Sociedade

Comercial que ‘revive’ Elis Regina reabre debates sobre a colaboração da VW com a ditadura

Presente no país desde os anos 1950, fabricante denunciou funcionários para órgãos de tortura

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A fabricante alemã de veículos Volkswagen lançou, nesta terça-feira 4, uma campanha para anunciar a chegada da Kombi elétrica ao Brasil. Chamada de “ID. Buzz”, a minivan será o retorno da Kombi ao país, que teve a sua produção encerrada em dezembro de 2013.

A montadora utilizou a Inteligência Artificial para levar ao público um comercial com a cantora Elis Regina, falecida em 1982, e sua filha, a também cantora Maria Rita. No vídeo, Elis dirige, artificialmente, o modelo antigo da Kombi, enquanto Maria Rita pilota o modelo a ser lançado. Juntas, elas cantam a música “Como Nossos Pais”, fazendo referência às interpretações da própria Elis e do compositor Belchior. 

A ideia do comercial é transmitir a mensagem de que, mesmo em diferentes gerações, alguns hábitos são mantidos. Fabricada no Brasil desde 1957, a Kombi foi a van mais vendida do país. 

De acordo com a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) e a própria Volkswagen, 1,56 milhão de unidades da Kombi foram fabricadas em 56 anos.

A campanha, produzida pela agência AlmapBBDO, foi lançada nas redes sociais. Na manhã de hoje, a menção à campanha estava entre os principais assuntos do Twitter

Em meio a relatos nostálgicos e emocionados, alguns usuários da redes relembraram a controversa relação entre a montadora e o regime militar brasileiro.

Entenda a seguir.

O nebuloso histórico entre a VW e o regime militar

A presença da Volkswagen no Brasil remonta a um tempo em que o modelo de desenvolvimento urbano das principais cidades do país estava pautado pela presença maciça do automóvel privado. A fabricante começou as suas atividades no país no início dos anos 1950 e foi responsável, por exemplo, pela fabricação do Fusca. Carro, aliás, que ostentou, por décadas, o título de veículo mais vendido no país.

Entretanto, a presença robusta da fabricante no mercado brasileiro não aconteceu sem relações bem estabelecidas com os diferentes governos, ao longo de décadas. Especialmente, com o regime militar que vigorou no Brasil entre 1964 e 1985.

A montadora alemã foi acusada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) por violar direitos humanos em uma fazenda durante o regime militar. As práticas incluíam trabalho escravo, estupros e tortura. Além disso, o Ministério Público Federal (MPF), o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e o MPT já concluíram, em 2021, que a montadora contribuiu intensamente com o regime militar brasileiro.

De acordo com o relatório dos órgãos, a Volkswagen financiou e disponibilizou veículos para operações de repressão do regime. Além disso, era a Volkswagen, segundo os órgãos de controle, que fornecia dossiês sobre funcionários considerados “subversivos”, chegando a fazer, inclusive, detenções ilícitas nas suas dependências. O relatório aponta, também, que a Volkswagen ocultou o paradeiro de presos políticos a familiares. 

A fabricante alemã, aliás, já concordou em pagar 36 milhões de reais a famílias de ex-trabalhadores torturados e mortos na ditadura, como forma de compensar pela colaboração que fez ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), um dos órgãos de repressão do regime. 

Por outro lado, mais recentemente, a Volkswagen se negou a pagar 165 milhões de reais em indenizações a 14 trabalhadores, no curso das acusações por trabalho escravo e tráfico de pessoas. O caso aconteceu, segundo o MPT, na Fazenda Vale do Rio Cristalino, no Pará. A fazenda pertencia à fabricante. A recusa aconteceu no último mês de março.

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