Política

Como a guerra interna do União Brasil afeta a relação entre a sigla e o Planalto

Com o fortalecimento da ala ligada ao antigo DEM, há a necessidade de definição da posição ideológica da sigla

Luciano Bivar e Lula. Fotos: Marcelo Camargo/Agência Brasil e Evaristo Sá/AFP
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Eleita há duas semanas na esteira de uma briga política fatricida, marcada por dossiês e supostas ameaças de morte, a nova cúpula do União Brasil discute um day after para o partido, o que inclui a possibilidade de rever a relação com o governo Lula (PT).

A troca no comando da legenda criada em 2021 a partir da fusão entre Democratas e PSL está prevista para acontecer em junho, mas pode ser antecipada para este mês. A articulação envolve o afastamento de Luciano Bivar (PE) da presidência, sob a acusação de perseguir o advogado Antonio de Rueda, novo dirigente partidário, e seus familiares.

A avaliação feita a CartaCapital por parlamentares é que, com o fortalecimento da ala ligada ao antigo DEM (que inclui nomes simpáticos ao bolsonarismo, a exemplo do governador Ronaldo Caiado, de Goiás), há a necessidade de definição da posição ideológica da sigla.

Por ora, contudo, caciques da sigla pregam cautela na forma como as conversas serão conduzidas e pontuam que a situação junto ao Palácio do Planalto é confortável. Isso porque, mesmo com espaços na Esplanada, o partido se diz ‘independente’ – inclusive liberando deputados a votarem contra pautas de interesse da gestão petista.

A sigla mantém Celso Sabino (PA) no Turismo, Waldez Góes (AP) no Desenvolvimento Regional e Juscelino Filho (MA) nas comunicações. Além disso, indicou nomes para a presidência da Codevasf, estatal responsável por obras hídricas no Nordeste, e em vice-presidências da Caixa Econômica Federal.

Com a mudança na cúpula do União, espera-se que as negociações – antes centralizadas em Bivar e no senador Davi Alcolumbre (AP) – passem a contar com a participação de outros atores políticos, como o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, eleito vice-presidente do partido.

“A relação se mantém a mesma, apesar do que se especula. Não há mudanças nesse ponto”, pontuou o senador Efraim Filho (PB), líder da bancada na Casa Alta. “As mudanças que fizemos representam apenas um caminho para o diálogo, a coesão e a democracia interna”.

Sob reserva, lideranças também ponderam que uma eventual mudança na relação com o Planalto pode atrapalhar os planos de Elmar Nascimento (BA) em se cacifar na corrida pela presidência da Câmara e enfraquecer o poder de barganha do partido em negociações importantes na agenda legislativa.

Uma eventual correção de rota também deve passar pela possibilidade de o União lançar Caiado à presidência da República em 2026. Esse ponto, contudo, deve voltar a acirrar o clima interno no partido, uma vez que a ideia de lançar um nome próprio é vista com ressalvas por integrantes da sigla.

O assunto deve ser discutido após as eleições municipais, segundo contaram integrantes do partido à reportagem. “Nós vamos começar a sentar para discutir política. A pauta mais imediata são as eleições municipais. Esse é o foco. E aí vamos começar a falar de política”, sustenta ACM Neto, ao dizer que “não adianta querer atropelar as coisas”.

Entenda a briga no União Brasil

O incêndio em duas casas no litoral de Pernambuco, na última segunda-feira, representou o ponto mais alto da treta envolvendo caciques da legenda. As residências pertecem a Rueda e sua irmã, Maria Emília, que também é tesoureira do União.

O entrevero se arrasta desde 2021, quando o partido foi criado, e tem como pano de fundo uma disputa pelos rumos da agremiação que coloca Rueda e Bivar em lados opostos. Antes de se tornarem adversários, contudo, ambos chegaram a dividir a direção do Sport Recife, time de futebol local.

O momento determinante para o afastamento foi uma reunião do partido, em agosto de 2023, na qual o atual presidente da sigla teria xingado ACM Neto, aos gritos. O dirigente era presidente do DEM antes da fusão e contrário à aproximação do partido ao governo Lula.

Antes disso, Rueda já havia iniciado a articulação com caciques da sigla que estavam insatisfeitos com as decisões do parlamentar à frente do União e se uniram para antecipar a troca no comando do partido.

Na véspera da convenção para escolher o novo presidente da agremiação, Bivar convocou jornalistas para uma coletiva de imprensa, ampliando o clima de tensão. Na ocasião, ele chamou o correligionário de “covarde” e disse ter “graves denúncias” sobre o correligionário, mas não apresentou nenhuma prova.

De acordo com o jornal O Globo, a guerra de bastidores entre os dois chegou até mesmo a envolver uma suposta ameaça de morte. O líder da bancada na Câmara, Elmar Nascimento (BA), anunciou a cerca de 20 colegas que Bivar havia tentado intimidar Rueda.

A colegas, o parlamentar baiano ainda afirmou ter ouvido a gravação de uma conversa entre os dois dirigentes na qual Bivar teria repetido que sabia onde Rueda morava, além de citar a rotina da família dele.

Os ânimos dos dirigentes partidários, que pareciam estar pacificados, se inflamaram após o incêndio. A defesa de Rueda diz que o crime tem motivações políticas e acionou o Supremo Tribunal Federal; Bivar, por sua vez, nega as acusações.

No mais recente episódio da crise, a Executiva nacional aceitou uma denúncia contra o atual presidente do União, abrindo caminho para sua expulsão. Foram 17 votos favoráveis à medida – o deputado agora tem 72 horas para se defender das acusações que incluem “violência política de gênero” e uso do partido para perseguir adversários.

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