Política

Da segurança de Dilma ao bolsonarismo: quem é o deputado Zucco, presidente da CPI do MST

Parte da segurança da ex-presidente, ele subordinava-se ao hoje general-ministro do GSI, que quer de volta o controle da Abin

Créditos: Reprodução
Apoie Siga-nos no

O deputado tenente Luciano Zucco, do partido Republicanos, foi campeão de votos no Rio Grande do Sul em 2022 e agora ganha fama nacional. Proponente da CPI do MST, foi escolhido o presidente da comissão e, na primeira sessão, cortou o microfone de uma colega, Sâmia Bomfim (PSOL-SP), que comentava que o Supremo Tribunal Federal (STF) havia autorizado a investigação dele pela Polícia Federal (PF).

Seria um traço autoritário, mercurial, oriundo da farda? O tenente-coronel Zucco é de família militar. Seu pai, já falecido, era sargento do Exército. O irmão mais velho, general. O próprio deputado, de 49 anos, é militar: tenente-coronel. 

Quando era major, a patente anterior, Zucco foi da segurança de Dilma Rousseff na Presidência. Pertencia ao time do general Marcos Antonio Amaro dos Santos, o então comandante da segurança. Amaro, de 65 anos, é desde abril o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão que perdeu o controle da segurança presidencial com Luiz Inácio Lula da Silva.

Zucco havia entrado em 27 de dezembro de 2010, cinco dias antes da posse de Dilma, no time da segurança da Presidência. Sua nomeação tinha sido assinada pelo número 2 do GSI na ocasião, o general Antonio Sergio Geromel. No início do governo Dilma, Zucco costumava jogar futebol nas noites de segunda-feira com um dos assessores particulares da petista, Anderson Dorneles, um conterrâneo gaúcho.

Em agosto de 2014, dois meses antes da reeleição da petista, Zucco foi deslocado da segurança da Presidência em Brasília para o escritório dessa equipe em Porto Alegre, cidade em que Dilma tinha sua residência privada. A transferência havia sido assinada pelo número 2 do GSI na época, o general Edson Pujol, que foi comandante-geral do Exército no governo Bolsonaro por dois anos.

Na eleição seguinte, em 2018, Zucco rasgava a fantasia e punha o bolsonarismo para fora. Elegeu-se deputado estadual gaúcho, o mais votado nas urnas naquele momento, pelo PSL o partido pelo qual Jair Bolsonaro chegou à Presidência. Era o início da troca da carreira militar pela política. Na campanha de 2022, a troca foi de mandato: de deputado estadual para federal.

Pouco após a eleição, Zucco foi um dos políticos apontados pela Polícia Civil gaúcha como incentivador de arruaças por bolsonaristas inconformados com a vitória de Lula. É esse o motivo de o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo, ter autorizado recentemente a PF a investigar se o tenente-coronel estimulou badernas.

O irmão general, Marcelo Lorenzini Zucco, continua na ativa. Em 24 de abril, foi condecorado com uma medalha do Estado Maior das Forças Armadas. Um mês depois, foi transferido de cargo. Era Comandante da 1ª Brigada de Infantaria de Selva e passou a ser adido no Comando Militar do Sul. A transferência foi assinada por Lula e o ministro da Defesa, José Múcio.

A transferência tinha sido acertada por Múcio com o chefe do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva. Um acerto amplo, a envolver mais nove oficiais militares, conforme um boletim do Exército de 9 de maio. No boletim, via-se a designação de duas peças-chave na equipe do general Amaro.

O general Ivan de Souza Corrêa Filho foi designado secretário-executivo do GSI. É especialista em comunicações e cibernética. Sua nomeação foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) de 22 de maio. Já o general Ricardo Augusto Amaral Peixoto foi escolhido para chefiar a parte da segurança presidencial que ainda cabe ao GSI. Sua nomeação também saiu no DOU do dia 22.

Peixoto é um especialista em inteligência. Dirigia a 2a subchefia do Estado Maior do Exército, que tem como uma de suas atribuições cuidar da “inteligência militar”. No antigo cargo, o general não foi capaz de farejar o quebra-quebra de 8 de janeiro em Brasília? 

A insatisfação com os militares no capítulo “inteligência e 8 de janeiro” foi uma das razões que levaram Lula a tirar a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) do GSI e passá-la à Casa Civil. O presidente assinou em março um decreto com esse objetivo. O general Amaro discorda da decisão, embora ressalve que retomar a Abin para o GSI não seja uma bandeira sua.

O Congresso parece disposto a facilitar as coisas para o GSI. Ao examinar uma medida provisória, a 1154, baixada em janeiro pelo presidente a redesenhar os Ministérios, o relator dela, deputado Isnaldo Bulhões (MDB-AL), havia estipulado inicialmente que “coordenar as atividades de inteligência federal” seria uma atribuição da Casa Civil. Mas mudou de ideia e botou essa atribuição dentro do GSI.

Criou-se um impasse. A Abin fica na Casa Civil, conforme o decreto de março de Lula, mas “as atividades de inteligência federal” serão uma missão do GSI. 

Em nota pública, a União dos Profissionais de Inteligência de Estado da Abin (Intelis) reclamou da confusão criada por Bulhões. “A Intelis confia que o Congresso Nacional, ainda em tempo oportuno, demonstre perspicácia para correção de rumo e, assim, contribua para consolidar uma Inteligência de Estado civil, democrática e cidadã, a serviço da Sociedade e do Estado, pronta para enfrentar os atuais desafios nacionais.”

ENTENDA MAIS SOBRE: , ,

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo

Um minuto, por favor…

O bolsonarismo perdeu a batalha das urnas, mas não está morto.

Diante de um país tão dividido e arrasado, é preciso centrar esforços em uma reconstrução.

Seu apoio, leitor, será ainda mais fundamental.

Se você valoriza o bom jornalismo, ajude CartaCapital a seguir lutando por um novo Brasil.

Assine a edição semanal da revista;

Ou contribua, com o quanto puder.

Leia também

Jornalismo crítico e inteligente. Todos os dias, no seu e-mail

Assine nossa newsletter

Assine nossa newsletter e receba um boletim matinal exclusivo