Política
PF prende ‘careca do INSS’ em nova fase da operação contra fraude em aposentadorias
Ele é considerado um dos principais operadores do esquema contra a Previdência


A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira 12 o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como ‘careca do INSS’. Ele é apontado como o principal operador da fraude em aposentadorias e pensões.
O ‘careca’ foi preso em Brasília, onde os agentes também cumprem mandados de busca e apreensão. As medidas foram autorizadas pelo Supremo Tribunal Federal: são dois mandados de prisão preventiva e 13 de busca e apreensão.
O outro alvo de prisão, segundo o site G1, é o empresário Maurício Camisotti, ligado ao ramo de seguros e planos de saúde. A PF, no entanto, ainda não confirma a identidade do preso. Ele teria sido capturado em São Paulo.
Em nota, a corporação se limitou a dizer que a ação desta sexta é um desdobramento da Operação Sem Desconto, que revelou a fraude no INSS, e que “apura os crimes de impedimento ou embaraço de investigação de organização criminosa, dilapidação e ocultação de patrimônio”. Os agentes também investigam uma “possível obstrução da investigação por parte de alguns investigados”.
Ferrari apreendida pela PF durante nova fase da operação contra fraude no INSS. Foto: Divulgação/PF
Carros de luxo, entre eles uma Ferrari e um automóvel semelhante aos usados em corridas de Fórmula 1, foram apreendidos durante as buscas. Os agentes ainda levaram uma quantia em dinheiro, ainda não especificada, e relógios de luxo. Os itens aparecem em imagens divulgadas pela corporação.
Carro apreendido pela PF durante nova fase da operação contra fraude no INSS. Foto: Divulgação/PF
As defesas dos citados não foram localizadas. O espaço segue aberto para manifestações.
A fraude
O esquema investigado pela PF indica que, ao longo dos últimos anos, parte dos aposentados e pensionistas do INSS teriam sido vítimas de fraude, que promovia descontos ilegais dos benefícios. Entidades associativas e sindicatos teriam sido usados no esquema, além de empresas de fachada. Estima-se que o rombo causo é de 6,3 bilhões de reais.
O caso gerou a queda do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto. Dias depois, a crise aberta pelas investigações derrubou o então ministro da Previdência Carlos Lupi. Mais tarde, uma CPMI foi aberta no Congresso Nacional para investigar a fraude. O colegiado, em que governistas e oposições travam um embate público, está em funcionamento.
Quem é o ‘careca do INSS’
Antonio Carlos Camilo Antunes é um empresário apontado pela PF como figura central do esquema de fraudes que pode ter movimentado mais de 6 bilhões de reais de beneficiários da Previdência.
Apesar do apelido, ele jamais foi servidor do órgão. Seu envolvimento com a Previdência, segundo a PF, aconteceu por meio das empresas de que era sócio e que atuavam como intermediárias das entidades associativas no esquema.
Segundo a PF, as 22 empresas das quais o “careca do INSS” é sócio podem ter movimentado 53,5 milhões de reais. Os valores recebidos, de acordo com a corporação, eram repassados no mesmo dia, de forma a manter as contas bancárias praticamente sem fundos. Para os agentes, isso é indício de urgência em dificultar o rastreamento.
Há também registros de participações do ‘careca do INSS’ em empresa montada em paraíso fiscal.
Quem é Maurício Camisotti
Maurício Camisotti é um empresário ligado ao ramo de seguros e planos de saúde. Ele já havia sido alvo da CPI da Covid-19, quando apareceu como financiador da Precisa Medicamentos e um dos envolvidos no esquema de propina e superfaturamento na compra da vacina Covaxin durante o governo de Jair Bolsonaro (PL).
No esquema investigado no INSS, o papel de Camisotti, segundo apontam as primeiras investigações, seria o de lavar o dinheiro de uma das entidades envolvidas na fraude. Ele usaria diferentes empresas em nomes de familiares para receber e lavar dinheiro da Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec). A entidade é comandada por parentes do empresário e faturou, segundo a Polícia Federal, 178 milhões de reais com descontos de aposentadorias entre 2019 e 2024. Há pelo menos 2 mil reclamações contra a Ambec.
Apoie o jornalismo que chama as coisas pelo nome
Depois de anos bicudos, voltamos a um Brasil minimamente normal. Este novo normal, contudo, segue repleto de incertezas. A ameaça bolsonarista persiste e os apetites do mercado e do Congresso continuam a pressionar o governo. Lá fora, o avanço global da extrema-direita e a brutalidade em Gaza e na Ucrânia arriscam implodir os frágeis alicerces da governança mundial.
CartaCapital não tem o apoio de bancos e fundações. Sobrevive, unicamente, da venda de anúncios e projetos e das contribuições de seus leitores. E seu apoio, leitor, é cada vez mais fundamental.
Não deixe a Carta parar. Se você valoriza o bom jornalismo, nos ajude a seguir lutando. Assine a edição semanal da revista ou contribua com o quanto puder.