Saúde

Investigação do Ministério da Saúde conclui que morte de adolescente não tem relação com vacina da Pfizer

Pasta ainda não divulgou o relatório oficial; ministro, no entanto, adiantou conclusão de que a jovem teve púrpura trombótica

Investigação do Ministério da Saúde conclui que morte de adolescente não tem relação com vacina da Pfizer
Investigação do Ministério da Saúde conclui que morte de adolescente não tem relação com vacina da Pfizer
Foto: Justin Tallis/AFP Foto: Justin Tallis/AFP
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O Ministério da Saúde concluiu a investigação sobre o caso de uma adolescente que morreu dias após tomar a vacina da Pfizer contra a Covid-19 e confirmou nesta segunda-feira 20 a informação de que a jovem teve púrpura trombótica, sem qualquer relação com o imunizante. A relação já havia sido descartada pelo governo de São Paulo.

O relatório ainda não foi divulgado, mas a conclusão foi adiantada pelo ministro da Saúde Marcelo Queiroga em entrevista à coluna de Mônica Bergamo no jornal Folha de S. Paulo.

Segundo Queiroga, a jovem de apenas 16 anos teve púrpura trombocitopênica trombótica, um distúrbio autoimune, que leva à formação de coágulos pelo corpo. Esses coágulos teriam então bloqueado o fluxo de sangue para órgãos vitais, causando o óbito da adolescente.

“Não dá para estabelecer uma vinculação [com a vacina]”, confirmou o ministro. Em seguida, em aceno ao chefe, Queiroga então afirmou que a hipótese não poderia ser totalmente descartada.

Apesar da conclusão, o ministro indicou que não deve recomendar de imediato a vacinação de adolescentes. Confirmou, no entanto, que a imunização ‘traz mais benefícios infinitamente maiores do que os riscos’ e que ainda que a morte fosse vinculada à dose aplicada, a vacinação dos adolescentes não estaria invalidada.

Para justificar a não recomendação da vacinação para os mais jovens neste momento, Queiroga alega questão de ‘logística’.

“Esse grupo deveria ser vacinado lá para a frente. Os gestores não podem desobedecer o planejamento do Plano Nacional de Imunização (PNI), pois com isso estão retirando o direito dos que vêm antes deles”, afirma.

Nos bastidores, no entanto, a não recomendação é atribuída a pressões do presidente Jair Bolsonaro, que é contra a imunização. Bolsonaro teria baseado sua posição após ouvir comentários de bolsonaristas durante a programação da rádio Jovem Pan.

Na entrevista, o ministro nega: “Bolsonaro não mandou nada. O presidente não interfere nisso daí”.

Especialistas são contra a decisão do Ministério da Saúde de recuar na vacinação de adolescentes. Entidades como a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pediatria publicaram nota contrariando a pasta. Na sexta, membros da Câmara Técnica do Plano Nacional de Imunizações afirmaram que pretendem entregar seus cargos caso o ministro não se retrate e retome a vacinação de adolescentes.

Especialistas consultados por CartaCapital também avaliaram o recuo como um erro do governo federal e que mostra a ‘falta de transparência’ da atual gestão.

“Mostra que o Ministério da Saúde é guiado por uma visão clínica, individual, e não por uma visão coletiva, populacional”, criticou o epidemiologista Pedro Curi Hallal em entrevista exclusiva à CartaCapital. “Por isso o Brasil tem um desempenho tão vexatório no enfrentamento à pandemia”, acrescentou.

Na contramão do Brasil, dez países, incluindo potências, avançam na vacinação dos mais jovens. A medida é essencial para conter a circulação do vírus, já que, ainda que adolescentes não estejam na parcela mais suscetível a casos graves, são responsáveis por boa parte das contaminações.

Após o episódio protagonizado pelo governo federal, a Anvisa também manteve a recomendação de imunização dos adolescentes. O PSB recorreu também ao Supremo Tribunal Federal para que a recomendação seja retomada.

Nesta segunda, estudos divulgados pelos laboratórios produtores de vacina comprovam que o imunizante da Pfizer é seguro para crianças entre 5 e 11 anos. A comprovação reforça o apelo pela continuidade da imunização dos mais jovens.

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