Política

Por que ex-ministro da Defesa entrou no radar da PF e deve ser chamado a depor

Declarações do hacker Walter Delgatti continuam a gerar repercussão na política e na caserna

O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira. Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil
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A Polícia Federal deve convocar o general Paulo Sergio Nogueira de Oliveira, ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército, a prestar depoimento sobre as visitas do hacker Walter Delgatti à pasta, em 2022. A data da oitiva ainda não foi definida.

À CPMI do 8 de Janeiro, Delgatti afirmou ter se reunido cinco vezes com técnicos do Ministério da Defesa e relatou uma conversa com Nogueira.

Conforme a versão do hacker, em 10 de agosto do ano passado o então presidente Jair Bolsonaro reforçou a ele um pedido: auxiliar técnicos do ministério a apontar ao Tribunal Superior Eleitoral uma suposta fragilidade nas urnas eletrônicas.

Além de Bolsonaro, participaram da reunião, de acordo com Delgatti, a deputada Carla Zambelli (PL-SP), o tenente-coronel Mauro Cid e o coronel do Exército Marcelo Câmara, ambos auxiliares do ex-capitão.

O incumbido de levar Delgatti à Defesa seria Câmara. À CPMI, o hacker declarou que entrava na sede da pasta pela porta dos fundos, afirmação repetida em depoimento à Polícia Federal. O objetivo seria evitar o registro de sua chegada nos sitemas da portaria central.

O suposto plano mirabolante do QG bolsonarista – e que teria sido discutido na Defesa – envolveria a implantação de um “código malicioso” em uma urna eletrônica para gerar dúvida sobre a integridade do sistema entre eleitores.

Walter Delgatti também sustenta ter “orientado” a produção do relatório do Ministério da Defesa sobe as urnas, entregue ao TSE em novembro de 2022. A auditoria dos militares não identificou qualquer fraude no pleito, mas, ao contrário do monitoramento de outras entidades, levantou especulações e apresentou uma série de “recomendações”.

Após o depoimento de Delgatti, o deputado Duarte Jr. (PSB-MA) protocolou um pedido de convocação de Nogueira à CPMI. Segundo o parlamentar, “as denúncias são extremamente graves”, por envolverem “a atuação de uma pessoa estranha à estrutura do governo, manipulando dados e documentos oficiais do Ministério da Defesa”.

Paulo Sergio Nogueira foi mencionado diretamente por Delgatti ao longo de seu depoimento à comissão parlamentar. Em uma das citações, o hacker havia sido questionado sobre as pessoas com quem conversou no Ministério da Defesa.

“Eu falei com o ministro Nogueira, o Paulo Sérgio Nogueira, e também com o pessoal da TI [Tecnologia da Informação]”, respondeu o depoente.

A Polícia Federal buscará, portanto, identificar se Nogueira de fato se envolveu nas tratativas com o hacker para minar a confiança do eleitorado no sistema de votação. Essa apuração envolverá o contexto de produção do relatório dos militares sobre as urnas.

Nos últimos dias, o atual ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, reforçou um pedido para a PF enviar as informações sobre as reuniões de Delgatti na sede da pasta em 2022. Ele quer uma lista de integrantes do ministério – inclusive militares – que participaram das conversas.

O movimento sugere a possibilidade de avançar na responsabilização de membros da caserna que eventualmente tenham se engajado em conspirações antidemocráticas no ano passado. Enquanto isso, diante do impacto negativo dos recentes acontecimentos sobre o prestígio do Exército, o comandante da Força, general Tomás Ribeiro Paiva, assinou um documento interno no qual afirma que os quadros devem pautar suas ações pela legalidade e pela legitimidade.

Paiva cobrou a adoção de algumas medidas, entre elas a intensificação de ações para “a proteção e o fortalecimento da imagem e da reputação”, a fim de evitar a “desinformação”. Defendeu também atuar em conjunto com a Marinha e a Aeronáutica para garantir um sistema de proteção social “adequado às necessidades da Família Militar”.

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