Entrevistas

Celular de Anderson Torres nos EUA me faz crer em dolo, diz Fábio Trad

O deputado questiona a conduta do ex-secretário de Segurança do DF. Segundo o parlamentar, grupo de transição não cogitava ataques

O deputado federal Fábio Trad (PSD-MS). Foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados
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O deputado federal e advogado Fábio Trad (PSD-MS) diz acreditar que houve “dolo” nas falhas de segurança durante os atos golpistas de 8 de janeiro. O parlamentar vê como suspeito o fato de Anderson Torres, ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, ter deixado o seu celular nos Estados Unidos em vez de trazê-lo ao Brasil.

Torres foi preso em 14 de janeiro pela Polícia Federal, em Brasília. Ele estava em território norte-americano quando os ataques terroristas ocorreram na capital brasileira. Em seu depoimento, no dia 18, ele ficou em silêncio. A Polícia Federal deve tentar ouvi-lo novamente na próxima segunda 23.

“Tem uma circunstância que me faz crer que há dolo: o fato de o ex-secretário ter deixado o celular nos Estados Unidos. Isso é, na realidade, muito suspeito. O que é que tem nesse celular? Por que ele foi para os Estados Unidos antes das férias, justamente no local onde estava o ex-presidente Bolsonaro?”, questionou Fábio Trad durante entrevista ao programa Direto da Redação, no canal de CartaCapital no YouTube, nesta sexta-feira 20.

Para Trad, o Ministério da Justiça não pode ser culpado pelos atos, porque o governo foi vítima de uma tentativa de golpe de Estado. Segundo o deputado, a equipe de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tinha uma “cogitação concreta” de que essas mobilizações seriam deflagradas.

“Na equipe de transição, não se cogitava algo com tanta seriedade”, afirmou Trad, que compôs o grupo de trabalhos na área de Justiça. “Fora os golpistas e o serviço de inteligência, horas antes, eu penso que todo mundo ficou surpreso. Quando vieram as cenas é que todo mundo caiu em si.”

Questionado se as depredações em Brasília em 12 de dezembro não serviriam como alerta para o GT sobre o avanço desses movimentos, Trad declarou que “não havia até ali elementos concretos para mobilizar o governo a fim de prevenir, pelo menos até o dia da posse, e o que ocorreu depois da posse até 8 de janeiro foi algo inusitado.”

O deputado argumentou, ainda, que a equipe de transição não poderia cogitar que policiais militares chegariam até a tirar fotos durante os atos terroristas, em uma postura de concordância com as mobilizações.

O congressista avalia que a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito pode ser uma ação inoportuna para o início do governo, que tem a tarefa de frear a instabilidade política e aprovar políticas sociais.

“Vai dar palco para os extremistas, para os golpistas. A CPI sempre tem um conteúdo espetaculoso. Penso que não seria interessante para um início de governo, que pretende consolidar-se para implementar as políticas públicas vitoriosas na campanha eleitoral. Então, eu penso que ela [a CPI] não é oportuna”, afirmou.

Ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul, Trad é deputado federal desde 2010. Em 2022, não se reelegeu e terá o seu mandato expirado em 31 de janeiro. Durante a entrevista, ele se mostrou disposto a colaborar com o governo Lula dentro de sua área de formação.

“Nunca agi movido por interesse de cargos ou interesse pessoal. Se, agora, ele [Lula] se elegeu, com o meu voto, com o meu trabalho também, sobretudo no segundo turno, e o governo entender que eu deva participar dentro de um contexto que tenha a ver com a minha formação, eu não vou recusar.”

Assista à entrevista na íntegra no YouTube.

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