Política

Atos de 19 de junho: 500 mil mortes e vinda da Copa serão novos fatores de indignação, dizem lideranças

Protestos têm três palavras de ordem definidas, mas devem agregar desdobramentos recentes, apontam organizadores

Manifestações por todo o Brasil pediram derrubada do presidente Jair Bolsonaro. (Foto: Nelson Almeida/AFP)
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A proximidade da marca de 500 mil mortes por Covid-19 e o anúncio da Copa América no Brasil darão novos e tristes contornos aos atos contra o presidente Jair Bolsonaro, planejados para 19 de junho. Movimentos sociais consideraram que houve “vitória política” nos protestos massivos de 29 de maio e decidiram, em plenária na manhã da quarta-feira 2, repetir a mobilização. Cerca de 20 organizações participaram da reunião.

 

Os atos são convocados pela Campanha Fora Bolsonaro, da qual fazem parte as frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, blocos que representam campos políticos diferentes entre os movimentos. Uma plenária para a qual são esperadas centenas de pessoas deve ocorrer em 10 de junho, para consolidar as cidades em que haverá mobilizações.

A escolha da data de 19 de junho, e não antes, é relacionada ao tempo de articulação entre as bases, de forma a assegurar capilaridade. O objetivo é superar os 213 municípios alcançados no último protesto. Também não se quis adiar tanto, porque é citada a possibilidade de já neste mês o Brasil ultrapassar 500 mil mortes por Covid. O País fechou a quarta-feira 2 com 467 mil óbitos e 16,7 milhões de casos, sendo que em 24 horas registrou mais de 2,5 mil falecidos e 95 mil infectados.

Medidas de prevenção ao vírus devem ser incentivadas, como o fornecimento de máscaras e álcool-gel. Somente após o ato é que deve ser definido um calendário para atividades posteriores.

Serão mantidas apenas três palavras de ordem, diz João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional da Frente Brasil Popular: “Fora Bolsonaro”, “vacina já” e auxílio emergencial de 600 reais.

“Não tem unidade em torno de um 4º item”, afirma Rodrigues, que representa o Movimento Sem-Terra na frente. “Não podemos mudar o foco do que é central para a população, senão outros assuntos entram na pauta e confundem mais do que ajudam.”

Porém, a notícia da Copa América no Brasil, confirmada às pressas por Bolsonaro, tem poder para mobilizar mais pessoas, aponta Josué Rocha, da coordenação da Povo Sem Medo.

O megaevento, que havia sido rejeitado por Colômbia e Argentina, contará com jogos em pelo menos quatro estados no período de um mês, a partir de 13 de junho, envolvendo dez seleções, com 65 pessoas para cada delegação.

A decisão do governo foi questionada no Supremo Tribunal Federal por ações do PT, do PSB e da Força Sindical. O ministro Ricardo Lewandowski já pediu explicações ao Planalto, e a ministra Cármen Lúcia ainda deve se manifestar como relatora da ação do PSB. A CPI da Covid também quer convocar o Ministério da Saúde para saber que medidas sanitárias serão adotadas.

Jair Bolsonaro com Alejandro Domínguez, atual presidente da Confederação Sul Americana de Futebol Foto: Carl de Souza/ AFP

“Naturalmente, a Copa América aparece como um fato político que causa mais indignação nas pessoas, mas o foco principal do ato é o Fora Bolsonaro”, diz o dirigente da Povo Sem Medo. Em seguida, sublinhou que o anúncio do megaevento no País “reforça o caráter irresponsável e genocida do governo”.

Élida Elena, da Brasil Popular, por meio do Levante Popular da Juventude, também assinala que “não é hora de sediar um evento como esse”. Ela considera que “todos os assuntos que denunciem o papel do governo na pandemia cumprem um papel importante” nos atos.

Outro tema que deve estar presente nas manifestações é o das privatizações. Segundo Josué Rocha, pautas como a venda dos Correios e da Eletrobras devem ser mantidas, o que pode atrair mobilizações de greves em curso, como a de funcionários das subsidiárias da Eletrobras.

Iago Montalvão, presidente da União Nacional dos Estudantes, soma a essa mistura a causa do sucateamento das universidades públicas, pauta que levou milhares às ruas em 2019, configurando um dos principais atos contra Bolsonaro durante o governo. “Os estudantes têm tido um peso importante”, avalia.

Resta a dúvida se organizações relevantes optarão por não integrar a campanha de convocações.

Miguel Torres, presidente da Força Sindical, disse que essa posição ainda não foi acordada internamente, mas a decisão provisória é de não participar. Ele relembra o ato das centrais sindicais em 26 de maio, que reivindicou o auxílio emergencial em Brasília, de forma mais “controlada”.

“Nós avaliamos que fizemos um estilo de manifestação muito controlado no dia 26, para não incentivar aglomeração. Não é que somos contra, mas achamos que não devemos participar”, declarou Torres, frisando que uma decisão coletiva deve ser tomada na semana que vem.

Em nota, a Central Única dos Trabalhadores salientou é que integrante da Campanha Fora Bolsonaro, responsável pelas convocações do ato, e reforçou o pedido de uso de proteção contra a Covid.

“Nossa mobilização deve ser organizada com todas as medidas da prevenção e cuidados sanitários possíveis, de forma que não provoquem aglomerações e exponham nossos militantes e trabalhadores e trabalhadoras das nossas entidades ao risco de contrair Covid-19.”

O MST diz que sempre foi resistente à proposta de manifestação de rua, por conta dos riscos de contaminação, e preferia a deflagração de greves. Porém, fatores como o medo do desemprego inviabilizaram essa alternativa. Vencida nas discussões, a organização se compromete a participar das convocações.

Expoentes do campo progressista, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PDT) não entraram na campanha de convocações, nem para 29 de maio, nem para agora. Glauber Braga (PSOL), que deseja se lançar como candidato da esquerda na eleição de 2022, é crítico à posição dos presidenciáveis.

“A força política deles é importante, sim, para a mobilização dos próximos atos e para as consequências daqui para frente. O melhor posicionamento é reconhecer o que foi o dia 29 de maio e trabalhar pelas ações futuras”, disse, em reportagem de CartaCapital de 2 de junho.

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