Política

Haddad e Tarcísio fazem o último debate antes do 2º turno; confira os destaques

O 1º turno terminou com a vitória do bolsonarista, com 42,32% dos votos válidos, ante 35,70% do petista

Foto: Reprodução/TV Globo
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O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) e o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) se enfrentam, nesta quinta-feira 27, no último debate do segundo turno da disputa pelo governo paulista. O encontro é promovido pela TV Globo.

Em 2 de outubro, o primeiro turno terminou com a vitória do bolsonarista, com 42,32% dos votos válidos, ante 35,70% do petista. Em terceiro, ficou o governador Rodrigo Garcia (PSDB), com 18,40%.

Segundo uma pesquisa Atlas Intel divulgada nesta quinta, Haddad variou positivamente em dois pontos suas intenções de voto e chegou aos 44,7%,contra 51,7% de Tarcísio. No levantamento anterior, de 13 de outubro, o placar era de 53,2% para o bolsonarista e 42,4% para o petista. A vantagem de Tarcísio foi reduzida, então, de 10,8 para 7 pontos.

Confira os destaques do debate desta quinta:

Considerações finais

Em sua última intervenção, Tarcísio afirmou haver “duas linhas” para o estado: “A linha do verde e amarelo, a linha do vermelho; a linha da esperança, a linha do medo; a linha da prosperidade versus a linha do atraso; a linha da livre iniciativa versus a linha do Estado gigante, das obras que vão ficar inacabadas, de uma pessoa que não sabe fazer, porque quando esteve na Prefeitura, não fez”.

Ele defendeu o governo de Jair Bolsonaro (PL) e alegou ter “um plano de governo focado no social, para cuidar das pessoas e gerar emprego fortemente”.

Haddad encerrou sua participação dizendo que esta “é a eleição das nossas vidas” e que “o mundo inteiro está olhando para o Brasil e para São Paulo”.

“São Paulo é o estado onde eu nasci, casei, criei meus filhos, eduquei meus filhos, fiz minha vida”, afirmou o petista. “Deixei um legado por onde passei para São Paulo. Compare o que eu fiz por São Paulo com o que meu adversário fez. Rigorosamente nada. Teve quatro anos e voltou as costas para o estado. Só recentemente decidiu ser governador. Ele ia ser senador lá em Goiás”.

Haddad declarou ter certeza de que “quando houver harmonia entre o governo federal e o estadual, vamos acelerar o ritmo da mudança”.

O equívoco do bolsonarista

Tarcísio leu trechos de um documento enviado por economistas à campanha de Lula com sugestões sobre a área. O bolsonarista questionou Haddad, que deixou claro o fato de a peça não ser um programa de governo de Lula.

“Ele pega um documento de contribuição de economistas e quer que eu, que não assinei o documento, responda? Eu não li esse documento. Se você quiser que eu responda sobre o meu plano de governo ou sobre o plano de governo do presidente Lula, eu respondo. Agora, esse tipo de pegadinha não faz o menor sentido”.

Tiroteio em Paraisópolis

Haddad começou a abordar o tiroteio que interrompeu uma agenda de campanha de Tarcísio em Paraisópolis, na Zona Oeste da cidade de São Paulo, em 17 de outubro. Nesta semana, a Folha de S.Paulo publicou um áudio em que um integrante da equipe do bolsonarista pediu que um cinegrafista apagasse imagens gravadas no local.

“Ele pediu: apague isso, apague aquilo. Por preocupação com as pessoas. Porque lá tinha equipe de produção, de comunicação, outros profissionais. A campanha vai acabar, mas a vida das pessoas prossegue. A preocupação foi com a segurança, porque no final fomos abordados por criminosos”, disse Tarcísio.

Segundo Haddad, há uma divergência entre os candidatos sobre segurança pública: “Se você tem uma imagem que acha que pode colocar em risco a vida de alguém, para quem você leva? Você apaga ou leva para a autoridade policial? É a autoridade policial que decide manter ou não em sigilo aquela imagem. Esse procedimento que ele acabou de relatar é um absurdo. Pergunte para qualquer criminalista se uma pessoa pode levar uma pessoa para o comitê do candidato e determinar que ela apague uma imagem que pode ser útil para o investigador concluir o que aconteceu”.

O petista acrescentou: “A partir do momento em que você vai catando coisa do chão, desligando câmera, tirando câmera do uniforme, jogando fora as coisas, você compromete a investigação. Isso gera suspeição. Hoje a sociedade paulista está se perguntando: por que isso aconteceu?”.

Cracolândia

Como de praxe, Tarcísio recorreu a chavões da extrema-direita para atacar o programa de assistência social Braços Abertos, criado por Haddad durante sua gestão como prefeito de São Paulo. Entre as alegações infundadas, está a de que a ação concederia “bolsas” para dependentes químicos.

“Como é que você me fala uma coisa dessa aqui? É mentira”, devolveu o petista. “Tem um estudo que mostra que dois de três beneficiários do programa reduziram o consumo e entraram na frente de trabalho. A pessoa passou a ver a vida de outra maneira, se reconciliou com a família, se dedicou mais ao trabalho e menos à droga. Ela foi se recuperando. É uma política de redução de danos”, acrescentou, mencionando o reconhecimento internacional do programa.

Passado de Tarcísio volta à tona

Haddad ironizou a falta de experiência do adversário no estado: “Você fala de uma quantidade enorme de obras que decorou, mas não fez. Sei que você está dedicado a decorar nome de cidade, nome de obras. Você é disciplinado para decorar, mas não conhece as coisas de que está falando”.

Tarcísio nasceu no Rio de Janeiro e morava em Brasília até iniciar a campanha. Neste ano, transferiu o seu domicílio eleitoral para São José dos Campos.

Continua a nacionalização

Tarcísio insistiu em ataques a Lula e ao PT. Alegou que o partido está “preso há 40 anos na mesma pessoa” e citou os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci.

Haddad disse querer debater propostas e, sem se estender, mencionou aliados de Bolsonaro como Roberto Jefferson (PTB) e Valdemar da Costa Neto (PL).

Neoliberalismo

Haddad fez duras críticas à proposta de privatização da Sabesp. Tarcísio, defensor da política neoliberal de Paulo Guedes, alegou que as ideias do PT estariam “velhas”.

“Velha é a ideia do meu adversário”, devolveu Haddad. “Se você procurar nesta semana uma reportagem na Folha de S.Paulo, vai verificar que houve a reestatização de 226 companhias de fornecimento de água no mundo. O mundo moderno concluiu que essa ideia [da privatização no setor] deu errado.”

Montagem do governo

Haddad vê como “desrespeito ao eleitor” o fato de Tarcísio defender a indicação, antes da eleição, de quem comporia o secretariado.

“O eleitor é que vai dar o veredito sobre quem vai governar. Você acabou de chegar aqui, tem ideias abstratas sobre a Sabesp. Quer vender nosso principal patrimônio, quer tirar a câmera do policial, quer desobrigar a vacinação, não quer controlar a frequência escolar. Fico me perguntando: que tipo de secretário você vai ter?”, questionou o petista.

“Posso dizer que o ministro da Economia do Lula não será o Guedes. Não conheci ninguém mais cruel com os pobres do que o Guedes”, prosseguiu Haddad. “Matéria da Folha dizendo que vazou um estudo da Economia de desvinculação do salário mínimo e da aposentadoria da inflação. Quem vai pagar a conta são dezenas de milhões de brasileiros que ganham salário mínimo e não viram a cor do reajuste.”

Haddad crítica passagem de Tarcísio pelo Ministério da Infraestrutura

“Você diz que recebemos 20% dos recursos do SUS, mas somos 22% da população. Você não destinou absolutamente nada para a infraestrutura do estado. Não fez escola técnica, não fez hospital, não fez um quilômetro de ferrovia para passageiro, trem entre cidades, não botou um centavo no Metrô. O governo federal não tem colocado nenhum dinheiro em São Paulo”, afirmou o petista.

Tarcísio listou obras que, segundo ele, teriam representado um investimento de 50 bilhões de reais. Entre elas, porém, está a privatização do Porto de Santos, “que vai sair”.

Haddad ironizou: “50 bilhões em 30 anos e nada por enquanto”.

Tarcísio provoca

Após nova crítica de Haddad ao orçamento secreto, Tarcísio afirmou que o adversário “tem fixação por falar do presidente Bolsonaro”.

“Acho que você devia disputar de novo a Presidência. Disputou em 2018, perdeu para o presidente Bolsonaro, mas me parece que não se acostumou com a ideia. Supera, Haddad. Vamos discutir São Paulo”, acrescentou o candidato do Republicanos.

O passado do bolsonarista

“Você não conhece São Paulo, não conhece a capital, o interior, o litoral. Você se mudou há seis meses para cá”, afirmou Haddad a Tarcísio.

Após o bolsonarista fazer promessas sobre o combate ao déficit habitacional, Haddad emendou: “Isso está no Orçamento do ano que vem que vocês mandaram para o Congresso? Cadê a rubrica? Não tem para o salário mínimo, o Minha Casa, Minha Vida, o Farmácia Popular. Vocês não deixaram dinheiro para nada. Só na mão do relator, com o orçamento secreto. É de orçamento secreto que vocês entendem”.

Tarcísio nasceu no Rio de Janeiro e morava em Brasília até iniciar a campanha. Neste ano, transferiu o seu domicílio eleitoral para São José dos Campos.

Pessoas em situação de rua

Tarcísio afirmou que Haddad, na condição de prefeito de São Paulo, “não conseguiu resolver o problema da habitação”. Perguntou, então, como o petista lidaria com o assunto no governo.

Haddad retomou a nacionalização do debate em sua resposta: “Você falar de habitação é covardia. Vocês acabaram com o Minha Casa, Minha Vida. Como vai fazer habitação sem o Minha Casa, Minha Vida? Você vai votar no Lula no domingo, então, porque a única maneira de voltar a fazer habitação para população de 0 a 3 [salários mínimos] é elegendo o presidente Lula”.

O bolsonarista exaltou o programa Casa Verde e Amarela, criado pelo governo Bolsonaro.

Nacionalização dá o tom

No fim do primeiro debate, Tarcísio citou o Auxílio Brasil, o Pix e o perdão das dívidas do Fies para exaltar o governo Bolsonaro.

Haddad manteve o foco na perda do poder de compra da população e no negacionismo do governo do ex-capitão ao longo da pandemia, como na crise de oxigênio em Manaus (AM) e na demora para concretizar a compra de vacinas.

Os clichês do bolsonarismo

Em mais uma tentativa de criminalização dos movimentos sociais, Tarcísio perguntou a Haddad qual seria a participação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra no governo petista.

“Produzir, como ele está produzindo. Eu, em São Paulo, comprei merenda escolar orgânica do MST. O arroz orgânico veio do MST, a banana veio do MST. E não foi só do MST. Comprei de todos os agricultores familiares a produção que tinha”, respondeu Haddad.

O bolsonarista, sem grandes surpresas, tenta lançar o petista contra o agronegócio.

Poder de compra nacional volta ao centro da discussão

“Perguntei sobre o salário mínimo e até agora você não respondeu”, disse Haddad a Tarcísio. “As pessoas não conseguindo comprar alimento. Vocês não cuidaram do Plano de Aquisição de Alimento, acabaram com o programa de merenda escolar, congelaram por 5 anos o per capita da merenda. Hoje, é suco e bolacha.”

Tarcísio repetiu a alegação de que salário mínimo terá aumento real a partir de 2023. “A inflação está em queda, graças à coragem de enfrentar, por exemplo, a questão dos combustíveis. O preço dos alimentos está caindo”, disse o bolsonarista.

Bolsonaro na mira

Tarcísio aproveitou sua primeira participação no debate para alegar que Jair Bolsonaro (PL), se eleito, promoverá uma política de reajuste real do salário mínimo – ou seja, acima da inflação.

Haddad, por sua vez, fez críticas ao fim do programa Bolsa Família e à má condução do combate à pandemia pelo governo federal.

O petista relembrou que a gestão Bolsonaro atrasou a compra de vacina. Ele também ligou Tarcísio ao atraso na entrega de oxigênio em Manaus (AM), no auge da crise sanitária.

Reclamação

Tarcísio afirmou ser alvo de “um bombardeio de fake news e desinformação”. Ele declarou que “não aumentará a conta de água”, apesar de defender a privatização da Sabesp.

“Vamos estudar a privatização. Vamos seguir com ela? Apenas se for o melhor para o cidadão”, alegou.

Começo propositivo

Haddad abre o debate se dizendo “preocupado com o orçamento doméstico”. Por isso, afirmou, propõe “zerar o ICMS da carne e da cesta básica e aumentar o salário mínimo de São Paulo para 1.580 reais”. Ele ainda listou propostas para a educação e a saúde.

Tarcísio, por sua vez, foi questionado pelo adversário sobre “frequência escolar” e “vacinação de crianças”.

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