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Proposta da UE para Mercosul é “inaceitável” e países devem abrir mão de “protecionismo”, diz Lula

O presidente brasileiro diz que o Mercosul prepara uma resposta aos europeus e defende que as negociações possam ser benéficas para ambos

Foto: Ricardo Stuckert/PR
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Em Roma, durante uma entrevista coletiva, o presidente Lula falou sobre a importância das relações bilaterais entre o Brasil e a Itália e também sobre as negociações do acordo entre a União Europeia e o Mercosul. O chefe de Estado brasileiro considerou “inaceitável” a proposta enviada pelos europeus. Lula, que chega a Paris nesta quinta-feira (22) para participar de uma Cúpula sobre o Novo Pacto Global de Financiamento, não poupou críticas ao governo francês e ao presidente Emmanuel Macron, com quem terá um encontro bilateral.

“A carta adicional que a União Europeia enviou ao Mercosul é inaceitável”, declarou Lula sobre o documento. No texto, o bloco faz novas exigências, principalmente em relação a questões ambientais. “É inaceitável”, diz Lula. Segundo ele, os europeus estabelecem “punições”, que eles próprios não respeitam, aos países que não cumprem o Acordo de Paris.

O presidente brasileiro diz que o Mercosul prepara uma resposta aos europeus e defende que as negociações possam ser benéficas para ambos. Na sequência, comentou que irá abordar o tema na reunião que terá com o presidente Macron, que o receberá para um encontro bilateral na sexta-feira (23) no Palácio do Eliseu.

“A França é muito dura na defesa de seus interesses agrícolas”, declarou. “Mas precisa entender que os outros também defendem suas agriculturas”, acrescentou, dizendo que cada país deve abrir mão de seu “protecionismo”, em alusão à postura dos franceses. Recentemente, o parlamento francês aprovou uma resolução pedindo ao governo Macron para se posicionar contra o acordo, alegando assimetrias e falta de reciprocidade no cumprimento das regras ambientais e sanitárias vigentes na Europa.

Guerra na Ucrânia

Na coletiva concedida antes de embarcar para Paris, Lula também lembrou de seu encontro com o Papa Francisco, com quem se diz alinhado na busca pela paz na Ucrânia. O presidente afirmou que o papa é “a maior autoridade política da Terra” e que é sua “participação no processo de paz é extremamente importante. O investimento em guerra não faz sentido com “tanta fome no mundo”, ressaltou.

Foto: Vatican Media/AFP

Um dos compromissos de Lula na Itália foi um encontro com o prefeito de Roma, Roberto Gualtieri, que também já foi ministro da Fazenda e que visitou Lula quando ele estava preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba (PR). “Foi uma visita mais pessoal, de solidariedade. Uma visita de agradecimento e gratidão”, comentou.

Durante a entrevista, Lula também lembrou da herança da imigração italiana e falou sobre a cooperação entre os dois países, que têm um fluxo comercial de cerca de € 10,5 bilhões. Para o presidente, há potencial para aumentar os negócios entre os dois países e essa possibilidade foi discutida durante a reunião com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni.

Mudanças climáticas

As mudanças climáticas também estiveram no centro das discussões entre Lula e a premiê italiana, além da realização da COP de 2030 na Amazônia. Sobre essa questão, Lula mandou um recado para muitos líderes mundiais.

“Todas as pessoas que falam muito da Amazônia, que defendem muito a Amazônia, mas que não conhecem a Amazônia, terão a chance de colocar os pés no estado do Pará, na cidade de Belém, e ver de perto o que é a grandiosidade da Amazônia”, disse.

“Assim poderemos discutir com seriedade a questão climática. Não se trata apenas da preservação da floresta, mas de explorar cientificamente a riqueza da biodiversidade e saber se ela permitirá que sejam criadas condições econômicas para os 28 milhões de brasileiros que moram na Amazônia brasileira”, declarou.

Lula também lembrou que o território da Guiana francesa faz com que a França tenha a maior fronteira do mundo com o Brasil. Por isso, o país será convidado a participar da Cúpula Regional sobre a Amazônia, em agosto. Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela são convidados. O objetivo é antecipar necessidades para a região que serão levadas aos futuros debates climáticos em reuniões mundiais.

Economia verde

Lula também lembrou que a economia verde “deve existir de verdade”, e a transição energética pode ser um motor para os países em desenvolvimento. “Os países desenvolvidos, que já desmataram suas florestas e há 200 anos estão industrializados têm uma dívida histórica com o planeta. Mais do que um país que começou a se industrializar agora”, diz.

“Essa gente tem que pagar um pouco aquilo que poluiu no passado, aquilo que emitiram em termos de gases de efeito estufa, para haver uma compensação e para que possam ajudar os países mais pobres, da América Latina ou do continente africano, que precisam muito de investimentos e de incentivo e onde podemos fazer a chamada agricultura de baixo carbono”, declarou.

O presidente lembrou que o Brasil presidirá o G20 e a Itália o G7 no próximo ano, e isso será uma oportunidade para reforçar os laços bilaterais e estabelecer “uma relação mais moderna e civilizada entre a União Europeia e a América Latina”, frisou. O Brasil e os países latino-americanos, diz, querem retomar sua capacidade de industrialização, citando a diminuição do PIB.

Críticas à ONU

Durante a coletiva, Lula voltou a criticar a ONU. “Virou moda que os países membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU ataquem outros países”, disse, citando a invasão do Iraque pelos EUA e a da Ucrânia pela Rússia.

Neste contexto, frisou o Brasil defende uma nova governança mundial, com nações africanas e da América Latina, ou ainda a Índia. “O mundo mudou e a geopolítica precisa ser levada em conta para se construir uma instituição da importância da ONU, que teve competência para criar o Estado de Israel, mas não teve competência para criar o Estado Palestino.”

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