Sociedade

Em meio a escândalo envolvendo vinícolas, vereador propaga xenofobia: ‘Não contratem aquela gente’

‘Se estava tão ruim a escravidão, como que alguns do próprio grupo não quiseram ir embora?’, disse Sandro Fantinel, em referência aos trabalhadores baianos resgatados

Foto: Reprodução
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O vereador Sandro Fantinel (Patriota-RS), culpou os funcionários resgatados em situação análoga à escravidão, em Bento Gonçalves, por suas condições de trabalho. 

Ao mencionar o caso na sessão desta terça-feira 28 da Câmara de Caxias do Sul, o bolsonarista disse que as medidas contra as vinícolas eram um exagero, e sugeriu que os agricultores dessem preferência a “trabalhadores argentinos”, que seriam “limpos, trabalhadores, corretos”. 

“Todos os agricultores que têm argentinos trabalhando hoje só batem palma. São limpos, trabalhadores, corretos, cumprem o horário, mantêm a casa limpa e no dia de ir embora ainda agradecem o patrão pelo serviço prestado e pelo dinheiro que receberam”, afirmou.

“Agora com os baianos, que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema. Deixem de lado aquele povo que é acostumado com Carnaval e festa para vocês não se incomodarem novamente, que isso sirva de lição… Se estava tão ruim a escravidão, como que alguns do próprio grupo não quiseram ir embora?”, acrescentou.

Segundo as denúncias, os mais de 200 trabalhadores baianos resgatados pelo Ministério do Trabalho eram monitorados por câmeras, alimentados com comida estragada e submetidos a choques, espancamentos e spray de pimenta. 

Ao citar outro alojamento gaúcho, Fantinel disse ser contra maus tratos e que ali as condições de vida são mínimas, mas suficientes. “Agora o patrão vai ter que pagar empregada para fazer a limpeza todo dia pros ‘bonito’ também? Temos que botar eles em hotel cinco estrelas para não ter problema com o Ministério do Trabalho?”, questionou. 

As declarações provocaram revolta e críticas por parte de outros parlamentares.

O deputado estadual, Leonel Radde (PT) registrou um boletim de ocorrência contra o vereador bolsonarista. 

Já o vereador Lucas Caregnato (PT) pediu ao vereador do Patriota a retirada das expressões dos anais da Câmara. 

“A gente acabou de se deparar com uma situação de xenofobia e preconceito ao povo baiano nas palavras do vereador Fantinel, então solicito que o vereador suprima sua fala, não desresponsabilizando ele do ato que acabou de acontecer nesse parlamento”, afirmou Caregnato, que teve seu pedido acatado por Fantinel.

Quem também se manifestou, foi o vereador Rafael Bueno (PDT), que solicitou ao Legislativo que emita uma nota com desculpas públicas pelas falas do vereador.

Mas o presidente da Casa, Zé Dambrós (PSB), argumentou que não há necessidade do parlamento se responsabilizar por uma declaração individual do vereador. 

Com isto, Fantinel veio a público novamente e disse não ter generalizado a população da Bahia, de quem “não tem absolutamente nada contra”. 

“Retirei partes da minha fala dos anais, porque muitas vezes aqui, no calor da emoção, dizemos uma palavra ou outra que não deveríamos, somos humanos e cometemos erros”, justificou. “Conheço situações parecidas no interior, e sei que muitas são forjadas e a culpa muitas vezes não é nem sequer dos trabalhadores, mas daqueles que forjam para ganhar nas costas deles. Temos sindicatos que não trabalham, fiscais que não trabalham”. 

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