Política

Como o governo Lula se prepara para a batalha contra a anistia a Bolsonaro

Operadores do governo na Câmara fizeram chegar ao Planalto que as chances de Hugo Motta pautar o texto são cada vez mais palpáveis

Como o governo Lula se prepara para a batalha contra a anistia a Bolsonaro
Como o governo Lula se prepara para a batalha contra a anistia a Bolsonaro
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), se comprometeu a iniciar as discussões sobre a proposta. Foto: Marina Ramos/Câmara dosDeputados
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Integrantes do Palácio do Planalto já admitem, nos bastidores, que verdadeira a batalha contra as propostas de anistia aos golpistas será travada na Câmara. Essa percepção ficou mais clara após a articulação do governador Tarcísio de Freitas (São Paulo) em prol do texto e, agora, diante da condenação de Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal.

O ex-presidente foi sentenciado, nesta quinta-feira 11, a 27 anos de prisão. Se aprovado, o perdão em debate faria dele o principal beneficiário. Aliados veem na anistia não apenas um alívio judicial, mas uma chance de reabilitação política para 2026. Hoje, Bolsonaro está inelegível até 2030 por decisão da Justiça Eleitoral — e a condenação do STF tende a prolongar seu afastamento das urnas.

O voto isolado de Luiz Fux para absolver o ex-presidente, como mostrou CartaCapital, serviu de combustível à ofensiva bolsonarista no Congresso. Tarcísio já  avisou a dirigentes do PL que votaria a Brasília para retomar as conversas sobre o perdão aos golpistas. E, enquanto o STF concluía o julgamento, cardeais do Centrão alinhavam estratégias para pressionas a Câmara. Espera-se que a anistia seja a pauta principal da reunião de líderes marcada para terça-feira 16.

Ficou decidido, por exemplo, que integrantes do PL iniciariam uma romaria a gabinetes de ministros do Supremo. Além de Fux, os bolsonaristas já sondaram André Mendonça e Kassio Nunes Marques, ambos indicados por Bolsonaro. Gilmar Mendes, decano do STF, também deve ser contatado.

Alexandre de Moraes, relator da ação do golpe, Cármen Lúcia e Flávio Dino, naturalmente, estão de fora da lista de visitas: são considerados duros demais e sinalizaram em julgamento que são terminantemente contra o perdão.

Do lado do governo, a prioridade é clara: impedir que o texto chegue ao plenário. A ministra Gleisi Hoffmann , responsável pela articulação política, acionou ministros de partidos de centro para convencer suas bancadas a recuar. Paralelamente, o Planalto acelerou a liberação de emendas emperradas. Foram mais de 2,3 bilhões somente na última terça-feira 9, segundo dados oficiais.

Mesmo assim, o alerta soou. Operadores do governo na Câmara fizeram chegar a ministros palacianos que as chances de o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) pautar o texto são cada vez mais palpáveis. O paraibano havia prometido manter uma agenda amena durante o julgamento de Bolsonaro, mas admitiu que o tema, ora ou outra, terá de ser enfrentado. Foi o sinal que bolsonaristas esperavam.

Caso esse cenário se concretize, o Planalto pode até se somar a uma ala do Centrão que defende levar o projeto ao plenário justamente para derrotá-lo de vez. A oposição calcula ter cerca de 280 votos a favor da anistia, contra 130 da esquerda. O foco do governo, portanto, é reverter apoios em legendas como PSD e Republicanos, preocupadas com a repercussão negativa de um perdão amplo e irrestrito.

A estratégia passa também pelas indicações a cargos federais nos estados. Podem ser revistas, a depender de como cada congressista se manifestará numa eventual votação. Um ministro próximo a Lula, ouvido sob reserva, vê timing oportuno para “fidelizar a base”. Com as eleições de 2026 batendo à porta, diz, é preciso saber quem de fato caminhará com o petista.

Em último caso, a última trincheira está no Senado. O presidente Davi Alcolumbre (União-AP), tem sido categórico ao afastar a possibilidade de colocar em votação qualquer proposta de perdão irrestrito.

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