Sociedade

Secretário de Zema inaugurou megaempreendimento próximo a rocha que desabou em Capitólio 

Moradores relatam ausência de fiscalização sobre o turismo comandado por empresários locais; prefeito admite que nunca houve análise geológica

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O desabamento de uma rocha em Capitólio, Minas Gerais, foi classificado pelo governador Romeu Zema (Novo) como um acidente semelhante a um “raio”. “Não sou especialista nessa área, mas quero deixar claro que o que aconteceu ali é algo inédito”, disse. “E quando cai um raio, quem é o responsável?”, afirmou na segunda-feira 10.

Na ocasião, Zema anunciou que o turismo em Capitólio ficará fechado no local até que passe pela análise de geólogos. Um dia antes, o prefeito da cidade Cristiano Geraldo (Progressistas) admitiu que nunca houve uma análise de risco geológico na região.

O paredão de pedras despencou sobre pelo menos três embarcações, em um cânion no Lago de Furnas, no dia 8. Dez pessoas morreram. As autoridades ainda apuram se houve omissão ou crime envolvido no incidente. Moradores e frequentadores criticam a ausência de fiscalização em um complexo turístico comandado por empresários locais.

Os relatos envolvem o uso maquinário pesado, implosões e bate-estacas nas obras.

Um desses empreendimentos, o Parque da Contemplação, já funciona desde o ano passado bem próximo a rocha onde ocorreu o acidente. Em setembro do ano passado, o secretário de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, inaugurou, ao lado de dois empresários, um outro parque turístico bem próximo ao local do acidente. 

Trata-se do Parque das Aventuras, um circuito de tirolesa e canionismo às margens do lago de Furnas. A empreitada faz parte do megaprojeto Parque Mirante dos Canyons, que contempla outros dois parques e um resort com 314 quartos em uma área de 129 hectares. Dois grandes empresários investiram cerca de 135 milhões na empreitada.

No dia seguinte a inauguração, durante evento na cidade onde foram anunciados os processos de tombamento dos lagos de Furnas e Peixoto, Leônidas comemorou o projeto dos empresários em Capitólio. “Nós inauguramos a tirolesa e teremos um resort muito vigoroso”, emendando que o projeto colocaria Capitólio na rota turística mundial. O secretário também relatou como foi ter descido de tirolesa pela primeira vez. Uma delas ficaria a pouco mais de 200 metros do local do acidente.

Durante o evento de inauguração em setembro, a administradora do megaprojeto informou que firmou parceria com a empresa MSV Adventure, especializada na montagem de parques de aventura e cujas licenças teriam sido aprovadas por órgãos ambientais, como o ICMBio.

CartaCapital entrou em contato com o governo de Minas Gerais que enviou o seguinte posicionamento: “não há pedidos de licenciamento ambiental na Semad para o empreendimento mencionado. Cabe destacar que, segundo a norma aplicável, a Deliberação Normativa 217/2017, os empreendimentos turísticos não são passíveis de licenciamento ambiental pelo estado. Nestes casos, faz-se necessário autorização do poder público municipal, além de outras autorizações específicas, em caso de supressão de vegetação ou em situações de uso de recursos hídricos, por exemplo’.

Investigações

A Polícia Civil vai apurar se existe vinculação das obras com o acidente ou se contribuíram de alguma forma para causar danos à estrutura local. Inicialmente, o delegado Marcos Pimenta, responsável pelas investigações, disse que é “prematuro” fazer esse tipo de ligação.

“Estamos falando com vários geólogos, especialistas e toda perícia, que pode dar respostas nos próximos dias, será feita dentro da ciência”, afirmou a CartaCapital.

As investigações estão sendo conduzidas em outras duas frentes. O Ministério Público estadual instaurou inquérito para apurar a conduta do município na tragédia, como no cumprimento de fiscalizações das áreas de risco e mapeamento. 

Outra parte é conduzida pela Marinha, responsável por fiscalizar a navegação e estabelecer o ordenamento da orla nos cursos d’água. 

Há quem defenda que a União, o governo de Minas Gerais e o município possam ser responsabilizados pelas fiscalizações das falésias. Moradores e frequentadores relatam uma ausência de fiscalização em um roteiro turístico comandado diretamente por empresários locais.

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