Política

Indígenas celebram, ruralistas querem dar o troco via Congresso: as reações à rejeição do Marco Temporal

O Supremo Tribunal Federal rechaçou a tese, mas voltará a se reunir para discutir indenizações

Protesto contra o Marco Temporal em junho de 2023. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
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A tese do Marco Temporal, que restringia a demarcação de terras indígenas à data de promulgação da Constituição, foi derrubada pela maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal em julgamento nesta quinta-feira 21. A decisão repercutiu entre lideranças indígenas e políticos de todos os espectros.

A discussão chegou à mais alta Corte do País por meio de uma ação de reintegração de posse movida pelo governo de Santa Catarina contra o povo Xokleng, referente à TI Ibirama-Laklãnõ, onde também vivem indígenas Guarani e Kaingang.

Votaram contra a tese os ministros Edson Fachin, Alexandre de Moraes, Cristiano Zanin, Luís Roberto Barroso, Dias Toffoli, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Rosa Weber. Apenas André Mendonça e Kassio Nunes Marques se manifestaram a favor do marco.

A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), comemorou o entendimento firmado pelo Supremo e disse que a decisão representa uma “vitória dos povos indígenas e do respeito ao seu modo de vida”. A ministra Margareth Menezes (Cultura) destacou que a “derrubada do Marco Temporal é resultado da resistência dos povos indígenas”.

A porta-voz do Greenpeace Brasil, Ariene Susui, classificou a decisão do Supremo como uma vitória.

“Quem ganha somos todos nós, porque promover os direitos indígenas significa, sobretudo, a defesa de direitos constitucionais. Rejeitar o marco temporal é assegurar direitos de toda a sociedade, pois direitos conquistados não devem ser questionados e sim cumpridos”, afirmou.

Presidenta nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR) pontuou que a decisão representa a garantia do direito à terra aos povos originários. A parlamentar ponderou, contudo, que é preciso prestar “atenção no Senado para evitar o retrocesso de invasores, desmatadores e garimpeiros”.

A manifestação de Gleisi está relacionada à tramitação de um projeto de lei a tratar exatamente do Marco Temporal. O texto original da proposta, que conta com parecer favorável do senador Marcos Rogério (PL-RO), foi aprovado no mês passado pela Comissão de Agricultura e se encaminha para ser analisado pela CCJ.

Para se contrapor à proposta, a deputada Célia Xakriabá (PSOL-SP) apresentou uma matéria a prever o reconhecimento do Direito Territorial Originário dos Povos Indígenas e a criação do “Marco Temporal do Genocídio Indígena”.

O coordenador Articulação dos Povos Indígenas, Kleber Karipuna, também adotou cautela ao comemorar a decisão do STF e ressaltou que as comunidades seguem “preocupadas com as outras movimentações, os possíveis fechamentos para esse grande acórdão, principalmente relacionada na questão da indenização”.

A Corte, apesar de formar uma maioria contra a tese, ainda deve buscar um consenso sobre as indenizações a serem pagas. O assunto tende a voltar à pauta na semana que vem.

Se o entendimento do Supremo contra o Marco Temporal agradou lideranças indígenas e de esquerda, irritou parlamentares ligados à bancada ruralista.

Horas após o STF formar maioria, o presidente da bancada ruralista da Câmara, Pedro Lupion (PP-PR), foi às redes sociais e afirmou que a “segurança jurídica e os produtores rurais foram severamente golpeados hoje”. O parlamentar ainda disse que pretende articular a aprovação de um projeto para “modular” a decisão da Corte.

“O que o STF está fazendo é criar uma barbárie no campo. É uma insegurança jurídica total. Sem previsão de indenização, sem qualquer garantia aos produtores. Eles podem perder suas áreas sem qualquer satisfação ao cidadão”, declarou.

Na mesma linha, o deputado federal Ricardo Salles (PL) defendeu que o tema fosse decidido no Congresso Nacional. “A ausência do Marco Temporal gera insegurança jurídica para o Brasil. Isto cria a possibilidade de transformar qualquer território, independente do uso atual, em terra indígena”, disse ao jornal O Globo.

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