Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

Augusto Diniz | Música brasileira

Hoje, o mundo da música está escondido em bolhas, diz Danilo Caymmi

O artista lança um disco com canções do profícuo período da segunda metade dos anos 1960, com uma ótima interpretação

Foto: Armando Paiva
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Com o nome de Danilo Caymmi Andança 5.5, o cantor, compositor e instrumentista lançou um álbum quase de intérprete.

“Quase” porque ele grava Andança, uma composição sua com Edmundo Souto e Paulinho Tapajós, que virou um clássico da música brasileira na voz de Beth Carvalho. O restante do disco é de canções de outros compositores.

Das oito faixas, seis foram apresentadas em festivais de música de 1967 e 1968, inclusive aquela eternizada por Beth Carvalho: Bom Dia (Nana Caymmi e Gilberto Gil), Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Geraldo Vandré), Eu e a Brisa (Johnny Alf), Sabiá (Tom Jobim e Chico Buarque) e Travessia (Fernando Brant e Milton Nascimento).

As outras duas que não participaram de festivais, mas integram o disco e surgiram na mesma época de Andança, são Viola Enluarada (Marcos Valle e Paulo Sérgio Valle) e Pra Dizer Adeus (Edu Lobo e Torquato Neto).

Danilo Caymmi aparece interpretando as canções com categoria, do alto de seus mais de 50 anos de carreira – o “5.5” do título é uma referência à sua estrada na música.

O registro é minimalista, com acompanhamento de Flavio Mendes no violão, Iura Ranevsky no violoncelo, o próprio Danilo nos sopros e Armando Marçal na percussão em duas faixas.

“Não há necessidade de muita coisa, com um repertório desses, de músicas tão importantes”, diz Caymmi sobre o fato de gravar com poucos instrumentos.

Há mais curiosidades sobre o álbum.

A canção que abre o disco, de Nana com Gil, é a única composição de sua irmã.

Viola Enluarada é o nome de um show de que Danilo participou como flautista, com a presença dos autores da canção, Milton Nascimento e Beth Carvalho.

Pra dizer Adeus, lembra Danilo, foi da banda de Edu Lobo há 50 anos.

Com Sabiá a relação é para lá de especial: o músico frequentava a casa de Tom Jobim e por dez anos integrou sua banda.

“Ele (Tom) percebeu que eu era cantor antes mesmo de que eu me desse conta. Falo sempre que o Tom é quem me descobriu como cantor”, afirma. “Ele me deu dois solos importantes para cantar (em show): Samba do Avião e A Felicidade.”

O que “carimbou” mesmo a carreira de intérprete de Danilo Caymmi, contudo, foi o sucesso O Bem e o Mal, composição dele com Dudu Falcão e trilha da minissérie Riacho Doce, da TV Globo, de 1990.

Sobre o repertório do disco, ele ainda lembra que Geraldo Vandré, autor de Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, era um ídolo nos diretórios acadêmicos das faculdades, inclusive naquela em que Danilo estudava, a de Arquitetura e Urbanismo na UFRJ.

Com relação a Eu e a Brisa, de Johnny Alf, Danilo revela que Tom Jobim o admirava.

“Não vi o Tom Jobim tocar outros compositores, além de três de que ele gostava: Ary Barroso, meu pai (Dorival Caymmi) e Johnny Alf. Dava para perceber o respeito que ele tinha pela capacidade melódica e harmônica do Johnny.”

Andança nasceu na casa de Beth Carvalho. “Estava com Paulinho Tapajós – colega da faculdade – e o Edmundo tinha a célula principal da música. A coisa foi construída em volta dela. O grande lance da canção foi o contracanto”, relembra. “Para nossa surpresa, a música ganhou uma dimensão muito maior do que a gente esperava.”

Ele afirma ter se surpreendido naquela época com o fato de a música ter ido longe, porque se tratava de uma canção “floral”, em meio a tantas de tom político.

Danilo reconhece que de lá para cá muita coisa mudou no modo como os artistas se projetam.

“O ambiente hoje é muito diferente. Você vê o ambiente digital. São bolhas. Naquela época, você identificava o compositor; hoje, está escondido em bolhas”, avalia.

Ele cita o irmão Dori Caymmi, que tem um processo de composição muito bem realizado com o letrista Paulo César Pinheiro.

“Tinha essa coisa de as pessoas se encontrarem. Hoje, está tudo separado, todo mundo olhando para o celular. Eu vejo o mundo da música como bolhas, com seus segmentos.”

O álbum Danilo Caymmi Andança 5.5 é composto de músicas atemporais e muito além das bolhas, das quais o cantor e compositor faz um ótimo e maduro registro.

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