Sociedade

Garimpo na Amazônia tem avanço ‘sem precedentes’ e chega a 80 mil pontos de foco

Àrea invadida corresponde a duas vezes o tamanho da cidade de Belém. Cerca de 10,5% se concentra em terras indígenas

Garimpo aberto na APA do Tapajós (PA), área de conservação próxima a Itaituba e que é alvo frequente de garimpeiros ilegais (Imagem: Christian Braga/ClimaInfo)
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O Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) divulgou, nesta sexta-feira 26, uma nota técnica indicando que, atualmente, existem mais de 80 mil pontos de garimpo na Amazônia.

No total, são 80.180 pontos de garimpo em uma área de 241 mil hectares. Em termos de comparação, a área corresponde a mais de duas vezes o tamanho da cidade de Belém, capital do Pará.

Cerca de 10,5% desta área com pontos de garimpo se concentra em 17 terras indígenas que foram invadidas de maneira direta. 

Outros 122 focos foram identificados em bacias hidrográficas garimpadas, o que compromete 139 territórios e os rios contaminados pelo garimpo.

“O impacto do garimpo tem um alcance muito maior do que a área diretamente afetada por essa atividade”, explica Martha Fellows, autora do estudo e coordenadora do núcleo de estudos indígenas do IPAM. “Os poluentes contaminam rios, solos, fauna e flora que acabam afetando a saúde dos povos indígenas da região.”

A invasão maciça do garimpo em territórios indígenas da Amazônia ganhou força entre os anos de 2016 e 2022. O período corresponde aos governos do ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL).

O garimpo na região cresceu e se fixou. Segundo o estudo, a atividade aumentou 361% no período citado. Além disso, uma parte significativa (78%) da área invadida por garimpeiros em terras indígenas surgiu, justamente, entre 2016 e 2022.

O estudo aponta ainda que, ainda que o garimpo tenha avançado por toda a Amazônia, este avanço foi ainda mais grave em territórios indígenas. De 1985 a 2022, a área explorada pelo garimpo cresceu doze vezes em todo o bioma, mas nos territórios indígenas, o aumento foi de dezesseis vezes.

As terras mais afetadas foram Kayapó, Munduruku e Yanomami, que concentram 90% da área indígena invadida pelo garimpo ilegal.

Os números sublinham a natureza histórica e multifatorial do fenômeno. Entretanto, a nota técnica do IPAM identifica uma causa fundamental para o aumento “sem precedentes” observado nos últimos anos: o afrouxamento na da estrutura de fiscalização e responsabilização.

A conclusão do estudo está diretamente associada ao enfraquecimento dos órgãos de fiscalização. Pesam também os repetidos incentivos que Jair Bolsonaro promoveu ao garimpo em terras indígenas durante seu mandato. Em várias ocasiões, o ex-presidente — ele próprio praticante de garimpo recreativo — expressou seu apoio a essa atividade.

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