Economia

Governo cita conflito na Ucrânia e diz que alimentos ficarão mais caros no Brasil

Em live, Bolsonaro afirmou que o País manterá ‘o equilíbrio’ sobre a operação militar da Rússia

O presidente Jair Bolsonaro (PL), ao lado da ministra Tereza Cristina. Foto: Reprodução
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O governo federal declarou que os preços dos alimentos no Brasil devem aumentar com a crise na Ucrânia. A estimativa foi apresentada nesta quinta-feira 3, durante transmissão ao vivo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, argumentou que o reflexo deve ocorrer porque a Ucrânia é uma grande produtora de milho, trigo, girassol e cevada, com exportações para a Europa, onde os países devem passar a ter problemas de suprimentos.

Cristina também citou a alta na inflação, que, segundo ela, atinge diversos outros países.

“Tudo isso faz com que essa instabilidade gere uma alta de preços neste momento. Se essa guerra, se Deus quiser, acabar, as coisas voltam um pouco. Mas nós vamos ter, sim, infelizmente, uma alteração no preço dos alimentos no mundo e no Brasil – hoje, a economia é muito globalizada, é claro que vem também para cá, infelizmente”, afirmou.

Cristina disse ainda que está suspensa a possibilidade de o Brasil receber fertilizantes da Rússia e da Bielorrússia por causa da guerra. O País não tem, por exemplo, como pagar por esses produtos e faltam navios para buscá-los no Mar Báltico e no Mar Negro.

“Enquanto a guerra estiver acontecendo, é totalmente descartada a possibilidade de a gente receber fertilizantes dos dois países”, afirmou.

Bolsonaro culpou a suposta falta de investimentos em potássio e ureia no passado pela perspectiva de aumento nos preços. Segundo o ex-capitão, limitações em nome da preservação ambiental e até as medidas sanitárias contra a pandemia seriam responsáveis pela “falta de visão” no agronegócio.

“Os interesses mais variados possíveis trabalham contra a gente, em especial na questão ambiental”, declarou.

Bolsonaro acrescentou que, em relação ao conflito, o Brasil permanece em uma posição de “equilíbrio”.

“Nós temos negócios com os dois países [a Rússia e a Ucrânia]. Não temos a capacidade de resolver esse assunto. Então, o equilíbrio é a posição mais sensata por parte do governo federal”, disse. “Nós torcemos pela paz. A guerra, realmente, não vai produzir efeitos benéficos para os dois países e para o mundo.”

Apesar de Bolsonaro responsabilizar a pandemia e até a guerra na Ucrânia pela alta nos preços dos alimentos, CartaCapital já mostrou que a própria ausência de políticas públicas faz esses valores subirem.

Ao assumir o governo, o presidente da República extinguiu o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Consea, que tinha a atribuição de propor diretrizes e prioridades da política alimentar.

Além disso, pesquisadores apontam o fim do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em 2016, e o baixo investimento no Programa de Aquisição de Alimentos como fatores relevantes nesse cenário.

Outro fator é o desmonte da Companhia Nacional de Abastecimento, o Conab, desde 2019. Ligada ao Ministério da Agricultura, a empresa pública é responsável pela estocagem de grãos produzidos no País. A atividade serve como um dos reguladores internos dos preços dos alimentos.

CartaCapital já mostrou também que a política econômica do governo em relação à inflação tem penalizado, sobretudo, as pessoas mais pobres, porque tenta reduzir o poder de consumo de uma população que já sofre com a falta de condições de obter itens básicos nos supermercados.

No início de fevereiro, o Brasil voltou a ter dois dígitos no índice de inflação, maior taxa em quatro anos, chegando a 10,75%. Pesquisadores afirmam que nem toda inflação é prejudicial para os trabalhadores, porque pode decorrer de uma boa causa, mas a situação dependerá dos termos do conflito distributivo.

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