Política
Governo admite não ter estudo para defender fim de quarentena
Segundo o jornal Folha de S. Paulo, Ministério da Economia apresenta slide em vez de relatório técnico e diz que não tem cronograma


O governo do presidente Jair Bolsonaro admitiu a autoridades estaduais que não tem estudos que baseiem a defesa pelo fim da quarentena e pela adoção somente do isolamento vertical para combater o coronavírus. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.
O Palácio do Planalto tem defendido que os governadores desistam do “confinamento em massa” e aplique o isolamento vertical, destinado apenas para quem faz parte do grupo de risco, composto principalmente por idosos. Na TV, Bolsonaro criticou os efeitos econômicos dos decretos e disse que os jovens devem voltar a trabalhar.
Confrontado pelo tema em reunião com membros dos poderes estaduais, o secretário especial de Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, disse que o isolamento vertical é “um princípio” do governo federal ao qual os governadores deveriam se submeter.
No entanto, em vez de apresentar uma minuta técnica, Costa exibiu um slide com o que o governo enxerga como necessário para o isolamento parcial na área econômica, segundo a Folha de S. Paulo. Costa declarou que é preciso manter abertos os serviços essenciais e garantir a cadeia de suprimentos. Esta já é a conduta adotada pelo governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
De acordo com o veículo, Costa também foi questionado se o governo obrigaria os estados, por meio de decreto, a cumprir a medida. Segundo ele, a escolha deveria ser voluntária, mas, perguntado se haveria recursos federais para estados interessados, a resposta foi “não temos o cronograma”.
Nesta sexta-feira 27, o Ministério da Saúde informou que o Brasil já contabiliza 92 mortes e 3.417 casos confirmados do novo coronavírus. São mais 15 óbitos e 502 casos em relação ao dia anterior, quando a pasta relatou 77 falecimentos 2.915 pacientes.
Apesar do crescimento do número de casos e de mortes no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro insiste em defender que os brasileiros desistam do isolamento e voltem a trabalhar. Nesta semana, o Palácio do Planalto fez circular, nas redes sociais, um vídeo em que incentiva o retorno à normalidade. Na quinta-feira 26, o presidente ironizou as infecções e disse que “brasileiro pula no esgoto e não pega nada”.
A postura de Bolsonaro tem sido duramente criticada por outras autoridades. Em coletiva de imprensa, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), questionou o presidente da República e criticou a propaganda veiculada pelo Planalto. Já o governador do Rio de Janeiro (PSC), Wilson Witzel (PSC), afirmou estar perplexo com o ministro Luiz Henrique Mandetta, por mudar seu discurso com o objetivo de agradar Bolsonaro, e anunciou rompimento com o Ministério da Saúde.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.
Leia também

Bolsonaro zomba de jornalistas: “Não estão com medo do coronavírus?”
Por Victor Ohana
Bolsonaro ironiza infecções: “Brasileiro pula em esgoto e não pega nada”
Por Victor Ohana
Em meio à crise do coronavírus, Planalto lança campanha “O Brasil não pode parar”
Por CartaCapital