O presidente Jair Bolsonaro emitiu 1.682 declarações falsas ou enganosas em 2020 – ou seja, mais de quatro por dia. É o que mostra um relatório da ONG Artigo 19, com escritório em noves países, inclusive o Brasil. As informações fazem parte do “Relatório Global de Expressão 2021”, com dados de 161 países.
O levantamento destacou algumas declarações de Bolsonaro, como chamar a Covid-19 de “gripezinha”, enquanto “promove discursos antivacinas e anti-isolamento, piorando as taxas de infecção e causando uma crise de informação com discursos altamente polarizados”. Desde janeiro de 2019, quando assumiu o cargo e ainda não havia pandemia, Bolsonaro fez 2.187 declarações falsas ou distorcidas.
Segundo a ONG, o tipo mais perigoso de desinformação “tem sido as teorias de conspiração sobre minorias étnicas que espalham a doença e o discurso de ódio, traduzidas em discriminação e violência no mundo real, remédios caseiros espúrios para a prevenção ou cura do vírus e propaganda — tanto por autoridades políticas nacionais quanto estrangeiras”.
“Em outros casos, a desinformação vem de indivíduos que ocupam posições relevantes — até mesmo chefes de governo, como Jair Bolsonaro — geralmente por meio de contas pessoais, em vez de oficiais, nas redes sociais. Esses indivíduos isolados podem ter um grande impacto na disseminação da desinformação. O presidente dos Estados Unidos [Donald Trump, que estava no cargo em 2020] foi provavelmente o maior impulsionador da ‘infodemia’ de informações errôneas sobre a COVID-19 em língua inglesa”, diz trecho do relatório.
O documento traz informações sobre os constantes ataques de Bolsonaro à imprensa. Conforme o levantamento, o presidente, seus ministros ou assessores próximos, constrangeram ou deslegitimaram jornalistas 464 vezes.
Além disso, houve 254 violações contra jornalistas e comunicadores em 2020, das quais 123 perpetradas por agentes públicos e 20 constituindo casos graves, como homicídios, tentativas de homicídio e ameaças de morte.
“Essas atitudes influenciam as autoridades locais e se manifestam em atitudes, assédio e ações judiciais contra jornalistas. Esse nível de agressão pública não era visto desde o fim da ditadura militar. A crescente hostilidade social contra jornalistas e seus efeitos desencorajadores não devem ser subestimados”, diz o relatório.
Outro ponto destacado foi o aumento da utilização da Lei de Segurança Nacional, da época da ditadura militar “como arma contra manifestantes e jornalistas que desafiaram o presidente por sua falta de ação, mesmo com o aumento das evidências do escopo da emergência da Covid-19”.
O documento também indica queda no nível de liberdade de expressão no mundo em geral e no Brasil. O País obteve apenas 52 pontos numa escala que vai de 0 a 100, o que indica, segundo a ONG, liberdade de expressão restrita.
É índice mais baixo registrado pelo Brasil, desde quando começou a ser calculado pela ONG, em 2010. Na época o país tinha uma pontuação de 89. Este nível foi caindo de forma significante nos últimos anos.
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