas são distintas.

A compreensão sobre Igreja varia entre católicos e protestantes [evangélicos], como destacado por Rubem Alves. Enquanto os católicos a veem como uma entidade institucional unificada, liderada pelo Papa, os protestantes acreditam que ela é identificada pela confissão de fé ortodoxa. Isso leva a uma diferença fundamental, já que a Igreja Católica é capaz de acomodar uma ampla variedade de movimentos [como teologias da libertação e renovação carismática], enquanto as igrejas evangélicas, geralmente, têm uma posição mais rígida e não permitem divergências de opinião. Como resultado, a dialética da reforma foi substituída pela dialética da ruptura.

A herança protestante de uma dialética de ruptura, mencionada por Alves, é mantida pelos evangélicos progressistas, que, assim como os evangélicos em geral, não são um grupo homogêneo. Existem vários movimentos progressistas evangélicos, embora sejam marginalizados, tanto pela igreja quanto por setores de esquerda. 

Essa fragmentação é um problema quando se pensa em organicidade política e estratégica, pois muitos desses movimentos estão apenas organizados em redes sociais, sem se envolver em comunidades de fé, organizações políticas ou movimentos populares. Apesar de ser importante disputar o espaço digital, é preciso lembrar que isso atinge apenas um público específico e deixa de fora pessoas e comunidades que estão na base.

Retomar os trabalhos de base, dos quais tanto se fala, é necessário, mas não é apenas ocupar os territórios periféricos. Antes, é o compromisso trabalhoso de “recolocar para a classe trabalhadora seu papel histórico, de construir uma sociedade humanista, sem exploração e sem opressão”, como diz a cartilha elaborada pelo Instituto Tricontinental de Pesquisa Social junto às Brigadas do Congresso. É algo fundamentado em uma profunda convicção de superar a cultura autoritária e o personalismo, muito presente no mundo evangelical, e visando capacitar o povo a ser o protagonista e a assumir a liderança local em busca de justiça social. 

A ideia é que, por meio do trabalho de base, as pessoas possam tomar as rédeas de sua própria história, construindo um futuro mais justo e equitativo, sabendo e lutando por seus direitos. Buscar uma organização social, na qual todos têm suas funções e construam a luta por justiça no aqui e agora. Isso será possível com a ajuda da Leitura Popular da Bíblia, visto que grande parte da classe trabalhadora é evangélica e a Bíblia é seu livro inseparável

A dialética da ruptura e a cultura da figura da liderança personalista devem ser superados por uma organicidade política que visa criar uma consciência de classe nas massas para contrapor a hegemonia capitalista e fundamentalista vigente. Essa tarefa passa por aprofundar as estratégias fundamentalistas, sejam elas discursivas ou de projeto de poder político, e buscar uma mensagem e proposta progressista comuns para uma atuação efetiva a partir do cotidiano e da realidade da classe trabalhadora. É necessário construir o poder popular como uma força política que vá além das disputas eleitorais, mas que enraíze no povo a solidariedade de classe, que expande a concepção do “irmão ajuda irmão”.

A fragmentação do movimento evangélico é um desafio para a construção de um poder popular organizado e politicamente ativo, mas é possível superá-la por meio do trabalho de base, da Leitura Popular da Bíblia e da construção de uma consciência de classe nas massas.

A transformação social começa na base e é construída pela ação coletiva e consciente para a emancipação da classe trabalhadora, que hoje tem se tornado cada vez mais evangélica.

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