Política

Quem é Da Cunha, o ‘delegado youtuber’ que virou deputado e réu por violência doméstica

O parlamentar é investigado por lesão corporal, ameaça, dano qualificado e também por crime de peculato

O deputado federal Delegado da Cunha. Foto: Reprodução
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Nascido em Santos, no litoral de São Paulo, Carlos Alberto da Cunha ganhou popularidade em meados de 2020, quando começou a exibir a rotina de operações policiais no YouTube.

Conhecido como Delegado ‘Da Cunha’, de 46 anos, ele atua na corporação há 18 anos, quando decidiu deixar a carreira de oficial do Exército para entrar na Polícia Civil.

Atualmente, com uma audiência de 308 milhões de visualizações em vídeos no YouTube, ele arrasta 8,6 milhões de seguidores, na soma de todas as redes sociais.

Com a fama na internet, Da Cunha abriu um curso de defesa pessoal, criou um podcast e lançou uma marca de roupas e acessórios, a “DC One”.

Além disso, o delegado licenciado foi eleito deputado federal em 2022 por São Paulo, com 181,5 mil votos.

De lá pra cá, Da Cunha já protagonizou diversas controvérsias. 

Em 2021, ao lado do ex-PM e ex-vereador Gabriel Monteiro (PSD-RJ) — atualmente, preso por estupro — Da Cunha afirmou que há “ratos” na polícia.

“O que a gente não pode é deixar de ir para a polícia, porque os ratos continuam mandando, tem que começar o processo de expulsão de rato. Quem é correto trabalha, e o rato que corra”, disse à época em um podcast. 

Por conta da afirmação, ele foi afastado das ruas e teve de entregar armas e distintivo. Somente em 2024, quase três anos depois do ocorrido é que a Polícia decidiu devolver os itens a Da Cunha

No mesmo ano, ele foi indiciado pela Corregedoria da Polícia Civil sobre a suspeita de ter cometido peculato, pois ele teria utilizado da estrutura da Polícia Civil para gravar vídeos de operações oficiais para o seu canal do YouTube, e com a monetização dos vídeos geraria um enriquecimento ilícito às custas da corporação.

Na época, a Corregedoria apontou que o salário de Da Cunha era de cerca de 10,5 mil reais e com o seu canal no YouTube recebia 500 mil reais por ano.

Mesmo fora da PM, enquanto deputado, ele continua gravando operações, o que para especialistas de segurança pública ouvidos por CartaCapital, pode ser considerado improbidade administrativa, em razão da monetização do canal.

Também em 2021, ele foi acusado de ter encenado e gravado a prisão de um refém e do chefe do PCC, para ganhar seguidores. Da Cunha confessou publicamente a encenação, mas alegou que se tratava de “uma reconstituição prevista em lei”. 

Nesse caso, ele também foi acusado de peculato, mas a Justiça de São Paulo arquivou essa acusação e manteve apenas a relação aos delitos de abuso de autoridade e violação de sigilo funcional.

O caso foi para o STF, mas voltou às mãos da Justiça paulistana

Outra investigação que mira Da Cunha é por agressão a sua namorada, Betina Grusiéck, ao qual manteve relação estável por três anos. 

Ela registrou um boletim de ocorrência em 14 de outubro de 2023, no aniversário de Da Cunha, dia da suposta agressão. 

De acordo com o boletim, a ex-companheira conta que ele voltou alcoolizado para casa depois de um passeio com os filhos e passou a ofendê-la.

Uma gravação mostra quando Da Cunha ameaça a mulher: “Pode parar. Pode parar, senão vou te matar aqui“. 

Betina relata que perdeu a consciência após levar diversos golpes do seu ex companheiro — ele bateu a cabeça dela na parede e a enforcou. 

A vítima diz ter desmaiado e, caída no chão, conseguiu retomar a consciência, quando o viu batendo a cabeça dela contra a parede. Nesse momento a voz dele surge no vídeo dizendo “Desmaia aí. Desmaia aí. A tua conta já deu.”

No boletim é dito que Da Cunha tinha consumido bebida alcoólica, “promoveu uma discussão e atacou a honra [de sua companheira]”. 

Na época, Da Cunha negou a agressão e mencionou que sua ex-companheira lutava muay thay e ele, na verdade, é quem estava machucado.

Em nota, o advogado Eugênio Malavasi disse ainda que Da Cunha “não nega agressões verbais”, mas afirma que o cliente não teria agredido fisicamente a ex-mulher. A Justiça então concedeu uma medida protetiva de urgência à Betina e proibiu Da Cunha de se aproximar dela.

Com a gravidade do caso, Da Cunha deve perder o mandato?

Até o momento, o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados não recebeu nenhum pedido de investigação contra Da Cunha. Dessa forma, o parlamentar segue no cargo. 

Além disso, não existe nenhuma lei para afastar um parlamentar do cargo por acusação e até condenação por violência doméstica. 

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