Política

Relatório da Abin contradiz versão de Gonçalves Dias sobre recebimento de alertas dos atos golpistas

O general pediu demissão do GSI em 19 de abril na esteira da crise causada pela divulgação das imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante posse de Marco Edson Gonçalves Dias como ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República. Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Documento da Agência Brasileira de Inteligência que mostra o envio de alertas a órgãos do governo federal e do distrito Federal sobre as possíveis invasões a prédios públicos no 8 de janeiro contradiz a versão apresentada pelo ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias, em depoimento à Polícia Federal. As informações são da Folha de S. Paulo, que teve acesso ao relatório.

No documento da Abin consta o envio de 11 informes enviados ao whatsapp do ex-ministro entre o dia 6 de janeiro e as 15h do dia 8, data em que ocorreram os atos golpistas. Do total, três mensagens teriam sido enviadas exclusivamente a GDias, sem repasse para os órgãos que compõem o Sistema Brasileiro de Inteligência.

Aos investigadores, Gonçalves Dias disse que soube dos alertas apenas quando teve que elaborar, em meados de janeiro, uma resposta aos pedidos de informações feitos pela Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso Nacional.

“Indagado se recebeu informações de inteligência da Abin a respeito do aumento de fluxo de ônibus e chegada de pessoas após 6 de janeiro à BSB, [o ex-ministro] informou que não recebeu qualquer relatório de inteligência”, diz trecho do depoimento.

Ainda de acordo com 0 ex-ministro, “as mensagens do dia 8 pela manhã constavam pessoas fazendo discursos exaltados, ameaçando invadir prédios públicos da República; [e] que o compilado de mensagens não pode ser considerado tecnicamente um relatório de inteligência para produção de conhecimento para assessorar a decisão do gestor”.

Mesmo após ter recebido o documento da Abin com todas as mensagens enviadas às vésperas de 8 de janeiro, GDias considerou que “não havia informações relevantes” nos comunicados.

O conteúdo das mensagens enviadas desde a noite da sexta-feira, 6 de janeiro, já indicavam a possibilidade de “ações violentas” e invasão às sedes dos Poderes, segundo o documento da Abin.

Consta em um trecho da primeira mensagem enviada ao ex-ministro: “A perspectiva de adesão às manifestações contra o resultado da eleição convocadas para Brasília para os dias 7, 8 e 9 jan. 2023 permanece baixa. Contudo, há risco de ações violentas contra edifícios públicos e autoridades”, diz trecho da mensagem —a primeira que teria sido enviada ao ex-ministro.

Em outras três, enviadas exclusivamente a GDias, há atualização da movimentação do próprio 8 de janeiro. Caso de texto enviado às 8h53. “Cerca de 100 ônibus chegaram a Brasília/DF para os atos previstos na Esplanada”. Há outro alerta enviado às 12h05, minutos antes dos manifestantes caminharem até a Esplanada dos Ministérios: “Deslocamento dos manifestantes para a Esplanada está previsto para as 13h. Ânimo pacífico no momento, mas há relatos de pessoas que se dizem armadas”. O último texto que teria sido encaminhado exclusivamente ao ex-ministro, às 13h, diz que havia sido “identificado discurso radical de vândalo com perfil já conhecido com ânimo exaltado”.

O general Gonçalves Dias pediu demissão do GSI em 19 de abril na esteira da crise causada pela divulgação das imagens do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto. Em uma delas, Dias indicava a saída de um dos andares do palácio a golpistas que haviam participado da depredação do local. Foi a primeira queda no primeiro escalão do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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