Política
Parlamentares do PL são responsáveis por metade das fake news disseminadas por políticos
A partir de ações judiciais contra fake news, um consórcio de veículos revelou o perfil dos principais vetores de desinformação política. Apesar dos processos, 80% dos perfis continuam ativos
Nos últimos três anos, o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral analisaram 480 ações sobre fake news, que envolvem ao todo 314 envolvidos – sendo 270 pessoas físicas e 44 pessoas jurídicas e órgãos do governo.
Deste universo, 70 são perfis de parlamentares, partidos e afins. E entre os políticos, o Partido Liberal, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, é responsável por 49% da criação e disseminação de mentiras nas redes.
É o que mostra um levantamento exclusivo da Agência Pública, do portal UOL e outros 22 veículos da América Latina. Também integram a reportagem outras quatro organizações especializadas em investigação digital sob a liderança do Centro Latino-Americano de Investigação Jornalística (Clip).
Para chegar a estes dados, os repórteres consideraram decisões do STF, do TSE e do relatório final da CPI da Covid, enviado à Suprema Corte entre janeiro de 2020 a janeiro de 2023.
O número destas denúncias por fake news, pode ser ainda maior, porque ainda existem as 1.051 denúncias do 8 de Janeiro, ao qual, também são investigadas a propagação de desinformação.
Apesar de listado por compartilhamento de informações falsas, os documentos mostram que o presidente Lula também aparece como maior foco de desinformação nas redes sociais, alvo de 112 pessoas e empresas nos processos.
PL, o desinformante
O Partido Liberal, ex-presidente Jair Bolsonaro, acumula 34 dos 70 processos contra fake news disseminada por políticos. O que simboliza 49% do total.
No clã Bolsonaro, o ex-capitão foi penalizado com multas no valor de 30 mil e 5.000 reais por espalhar notícias falsas na internet, como a que vinculava a ida do presidente Lula ao Complexo do Alemão, o CPX, a ligação com a facção criminosa do PCC.
Os filhos dele, Carlos, Eduardo e Flávio, tiveram conteúdo removido e foram multados. Carlos e Flávio compartilharam postagens que afirmavam que Lula bebia álcool antes de atos de campanha, por exemplo, sem provas. Flávio e Eduardo precisaram pagar 30 mil reais por compartilhar conteúdo que associava o presidente a drogas e ao aborto.
Além destes, ex-integrantes da gestão Bolsonaro também entram na lista, como a senadora e ex-ministra Damares Alves, o ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem, além de outros ex-ministros como Mário Frias, Ricardo Salles e Eduardo Pazuello. Há também antigos aliados do ex-presidente: Carla Zambelli, Bia Kicis, Carlos Jordy e Filipe Barros.
Os outros políticos penalizados fazem parte do:
- Republicanos (6);
- PTB (5);
- PT (4);
- União Brasil (4);
- Podemos (3);
- MDB (3);
- Progressistas (2);
- Democracia Cristã (2);
- Avante, Novo, PCdoB, PSB, PSD e PSC aparecem com um nome cada um.
Políticos são menos penalizados
As decisões das cortes incluem sanções que vão desde a cassação de mandato, ordem de busca e apreensão, retirada de conteúdo falso das redes sociais, até o bloqueio de contas bancárias, de perfis e a desmonetização de canais no YouTube com aplicação de multas.
Ainda no levantamento feito pelo consórcio de veículos, 79,8% dos perfis penalizados continuam ativos em pelo menos uma rede social.
Desses, mais da metade são indivíduos, o que inclui pessoas comuns e influenciadores. Um quarto são políticos. Em seguida, as empresas — 23 das 260 redes que permanecem ativas — que incluem sites bolsonaristas, e 13 perfis de pessoas que fizeram parte do governo Bolsonaro, como os ex-ministros Abraham Weintraub, Onyx Lorenzoni e Osmar Terra.
Entre os perfis que permaneceram bloqueados, 66 ao todo, apenas quatro são de políticos (5,6%). Logo, a reportagem mostra que a chance de um político ter sua rede social desativada por disseminar notícias falsas é quatro vezes menor do que a de outros atores, como indivíduos, empresários ou empresas (24,3%).
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