Sociedade

Natal Sem Fome começa a distribuir donativos na próxima sexta

Com arrecadação ainda inferior à do ano passado, a campanha segue recebendo doações até o final de dezembro

Foto: Divulgação
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“A fome é o pior problema do momento. Não há como a gente desenvolver uma nação com quase 60% da população em insegurança alimentar. Isso é o fundamento zero. A gente tem visto esse debate muito claro no discurso do presidente Lula e espera que de fato seja a prioridade do governo eleito.” A citação é do diretor-executivo da Ação da Cidadania, Rodrigo Kiko Afonso, ao se referir aos números da fome no Brasil e aos desafios do governo Lula para erradicar o problema.

Como forma de minimizar esse problema social, a Ação da Cidadania promove neste ano a trigésima edição da campanha Natal Sem Fome, que começa a distribuir as doações na próxima sexta-feira 16. Já foram arrecadadas mil toneladas de alimentos e 5 milhões de reais, um montante, por enquanto, inferior ao do ano passado. O Natal Sem Fome deste ano foi lançado em outubro passado no Rio de Janeiro, estado onde também começará a distribuição das doações. A previsão é de que até o Natal as doações cheguem aos demais estados brasileiros.

A expectativa nesta reta final da campanha é de que a arrecadação ganhe mais engajamento e supere as cifras de 2022.

“Sempre que o tema da fome sai da mídia, a sociedade diminui radicalmente as doações. Mas nossa expectativa é que tenha um crescimento grande de arrecadação, para que a gente possa chegar ao máximo de pessoas possível. A demanda tem aumentado e quanto mais pessoas a gente conseguir atender, melhor”, salienta Kiko.

Ele acrescenta que o tema foi muito debatido durante o período eleitoral e logo após a divulgação, no meio do ano, da pesquisa realizada pela Rede Penssan, que revelou um contingente de 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil e mais de 125 milhões vivendo com algum grau de insegurança alimentar. Os dados foram ratificados pelo IBGE, que, no início de dezembro, divulgou um estudo, referente a 2021, mostrando que quase 62,5 milhões de pessoas (30% da população) se encontram em situação de pobreza. Desses, pelo menos 17,9 milhões (8,4% da população) estão na extrema pobreza.

Os números do IBGE são os maiores desde o início da série histórica, em 2012, e representam um aumento considerável em relação a 2020: a população pobre cresceu 22,7% (mais 11,6 milhões de pessoas) e na extrema pobreza o aumento foi de 48,2% (mais 5,8 milhões). A metodologia utilizada pelo instituto se apoia no Banco Mundial, que define pessoas que vivem na linha da pobreza com rendimentos mensais per capita de até 486 reais e abaixo da linha da pobreza com renda mensal por pessoa de até 168 reais.

O estudo revela também que o público mais atingido é formado por nordestinos, mulheres e  pessoas negras. A constatação joga por terra o discurso do governo, do próprio presidente da República e do ministro Paulo Guedes, que tentam desqualificar os números e negar a gravidade da fome no País.

Rosângela, Alessandra e dona Esmeralda são exemplos vivos e cruéis da fome do Brasil. Elas dependem de doações para sobreviver. Com uma renda familiar de apenas um salário mínimo, a família de Rosângela é uma das beneficiadas da Ação da Cidadania. Indígena e moradora da periferia de São Paulo, ela vive com o marido Edilson e dois filhos pequenos.

“Eu sou dona de casa, não tenho renda e nossa situação é muito difícil. Só meu marido trabalha, e o que recebe não é suficiente para cuidar de duas crianças. Aí a gente conta com a ajuda da Ação da Cidadania, lá da associação, onde realmente tem um apoio muito bom. E a gente segue nessa luta”, diz.

Vítima de um problema de saúde que a impede de trabalhar, Alessandra também depende das doações. Há três anos ela recebe as cestas básicas da Ação da Cidadania e destaca a importância da campanha Natal Sem Fome para quem não tem o que comer.

“Ajuda muita gente, principalmente nesse período difícil que a gente tá vivendo. É essencial para muitas famílias que estão com fome.”

Dona Esmeralda é mais uma assistida pela Ação da Cidadania. Mora com a filha e dois netos e depende dos donativos para colocar comida na mesa.

“Só a minha filha trabalha, mas não dá para pagar tudo. Falta dinheiro para fazer uma mistura, para comprar uma bolacha, e agradeço a Deus por conseguir as doações do comitê da Ação da Cidadania, que me ajuda com cesta básica, com gás e, no Natal Sem Fome, além da cesta, ainda recebemos panetone.”

As doações para o Natal Sem Fome podem ser realizadas pela internet até o final de dezembro, na página oficial da campanha (www.natalsemfome.org.br) ou por meio do PIX: [email protected].

Além do Natal Sem Fome, a Ação da Cidadania coordena a campanha Pacto pelos 15% com Fome, movimento cujo objetivo é formar uma grande rede de solidariedade no combate à fome, reunindo entidades da sociedade civil, empresas, grupos de mídia, agências de comunicação e publicidade, pessoas físicas, artistas e influenciadores.

“Trata-se de um grande pacto de combate à fome para tentar trazer empresas e organizações para olhar a fome como foco de atuação. O governo Lula precisa chamar a sociedade para uma grande campanha. É absolutamente essencial neste momento para a gente conseguir segurar a questão da fome, até que o governo esteja com seus programas estruturados e assuma sua responsabilidade, porque a gente sabe que no fim do dia a responsabilidade da segurança alimentar da população brasileira é do governo, e não da sociedade civil nem do setor privado”, salienta Kiko.

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