Política

‘Tenho competência ou não tenho?’, questiona Bolsonaro em evento com ruralistas

O ex-capitão também minimizou fake news, atacou Lula e o STF, defendeu armas e voltou a insinuar que pretende não cumprir decisão da Suprema Corte

Bolsonaro ataca Lula durante evento com ruralistas: 'Um bêbado que quer dirigir o Brasil' Foto: Reprodução
Apoie Siga-nos no

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar o Supremo Tribunal Federal que investiga se ele é ou não responsável por espalhar mentiras sobre o sistema eleitoral brasileiro. Ao tratar do tema em evento voltado ao agronegócio nesta quarta-feira 10, o ex-capitão minimizou as fake news contadas por ele e seus aliados e vociferou contra os ministros que apuram o caso na Corte.

“Não somos cordeiros, não queremos ser lobos também, mas jamais cordeiros de dois ou três. Nossa liberdade não tem limites. Não vem com esse papinho de fake news…’ai ele fez fake news’…ah vai pra p*…pra ponta da praia, porra. O problema do Brasil é fake news agora?”, atacou Bolsonaro, instantes depois de gritar várias vezes para que seus apoiadores comprem armas.

Durante o longo discurso aos representantes do agronegócio, Bolsonaro repetiu insinuações infundadas sobre fraudes no sistema eleitoral e insistiu na defesa do voto impresso e das sugestões das Forças Armadas para o pleito, já descartadas pela Justiça Eleitoral.

“Eu não vou chegar em 2023 e olhar para trás e falar que o que eu não fiz para o Brasil chegar nessa situação. Que isso custe a minha vida! Nós somos a maioria! Somos pessoas de bem, trabalhamos. Vamos perder para narrativas? Para três ou quatro que assumiram um cargo e se acham deuses!”, disse em outro momento ao atacar os ministros.

Em dado momento, Bolsonaro voltou a insinuar que pretende não cumprir uma decisão do STF. Segundo defendeu, caso o tribunal aprove o novo marco temporal de terras indígenas, eles estariam cometendo ‘um crime de lesa pátria’ e, portanto, ele poderia não acatar a decisão. “Eu vou ter que cumprir? Essa medida se for aprovada não é um crime de lesa pátria? É ou não é? Fiquem tranquilos, eu sei o que tem que ser feito!”, disse em meio a aplausos dos ruralistas.

O ex-capitão também atacou o manifesto em defesa da democracia lançado por integrantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. O texto  já conta com mais de 800 mil assinaturas, entre elas a do ex-presidente Lula (PT), e será lançado oficialmente na quinta-feira em São Paulo.

“Vimos agora uma cartinha…em defesa da democracia…olha quem assinou a carta, o último que assinou”, disse antes de iniciar ataques ao petista, a quem chamou de ‘malandro’, ‘sem caráter’ e ‘bêbado’.

‘Tenho competência ou não tenho?’

Em mais de um momento, Bolsonaro lamentou ocupar o cargo de presidente, alegando não ser ‘uma missão fácil’. Disse, novamente, não compreender os motivos de ter sido escolhido pela população para ocupar o cargo e questionou aos presentes se ele teria competência para a posição de chefe do Executivo.

“Me desculpe por confessar, mas por vezes me pergunto: por que estou aqui? Quem me colocou aqui? Quem eu era na disputa presidencial de 2018? Por que tentaram me matar? Quem me salvou?”, disse logo na abertura do seu discurso.

Mais adiante, disse que a vida de deputado seria mais fácil e lamentou ter sido levado ao Planalto. “Tinha dois caminhos, Planalto ou praia. Me deram o pior”. Em dado momento, resolveu então jogar para a plateia:

“Tenho competência ou não tenho?”, questionou. Após breves gritos e palmas, ele mesmo respondeu: “Vou na Bíblia [em busca da resposta], ele capacita os escolhidos!”.

Quase ao fim do seu discurso no evento, o ex-capitão ainda disse não ter responsabilidade sobre as ações do seu governo. Segundo defendeu, ‘as coisas boas e ruins’ da sua gestão devem ser atribuídas aos ministros. “Se algo está bom ou não em qualquer ministério meu, não é influência minha, é responsabilidade do ministro, porque eu dei total liberdade”.

ENTENDA MAIS SOBRE: , , , , , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome

Os Brasis divididos pelo bolsonarismo vivem, pensam e se informam em universos paralelos. A vitória de Lula nos dá, finalmente, perspectivas de retomada da vida em um país minimamente normal. Essa reconstrução, porém, será difícil e demorada. E seu apoio, leitor, é ainda mais fundamental.

Portanto, se você é daqueles brasileiros que ainda valorizam e acreditam no bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando. Contribua com o quanto puder.

Quero apoiar

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo