Economia

Brasil volta a ter taxa de juros com dois dígitos: 10,75%

Banco Central anuncia maior taxa de juros em quatro anos; economistas criticam decisão

Banco Central
Edifício-sede do Banco Central. Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil Edifício-sede do Banco Central. Foto: Marcello Casal JrAgência Brasil
Apoie Siga-nos no

O Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, anunciou um novo aumento na taxa de juros, de 9,25% para 10,75%, um acréscimo de 1,5%. A decisão foi comunicada após reunião nesta quarta-feira 2, a primeira realizada em 2022.

O percentual marca a volta do Brasil para os dois dígitos na taxa de juros após quatro anos. A última vez foi em julho de 2017, quando o índice estava em 10,25%.

Já é a oitava alta consecutiva na Selic. O índice define a taxa básica de juros no País, influenciando, portanto, os juros cobrados em empréstimos e financiamentos. A tendência é de que o percentual aumente em março.

Economistas ouvidos por CartaCapital criticaram o anúncio do Copom.

Fernando Dal-Ri Murcia, diretor de pesquisas da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras, culpou o Banco Central por ter agido com “falta de conservadorismo” em 2020, ao manter a taxa de juros em patamares baixos, chegando a 2%.

Segundo o economista, que também é professor da Universidade de São Paulo, o mercado ficou “disfuncional” à época, o que fez o governo perder o controle da inflação.

A alta inflacionária, agora, leva o Banco Central a aumentar a taxa – subir os juros é um dos primeiros remédios para reter a inflação.

O ciclo de aumentos dos juros, porém, ocorreu demasiadamente tarde, diz Murcia.

Outro fator elencado pelo economista é a falta de habilidade do governo para manter um ambiente político estável, a fim de melhorar a confiança de investidores. Essa condição traz ruídos e impacta em outras variáveis econômicas, afirma.

“O governo não está conseguindo manter um ambiente mais ou menos estável. Está trazendo muita instabilidade para o mercado. Isso acaba se refletindo nas variáveis macroeconômicas, como o dólar, a taxa de juros, a aversão a risco”, disse o professor, em entrevista a CartaCapital.

Maria de Lourdes Mollo, especialista em Economia Monetária e professora da Universidade de Brasília, critica os efeitos que a alta nos juros deve provocar na população, em um momento de crise econômica e baixa no poder de consumo.

Ela explica que, quando o Banco Central sobe a taxa de juros, o argumento é de que a inflação está crescendo – e está mesmo. Ninguém discorda, diz ela, de que aumentar a taxa de juros retém a inflação, porque as pessoas terão menos capacidade de fazer compras, e então os preços tendem a cair e se ajustar.

Ocorre que a razão pela qual a inflação sobe não está na “demanda”, analisa ela. Na prática, ao aumentar a taxa de juros, o Banco Central está reduzindo o poder de compra de uma população que já está com dificuldades financeiras para adquirir itens básicos.

“Quando você reprime a demanda, você está fazendo com que as pessoas não consumam, mas elas já estão consumindo menos, porque não têm mais dinheiro e está desempregada”, observa. “Estamos colocando o ajuste nas costas de uma população que já está muito empobrecida. O custo social é enorme e duradouro.”

Para a professora, é preciso elaborar uma solução melhor a longo prazo, que vise o aumento da oferta e da produção, para que os preços caiam.

A dificuldade é que, nos últimos anos, afirma ela, uma série de políticas de austeridade desmontou instrumentos importantes do Ministério da Economia, como o sistema de estoques reguladores e mecanismos da Petrobras antes utilizados para controlar os preços. Essas estruturas poderiam ser usados de forma alternativa, mas hoje estamos sem eles.

“Há uma divergência teórica. O Banco Central tem um pensamento altamente neoliberal e acha que a única maneira de controlar a inflação é via taxa de juros. Acha também que a única razão pela qual a taxa de juros sobe é o aumento da demanda nominal. É uma visão monetarista da inflação”, critica ela. “Mas essa inflação que estamos vivendo não é por demandas, então se está cobrando demais da população com o aumento da taxa de juros.”

 

ENTENDA MAIS SOBRE: ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo