Sociedade

A explicação da ex-presidente do IBGE para divergências entre a previsão e o resultado final do Censo 2022

Em 2021, estimativas apontavam que a população brasileira registrada seria de 213,3 milhões. O Censo 2022, porém, indicou apenas 203 milhões de pessoas vivendo no País

Brasília- A presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Wasmália Bivar, participa da entrevista coletiva sobre indicadores globais para acompanhamento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). (Elza Fiuza /Agência Brasil)
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A população brasileira contabilizada pelo Censo de 2022 atingiu a marca de 203.062.512 habitantes. Um crescimento de 6,5% em comparação à pesquisa realizada há mais de uma década, em 2010.

O crescimento anual correspondente a 0,52% – o menor em 150 anos – revela uma realidade bem abaixo de estimativas prévias do próprio IBGE, responsável pela realização do Censo. Em 2021, previa-se uma população de 213,3 milhões.

As estimativas feitas fora do Censo são sempre tiradas como base no levantamento mais recente, neste caso o de 2010. Para manter uma projeção mais fiel, é indicado que haja uma contagem mais enxuta no meio da década entre censos – a de 2015, porém, foi cancelada por falta de verba.

Para Wasmália Bivar, ex-presidente do IBGE, fatores como a pandemia, a inexistência do ‘meio censo’ e os impasses durante a realização do levantamento em 2022 podem apontar a diferença entre o previsto em 2021 e o resultado exibido na última quarta-feira 28. A falta de verba, porém, foi fator determinante.

“Esperava-se que o Censo fosse ser subnumerado, pelo simples fato de que o orçamento era insuficiente desde o início, o que impactou diretamente nos próprios recenseadores, que não se viam estimulados a continuar no trabalho”, destaca.

Ainda segundo a Wasmália, o abandono de muitos candidatos durante o treinamento fez com que o IBGE nunca atingisse o número previsto de profissionais para realizar o levantamento.

Além da questão orçamentária, a maioria dos desafios para atingir todos os grupos que compõe a sociedade brasileira permanecem. Áreas densamente povoadas com moradia desordenada continuam a ser um obstáculo para a cobertura dos recenseadores. Wasmália também chama atenção para a participação das classes mais abastadas, que se ausentam propositalmente do Censo.

“Os ricos sempre dão trabalho ao IBGE, eles não se enxergam como cidadãos brasileiros, ao menos não com as mesmas obrigações que os demais, e acham que podem enunciar ao Censo. Responder-nos é um ato de cidadania que todas as classes deveriam exercer”, destaca.

Sobre os percalços para a realização do Censo 2022, a ex-presidente do IBGE afirma que encurtar o intervalo entre edições não é o melhor caminho para garantir a excelência nos dados produzidos. Mas sim o entendimento pelo governo de que “informação é uma questão de Estado e que necessita da colaboração de todas as instituições”.

Wasmália defende a necessidade de uma grande mudança no arcabouço político e a regulamentação de uma lei que especifique a harmonização das informações produzidas por todos os órgãos ao IBGE.

“O Instituto precisa ter de fato um projeto institucional. O IBGE é bem maior que o Censo e hoje a instituição encontra-se extremamente fragilizada por falta de recursos humanos”.

Outro fator levantado pela ex-presidente é o desmonte promovido pela gestão de Jair Bolsonaro. Sob a escusa de “escolhas técnicas” para diferentes áreas do governo, o ex-capitão entregou o IBGE às mãos de nomes sem proximidade com o trabalho exercido pelo Instituto, além de ignorar diversos alertas técnicos a despeito de todas as dificuldades que o Censo, previsto para 2020, enfrentaria com os cortes financeiros e sucateamento da equipe.

“Os ‘ibgeanos’ estão de parabéns por, a despeito de todas as gestões que se seguiram durante o governo Bolsonaro, conseguir entregar estes dados para a sociedade”, destaca. “As avaliações virão depois, mas qualquer problema com esse Censo será um resultado das decisões de uma gestão extremamente equivocada e que pecou de forma contundente com o Instituto”, esclarece Wasmália.

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