Política

Centrais sindicais discordam sobre pautar greve geral em atos de 18 de junho

Mobilizações ocorrem na véspera dos atos contra Bolsonaro convocados para 19 de junho

Centrais fizeram ato unificado em 26 de maio e cobraram vacina, auxílio emergencial de 600 reais e 'comida no prato'. Foto: Comunicação MST/Fotos Públicas
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A proposta de mobilizar uma greve geral contra o presidente Jair Bolsonaro ainda não é um consenso entre as centrais sindicais. O assunto é mantido em 2º plano por maioria das lideranças na véspera das mobilizações que as entidades convocaram para esta sexta-feira 18, quando pretendem realizar assembleias e panfletagens entre trabalhadores sobre temas como vacinação e auxílio emergencial.

Os atos de sexta são definidos como um “esquenta” para os protestos de sábado, 19 de junho. A ideia é que as assembleias sejam “informativas”, sem votações, com fins de agitação e de orientações sanitárias.

A realização de uma greve é defendida entre parcela dos próprios convocadores de 19 de junho. Conforme mostrou CartaCapital, algumas organizações que participaram da plenária nacional de 10 de junho seguem propondo paralisações entre trabalhadores para aumentar a pressão pelo impeachment.

Há ainda uma demanda de aproximar os atos de 19 de junho às categorias que já estão no ritmo de paralisação. Trabalhadores da Eletrobras, por exemplo, realizaram greve de 72 horas contra a privatização da empresa. Funcionários da Petrobras Biocombustíveis cruzaram os braços por um mês pelo mesmo motivo.

Os defensores de uma greve, porém, parecem minoritários entre as centrais.

Atnágoras Lopes, secretário-geral da Central Sindical e Popular Conlutas, diz que a greve será a principal pauta de suas mobilizações pelo Brasil na sexta. Ouvido por CartaCapital, ele afirmou que a Central já tem agitado suas bases nesse sentido, especialmente nas cidades de São Paulo, São José dos Campos (SP), Fortaleza (CE) e Belém (PA). A CSP-Conlutas reúne cerca de 300 entidades ligadas ao sindicalismo no País, parte nas áreas da metalurgia e da construção civil.

Para o sindicalista, as centrais vêm sinalizando falta de sintonia com as ruas. Ele cita como exemplo a falta de participação dessas organizações nas convocações para os atos de 29 de maio – naquela semana, elas decidiram fazer um protesto no dia 26. Agora, com um 2º ato já marcado, essas entidades já deveriam estar à frente nos esforços para uma paralisação nacional.

Segundo Lopes, somente a CSP-Conlutas e um determinado setor da Intersindical tem defendido a greve abertamente. As outras centrais, em sua visão, têm uma preocupação maior com o cenário para a próxima eleição. Essa leitura diz respeito a um debate presente na esquerda sobre qual estratégia para derrotar Bolsonaro deve ser priorizada: brigar agora pelo impeachment ou esperar o presidente sangrar até o ano que vem para, supostamente, melhorar as condições do campo progressista.

“Uma parcela das cúpulas nacionais e dirigentes das maiores centrais sindicais não tem tido essa disposição, na nossa opinião, porque está debaixo de uma pressão de uma estratégia meramente eleitoral”, afirmou. “É uma estratégia de aguardar, de conter ou de colocar o movimento a serviço somente das urnas de 2022.”

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, nega preocupação eleitoral. O sindicalista define o tema da greve como “muito controverso”, porque não há certeza de que seria bem sucedida. Um eventual fracasso na adesão, para ele, desgastaria uma ferramenta de disputa importante. Além disso, ele diz não ver condições para uma paralisação, por conta da pandemia, do alto desemprego e dos licenciamentos e suspensões de contratos.

A Força Sindical é a maior central sindical brasileira depois da Central Única dos Trabalhadores. Juntas, as duas organizações reúnem 5,7 mil sindicatos e mais de 37,8 milhões de trabalhadores.

“Não existe nada relacionado às eleições”, declarou Torres. “Não adianta a gente falar que vai ter uma greve e ser um fiasco. Isso seria um balde de água fria em toda a organização que tem essa proposta.”

Presidente da União Geral dos Trabalhadores, Ricardo Patah diz que a Central não deve tratar sobre a greve nesta sexta. Caso haja, futuramente, consenso entre as organizações sindicais em torno dessa alternativa, “não há dúvida de que a UGT vai estar junto”, segundo ele, mas incluir essa pauta agora tiraria o foco das mobilizações. A relevância da UGT recai sobretudo na categoria dos comerciários, com 1,3 mil sindicatos.

“O foco principal é a vacina, é a saúde, é a vida, e o auxílio emergencial. Tem muitos outros temas relevantes, como a questão da Amazônia, uma possível greve, a política em 2022, mas, neste dia, nós queremos focar nesses temas essencialmente, em defesa da sobrevivência.”

Na Central dos Sindicatos Brasileiros, o tema também não deve ser discutido. De acordo com o presidente, Antonio Neto, a falta de unidade entre as centrais impede que o assunto seja levado para fora do fórum que reúne essas organizações.

“Primeiro, precisamos acertar, efetivamente, o que significa essa greve geral. Estamos num momento muito complicado, de vacinação, internações, déficit de leitos hospitalares. Tem que ter muita responsabilidade em se discutir uma greve geral”, diz o líder da CSB.

O presidente da CUT, Sérgio Nobre, não pôde atender aos questionamentos da reportagem, segundo assessoria.

Em São Paulo, a agenda das centrais na sexta começa, oficialmente, às 7 da manhã, em frente à fábrica de motores e geradores da MWM, na zona sul, onde os presidentes das 11 centrais sindicais devem se encontrar em um palanque com os trabalhadores. No resto do dia, as lideranças cumprirão itinerários distintos. As centrais também planejam atos unificados nos outros estados do País.

No dia seguinte, atos são esperados em pelo menos 401 cidades brasileiras, segundo atualização da noite de quinta-feira 17, pela Frente Povo Sem Medo. Os organizadores recomendam levar mais de uma máscara e álcool em gel. As centrais sindicais afirmam que devem estar presentes nos protestos. Uma reunião entre as entidades está prevista para o início da próxima semana para fazer um balanço dos atos e avaliar um novo calendário.

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