Justiça
E-mails revelam ‘agendas privadas’ de Bolsonaro com ministros do STF
Compromissos fora da agenda oficial coincidem com investigações sensíveis e momentos de tensão entre Executivo e Judiciário
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teve encontros fora da agenda oficial com três ministros do Supremo Tribunal Federal em 2022.
André Mendonça, Gilmar Mendes e Kassio Nunes Marques foram recebidos pelo ex-capitão em datas que coincidem com investigações sensíveis e momentos de tensão entre Executivo e Judiciário. O registro das reuniões consta de e-mails da Presidência obtidos pela CPMI do 8 de Janeiro e revelados nesta segunda-feira 14 pelo jornal O Estado de S. Paulo.
Um dos encontros, com a presença de Gilmar, aconteceu após Bolsonaro criticar decisões da corte que determinaram a prisão do ex-deputado federal Daniel Silveira. Na ocasião, o ex-presidente disse que os ministros precisavam atuar “dentro das quatro linhas” da Constituição.
Questionado pelo jornal O Globo sobre o encontro com Bolsonaro, o decano do STF afirmou não se recordar do tema da reunião.
“Sempre que pude, tive interlocução, mandava mensagem a ele tentando minimizar teorias conspiratórias. Algumas vezes estive com ele”, respondeu Gilmar.
Kassio Nunes também se encontrou com o ex-presidente, em 11 de maio. A agenda contou com a presença do então presidente do Superior Tribunal de Justiça, Humberto Martins, do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e de Vicente Santini, à época secretário nacional de Justiça.
No mesmo dia, o Ministério Público do Rio de Janeiro pediu ao STJ a anulação de uma denúncia contra Flávio no caso das “rachadinhas”.
Um dia antes, o ministro Alexandre de Moraes havia determinado a tramitação em conjunto da investigação sobre os ataques de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas e do inquérito que investiga a atuação de milícias digitais contra a democracia.
Outra agenda com Kassio Nunes aconteceu em 12 de junho, um domingo. Na véspera, Bolsonaro participou de uma motociata em Orlando, nos Estados Unidos, com a presença do blogueiro foragido Allan dos Santos.
O ministro, indicado pelo ex-presidente ao Supremo, afirmou que o encontro foi uma “visita de cortesia”.
Em 28 de julho, Bolsonaro recebeu André Mendonça, também indicado por ele. À época, o ex-capitão sofria pressão, dias após realizar uma reunião com embaixadores na qual fez ataques ao sistema eleitoral. O episódio levaria à sua inelegibilidade, por decisão do Tribunal Superior Eleitoral.
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