Responsabilidade pela alta nos combustíveis é de Bolsonaro, e não dos funcionários da Petrobras, diz Dilma

A ex-presidente disse considerar como um 'absurdo' que o governo culpe a empresa pelo aumento nos valores; Bolsonaro tem dito para a Justiça cobrar esclarecimentos de diretores

A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT). Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

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A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) culpou o presidente Jair Bolsonaro (PL) pela alta nos preços dos combustíveis, contrariando o discurso do governo federal de que a responsabilidade seria da Petrobras.

Em discurso nesta quarta-feira 23, em uma live do Partido dos Trabalhadores na internet, a petista disse considerar “absurdo” que o chefe do Planalto transfira essa atribuição para os funcionários da estatal.

Dilma argumentou que Bolsonaro, no comando do Executivo, tem a prerrogativa de nomear a diretoria da Petrobras e de indicar parte dos integrantes do Conselho de Administração.

A ex-presidente lembrou ainda a decisão da gestão de Michel Temer (MDB), após o golpe de 2016, de adotar uma política que obrigou os preços internos acompanharem as oscilações do mercado internacional.

“Eu acho um absurdo que um presidente, que é responsável pela nomeação da diretoria da Petrobras e pela indicação de parte do Conselho, tente transferir para a empresa essa responsabilidade”, declarou, em entrevista à ex-ministra Ideli Salvatti. “A responsabilidade não é dos funcionários da Petrobras. A responsabilidade por essa política de paridade de preços internacional é do governo brasileiro.”

Segundo Dilma, não são os funcionários da estatal que são “mal intencionados” ou que “não levam em conta a economia popular”. A ex-presidente acusou o governo Bolsonaro de não ter “boa intenção em relação aos consumidores” dos combustíveis.


“Eu acho fantástico como um presidente possa ir a público e transferir responsabilidades intrinsecamente dele para outros”, continuou. “Eu acho que, por trás dessa tentativa de demonizar a Petrobras, tem o interesse escuso de privatizá-la, esquartejando-a.”

Dilma citou como exemplo de “crime contra o patrimônio público da Petrobras” a privatização do sistema de dutos, processo que críticos afirmam ter ocorrido com a Nova Lei do Gás, sancionada por Bolsonaro em abril de 2021.

A petista aproveitou para criticar a privatização da Eletrobras, em curso neste ano sob aval do Tribunal de Contas da União. Segundo ela, o processo “coloca em risco forte” o abastecimento de energia no Brasil.

Ela criticou, por exemplo, a venda do controle sobre as águas das hidrelétricas a grupos empresariais e citou como referência as consequências da privatização da água no Chile, hoje sob reversão com a Constituinte.

 

‘Cobre da Petrobras’, disse Bolsonaro

Bolsonaro tem repetido o discurso de que não é responsabilidade dele o aumento nos preços dos combustíveis. Além de colocar a culpa na guerra da Ucrânia, o presidente da República tem expressado insatisfação com o presidente da Petrobras, o general Joaquim Silva e Luna, e dito que a Justiça deveria cobrar esclarecimentos do militar.

“Se eu quiser trocar hoje o presidente da Petrobras, eu não posso trocar. Se eu quiser trocar hoje um diretor da Petrobras, eu não posso trocar. A Petrobras é praticamente independente. Então cobrem da Petrobras. Seria uma boa ação por parte de vocês”, declarou, em live da semana passada.

Silva e Luna foi levado ao cargo no início do ano passado, quando Bolsonaro sofria pressão de caminhoneiros pelo preço do diesel. À época, o mercado dizia que Bolsonaro “dilmou”, por interferir na direção da estatal com o propósito de amenizar a alta dos preços. Porém, como mostrou CartaCapital, as intervenções foram diferentes, uma vez que são distintas as estratégias adotadas pelos dois presidentes para a indústria petroleira.

A principal reivindicação da esquerda no setor é a revogação da política de iguala os preços internos do petróleo às variações do exterior, algo que Bolsonaro não reverteu. No Congresso Nacional, defensores da revisão dessa política submeteram à análise dos parlamentares outro projeto com uma medida paliativa para reduzir os preços dos combustíveis, ancorada na criação de um “fundo de estabilização”. O texto já foi aprovado no Senado.

 

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