Diversidade

Pressionada por bolsonaristas, prefeitura de Niterói cancela show do cantor Johnny Hooker

Questionada por CartaCapital, a prefeitura não justificou a motivação para o cancelamento do contrato com o cantor

Foto: Carlos Salles/Divulgação
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A prefeitura de Niterói cancelou, na terça-feira 5, a apresentação do cantor Johnny Hooker que aconteceria no sábado 9, durante o festival ID:RIO, que acontece no Museu de Arte Contemporânea da cidade com patrocínio do governo local.

A informação foi publicada por meio de uma medida no Diário Oficial. Em nota, a equipe do cantor afirmou estar surpresa pelo cancelamento sem uma justificativa dada prefeitura e atrela o caso a uma campanha de políticos bolsonaristas.

Nas redes sociais, o vereador Douglas Gomes e o deputado federal Carlos Jordy, ambos do PL-RJ, publicaram um vídeo intitulado ‘lacrando com o dinheiro público’ em que questionam a participação de Johnny Hooker no festival após falas do cantor, datadas de 2018, que foram retiradas de contexto.

Durante uma apresentação em 2018, Hooker fala que ‘Jesus é travesti e bicha sim’. A afirmação, no entanto, diz respeito ao protesto pelo cancelamento da peça ‘O evangelho segundo Jesus, Rainha do Céu’, protagonizada pela atriz travesti Renata Carvalho. À época, Renata ganhou destaque na mídia ao ser alvo de ofensas, ameaças de morte e boicotes por representar a figura cristã como uma pessoa LGBT.

A declaração de Hooker já havia sido utilizada em 2023 para motivar o cancelamento de uma apresentação em Boa Vista, em Roraima, sob a justificativa de que a atração teria sido ‘desaprovada por muitas pessoas através de manifestações públicas’.

Em nota, Hooker afirma que sua fala de 2018 continua motivando represálias e perseguições de ‘maneira sistemática’, e ressalta que tem ganhado todos os processos referentes às difamações que acompanham as campanhas de cancelamento.

“Isso não nos espanta, afinal, mulheres, indígenas, negros e pessoas LGBTQIAP+ são os alvos prediletos e os primeiros bodes expiatórios dos promotores do pânico moral”, destaca o comunicado.

Em ação conjunta, a deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) e a vereadora Benny Briolly questionam a decisão da prefeitura em cancelar a participação do cantor após contratação do cantor ter sido autorizada pelo governo municipal em 2 de março.

“Exigimos transparência e responsabilidade nas justificativas apresentadas, garantindo que não haja espaço para práticas discriminatórias em nossas políticas públicas”, destaca o ofício. “Como representantes eleitas do povo, não podemos aceitar que a discriminação e o preconceito determinem a agenda cultural de Niterói”, complementa.

Em nota, o festival ID:RIO reafirma o compromisso do evento em valorizar a diversidade sexual, de gênero e de raça e se diz ‘perplexo’ com o efeito da campanha promovida por grupos extremistas que culminaram no cancelamento da atração.

Procurada por CartaCapital, até o momento a prefeitura de Niterói não respondeu às tentativas de contato da redação. O espaço para a posição segue aberto.

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