Política

Equipe de Tarcísio mandou cinegrafista da Jovem Pan apagar vídeo de tiroteio em Paraisópolis

‘Não pode divulgar isso, não’, afirmou um integrante da campanha bolsonarista ao profissional da emissora, segundo áudio revelado pela Folha de S.Paulo

O candidato do Republicanos ao governo de São Paulo, Tarcíso de Freitas. Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Um membro da campanha de Tarcísio de Freitas (Republicanos) mandou um cinegrafista da Jovem Pan apagar imagens do tiroteio que interrompeu uma agenda do candidato bolsonarista ao governo de São Paulo em 17 de outubro. O episódio deixou um suspeito morto em Paraisópolis, na Zona Oeste da capital paulista.

Conforme um áudio divulgado nesta terça-feira 25 pela Folha de S.Paulo, o profissional da emissora, que pediu para não ser identificado, foi abordado por um integrante da campanha. Leia a transcrição da gravação:

Campanha: “Você filmou [inaudível] que mostram policiais atirando? Quando a gente estava… Chegou lá pra ver o que estava acontecendo. Você saiu ali do local e foi até lá?”

Cinegrafista: “Fui”

Campanha: “Você estava ali embaixo filmando? Você filmou então o pessoal trocando tiro?”

Cinegrafista: “Não, trocando tiro, efetivamente, não. Tenho tiro da PM pra cima dos caras. A hora que você chega, que você me barra…”

Campanha: “Você só filmou lá no canto?”

Cinegrafista: “Só. Na hora que você chega ali, eu já tô voltando.”

Campanha: “O pessoal que tava na ONG ali, no Belezinha, você não filmou?”

Cinegrafista: “Não.”

Campanha: “Não filmou?”

Cinegrafista: “Do segurança de colete…”

Campanha: “Você tem que apagar. Essa imagem que você filmou aqui também. Mostra o pessoal saindo, tem que apagar essa imagem. Não pode divulgar isso, não.”

A emissora se manifestou por meio da seguinte nota, enviada à Folha: “A Jovem Pan exibiu todas as imagens feitas durante o tiroteio. O trabalho do cinegrafista permitiu que a emissora fosse a primeira a noticiar o ocorrido no local. Não houve contato da campanha do candidato Tarcísio com a direção da emissora com o intuito de restringir a exibição das imagens e, por consequência, o trabalho jornalístico”.

Segundo a campanha de Tarcísio, “um integrante da equipe perguntou ao cinegrafista se ele havia filmado aqueles que estavam no local e se seria possível não enviar essa parte para não expor quem estava lá”.

[ATUALIZAÇÃO: Em nota posterior à publicação da reportagem pelo veículo, a campanha de Tarcísio afirmou que o questionamento feito ao cinegrafista da Jovem Pan “foi feito na chegada da base, após o tiroteio, em frente a todos que lá estavam, incluindo jornalistas de outras emissoras”.

A nota também afirma que “diversos representantes da imprensa que estavam presentes fizeram imagens da situação ocorrida e colocaram no ar” e que “nunca houve nenhum impedimento por parte da campanha em relação a isso”. Reforçou, ainda, que “qualquer afirmação que questione isso é uma mentira”.]

No dia do episódio, Tarcísio afirmou que o tiroteio não foi um atentado, mas uma tentativa de “intimidação”. Ele não forneceu provas para sustentar a alegação.

Em entrevista coletiva, o ex-ministro da Infraestrutura classificou o caso como “um recado claro do crime organizado, que diz: ‘Vocês não são bem-vindos aqui’”.

No mesmo dia, Jair Bolsonaro (PL) tentou colher dividendos eleitorais ao usar imagens do tiroteio em sua propaganda na TV. “O candidato a governador de São Paulo Tarcísio de Freitas e sua equipe foram atacados por criminosos em Paraisópolis”, alega o locutor da peça.

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), aliado de Tarcísio no segundo turno contra Fernando Haddad (PT), determinou “imediata investigação” sobre o caso.

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