Ministros da Defesa levam parentes e filho de Bolsonaro em voos da FAB

‘Caronas’ em voos oficiais não são ilegais, mas chegaram a ser chamadas de ‘imorais’ até pelo presidente. Ex-capitão prometeu endurecer regras, mas não cumpriu

Foto: Marcos Corrêa/PR

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Os ministros da Defesa de Jair Bolsonaro, os generais Fernando Azevedo e Silva e Walter Braga Netto, deram ‘caronas’ para seus parentes e até para o filho mais novo do presidente, Jair Renan, em voos da Força Aérea Brasileira (FAB). A prática já foi classificada como ‘imoral’ até por Bolsonaro, que prometeu endurecer regras, mas não cumpriu. As informações dos voos foram revelados pelo jornal Folha de S.Paulo nesta quarta-feira 2, que obteve os dados por Lei de Acesso à Informação.

Entre agosto de 2020 e março de 2021, o ex-ministro da Defesa, general Azevedo e Silva, levou a esposa 12 vezes em viagens oficiais. Todos os deslocamentos foram entre Brasília e Rio de Janeiro. As motivações para que a esposa o acompanhasse não foram reveladas. Os compromissos do general sempre foram relacionados a formaturas e outras cerimônias militares. O filho do general também esteve em uma das viagens.

Braga Netto, que antes ocupava a Casa Civil e foi levado à Defesa após a saída de Azevedo, repetiu ‘os feitos’ do antecessor e levou a esposa em voos da FAB em ao menos 14 ocasiões como ministro da Defesa. Ela já o havia acompanhado em quatro ocasiões quando ele chefiou a Casa Civil. Novamente, as motivações para ‘a carona’ não foram reveladas. Uma filha também acompanhou Braga Netto em um dos voos. Os registros de Braga Netto vão de maio a novembro de 2021. O general é cotado para ocupar o cargo de vice na chapa de Bolsonaro em outubro de 2022.

O militar atual comandante da Defesa também foi acompanhado de Jair Renan, filho mais novo de Bolsonaro, em dois trajetos. O ‘filho 04’ também esteve em voos liderados por Damares Alves e pelo Ministério das Relações Exteriores. O jovem já pegou ‘carona’ em aviões da FAB em ao menos cinco ocasiões. Ele é investigado por suposto tráfico de influência em Brasília.

‘Caronas’ em voos oficiais não são ilegais, mas chegaram a ser chamadas de ‘imorais’ até por Bolsonaro. A avaliação foi feita no episódio em que o amigo da família, Vicente Santini, usou um jato da FAB para se deslocar. O desgaste causado pelo episódio gerou a demissão do advogado que ocupava o cargo de secretário-executivo da Casa Civil.

Abafado o caso, Santini voltou ao governo e atualmente é o número 2 no Ministério da Justiça. Antes, ocupou uma cadeira no primeiro escalão do Ministério do Meio Ambiente.


O presidente, antes mesmo de assumir o cargo, prometeu endurecer as regras para evitar ‘caronas’ em voos da FAB. Na prática, porém, nunca cumpriu a promessa e a ‘mamata’ em voos da Força Aérea tem ocorrido desde o início do seu governo por diferentes integrantes. Um helicóptero do governo chegou a levar convidados de Eduardo Bolsonaro para o seu casamento. Bolsonaro evitou falar mais profundamente do tema, justificou como ‘medida de segurança’ e classificou os questionamentos sobre o caso como ‘idiotas’.

Mais recentemente, também contrariando as promessas, afrouxou as regras e liberou voos de ministros em classe executiva para viagens internacionais.

Vale ressaltar ainda que os registros não contemplam o ano de 2019. A Defesa alega que, neste período, não eram obrigatórios. A pasta também diz que os ‘caroneiros’ ocuparam vagas remanescentes, como permitem as regras. Os critérios, no entanto, são um tanto quanto obscuros.

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