Política

Reforma ministerial: Bolsonaro planeja trocas de olho em militares, ruralistas e Centrão

Bolsonaro quer usar reforma ministerial para consolidar apoios à reeleição

Foto: Sergio Lima / AFP
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Com dificuldade de atrair novos partidos para o projeto de reeleição, o presidente Jair Bolsonaro prepara uma reforma ministerial voltada aos núcleos mais próximos: ruralistas, militares e Centrão. O governo planeja ainda contemplar o Senado, onde enfrentou os maiores desgastes dos três anos de mandato, e amarrar o apoio do Republicanos, que vem ameaçando deixar a base aliada. A expectativa é que dez ministros deixem os cargos até o início do mês que vem para se candidatarem aos Executivos estaduais e vagas no Congresso — há também a possibilidade de um titular da Esplanada ser o companheiro de chapa de Bolsonaro em outubro.

Dois desses ministérios que ficarão vagos são considerados centrais na nova composição: Cidadania e Trabalho e Previdência. Seus atuais titulares, João Roma (Republicanos) e Onyx Lorenzoni (União), são pré-candidatos aos governos da Bahia e Rio Grande do Sul, respectivamente. Bolsonaro gostaria de usar os cargos para recompensar ao menos dois senadores de um grupo de parlamentares que faz parte da sua tropa de choque no Congresso: Marcos Rogério (PL-RO), Marcio Bittar (União-AC) e Eduardo Gomes (MDB-TO).

Um deles deve ficar com o Ministério do Trabalho. Na Cidadania — responsável pelo Auxílio Brasil, principal programa social do governo —, há um impasse. O governo pretende manter a pasta com o Republicanos, que indicou Roma, mas desde que o partido mantenha o apoio à reeleição. A sigla ainda discute a possibilidade de ficar neutra, e o presidente da legenda, deputado Marcos Pereira (SP), dá sinais nas duas direções: criticou Bolsonaro por preterir o partido em negociações eleitorais e depois compareceu ao evento em que o presidente reuniu líderes evangélicos — o parlamentar é bispo da Igreja Universal. Além disso, o presidenciável do Podemos, Sergio Moro, tem buscado pontes com o Republicanos.

Outro partido que pode ser beneficiado é o PP, do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira. A sigla deve ganhar o Ministério da Ciência e Tecnologia, no lugar de Marcos Pontes, que avalia concorrer a uma cadeira de deputado federal.

O Ministério da Agricultura também deve entrar no cálculo eleitoral. Há o desejo de negociar o cargo em troca da manutenção do apoio de ruralistas. Uma opção discutida no Palácio do Planalto é pedir uma indicação do governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), próximo ao setor, mas com a garantia de que ele dará palanque a Bolsonaro no estado. A ministra Tereza Cristina, no entanto, quer definir seu sucessor. O mais cotado é o secretário-executivo da pasta, Mauro Montes. O presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Geraldo Melo Filho, também é uma opção. Antes de comandar o órgão, ele foi assessor de Onyx Lorenzoni, à época titular da Casa Civil.

Apesar de usar parte dos ministérios para agradar a aliados, Bolsonaro também deve optar por soluções internas. Na Secretaria de Governo, o favorito para substituir Flávia Arruda (PL), que vai concorrer ao Senado pelo Distrito Federal, é o chefe de gabinete da Presidência, Célio Faria Júnior. Homem de confiança do presidente, Faria tem experiência no trato com parlamentares por ter trabalhado 20 anos na área de Relações Institucionais da Marinha.

Pelo novo desenho, a ideia é que o ministro Ciro Nogueira foque na articulação política, enquanto o futuro ocupante da Secretaria de Governo ficaria responsável pela distribuição de emendas e cargos. Na virada do ano, a repartição de verbas gerou atritos entre Nogueira e Flávia.

O presidente da Caixa, Pedro Guimarães, também pode ser “promovido” a ministro. Ele é cotado para assumir o Desenvolvimento Regional no lugar de Rogério Marinho, que pretende se candidatar ao Senado pelo Rio Grande do Norte. Presença constante nas “lives” presidenciais, Guimarães chegou a ser cotado para substituir Paulo Guedes no Ministério da Economia. Caso a ida do executivo para o ministério não se concretize, o plano alternativo do governo é deixar a pasta nas mãos de um dos senadores da tropa de choque.

Em alguns casos o substituto pode vir da equipe da própria pasta. Na semana passada, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, indicou que espera que seu secretário-executivo, Marcelo Sampaio, fique em seu lugar. Tarcísio vai concorrer ao governo de São Paulo.

No Turismo, o ministro Gilson Machado estuda concorrer ao Senado por Pernambuco. Seu sucessor pode ser o atual presidente da Embratur, Carlos Brito. Ontem, Bolsonaro confirmou que a chapa no estado terá Machado e, na condição de candidato ao governo, o prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira (PL). Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), que pode disputar o Senado pelo Amapá, tem o desejo de indicar uma outra mulher para ficar em seu lugar.

Uma das situações mais indefinidas é a da Defesa, cujo comando pode ficar vago caso Braga Netto seja escolhido para o posto de vice na chapa de Bolsonaro, como o presidente já indicou que deseja. O comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, teve o nome sugerido para a vaga, mas a intenção de Bolsonaro é manter a pasta com o Exército, por considerá-la a principal Força.

Por isso, o comandante do Exército, Paulo Sérgio Nogueira, pode ser o escolhido. Entretanto, pesa contra ele o fato de estar há pouco menos de um ano no cargo. Há o temor de haver um desgaste com uma nova mudança no comando em pouco tempo. Outras possibilidades entre os militares da ativa são os chefes do Estado Maior das Forças Armadas, general Laerte de Souza Santos, e do Exército, Marcos Antonio Amaro dos Santos.

Os ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral) e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) também são opções. Ramos, contudo, é visto entre os militares como um nome com viés político. Caso Heleno seja escolhido, haveria uma dança de cadeiras, e Ramos iria para o GSI.

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