Política

Nem o Professor Raimundo faria melhor na semana política

De fake news divulgada pelo presidente a latidos de cachorro utilizados contra Marielle: relembre a semana de 10 a 16/3

Foto: Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil
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“Está achando ruim essa composição do Congresso? Então espera a próxima: será pior. E pior, e pior…”, disse Ulysses Guimarães em uma entrevista, há 27 anos. Na época, o então deputado era o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, responsável por estabelecer nova Constituição democrática para o Brasil após 21 anos sob ditadura militar. E hoje nos perguntamos: será que Ulysses estava certo?

Em uma semana repleta de caos no mundo, com duas grandes tragédias ocorridas, a política brasileira seguiu o rito e se manteve ladeira abaixo na democracia. Para ilustrar os episódios que surfam entre a comédia e a tragédia, Ciro Gomes disse, em um evento em São Paulo, que “elegeram um garoto de 13 anos. Um adolescente tuiteiro”, referindo-se a Jair Bolsonaro.

E o presidente resolveu, então, fazer jus a Ciro. No início da semana, no domingo 10, Bolsonaro decidiu fazer um novo ataque à imprensa e divulgou um vídeo com informações falsas acusando uma jornalista de O Estado de S. Paulo. O vídeo é editado e falado em inglês,  e não havia contexto para o que o capitão escreveu.

Imediatamente, o jornal se manifestou e disse que as informações divulgadas pelo presidente eram falsas e que tinham como comprovar. Bolsonaro, mesmo depois de desmentido, não se manifestou sobre o caso e nem apagou o vídeo de seu Twitter.

Fake news da fake news

No dia seguinte, na segunda-feira 11, a equipe do presidente entendeu que ele, sendo a maior autoridade do país, precisaria de uma assessoria que conseguisse se adaptar ao decoro do cargo. Com isso, colocou-se o coronel Didio Pereira de Campos para assumir a Secretaria Especial de Comunicação Social da Secretaria de Governo.

A decisão foi publicada no Diário Oficial da União e acabou noticiada por diversos meios de comunicação. O portal UOL colocou a novidade em seu Twitter, e logo em seguida o presidente se manifestou: “É fake news.”

Os seguidores começaram a questionar o presidente se uma decisão publicada no Diário Oficial seria falsa. Bolsonaro não explicou.

Fiu Fiu

No Legislativo, o cenário foi igualmente animado. Como em toda sessão da Câmara dos Deputados, quem está presidindo tem a função de organizar a casa, pedindo respeitosamente ordem aos deputados. A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), aliada de Jair Bolsonaro nas ideias e na falta de modos, comandava uma sessão solene “pelo Brasil e contra a corrupção”. Ao solicitar silêncio, a congressistas lembrou os tempos de Ensino Fundamental e assobiou pedindo ordem. “Por favor, façam silêncio.” Professor Raimundo não faria melhor.

Latidos para Marielle

Ainda no Legislativo, a quinta-feira 14 foi agitada. Era aniversário de morte de Marielle Franco (PSOL-RJ). Alguns deputados, em sua maioria de esquerda, fizeram um ato para lembrar da vereadora e pedir que o crime fosse solucionado.

Outros parlamentares, em sua maioria da base de Bolsonaro, aproveitaram a data para fazer algo que, fosse em uma classe da 5ª série, acarretaria em suspensão. Oito deputados federais, entre eles Daniel Silveira (PSL-RJ), que rasgou a placa com o nome de Marielle,  posicionaram-se a poucos metros da manifestação em homenagem à Marielle com caixas de som que emitiam latidos.

Meme no plenário

No mesmo dia, um deputado da base foi à tribuna para criticar Jair Bolsonaro. O federal Emerson Petriv, o Boca Aberta (Pros), atacou falas do presidente da época em que ainda era deputado e detonava a Reforma da Previdência de Michel Temer.

O congressista bradou para Jair: “O senhor quando deputado aqui nesta Casa ocupou várias e várias vezes essa tribuna. E falou no vídeo que 65 anos [para se aposentar] é uma tragédia, é um crime”, afirmou.

Para provar sua afirmação, o deputado sacou o celular e colocou o vídeo em que o presidente critica a proposta de Temer. Entretanto, ele utilizou uma versão que foi usada na internet como forma de meme. Nele, o presidente fala e ao lado aparece uma criança rindo de suas declarações. O vídeo era uma montagem.

Nos alto-falantes dava para ouvir a voz de Bolsonaro e uma gargalhada de criança. A cena causou constrangimento no congressista e em quem acompanhou a cena.

O ministério da Desesquerdização

Parece que o Brasil nem tem mais o que discutir. Ainda na quina-feira 14, o deputado federal Heitor Freire (PSL-CE), apresentou uma inusitada indicação ao presidente Jair Bolsonaro. Freire sugere que o presidente crie um gabinete especializado no expurgo de funcionários não alinhados à ideologia bolsonarista. O nome? Secretaria Especial de Desesquerdização da Administração Pública Federal.

Freire argumenta que, embora o PSL tenha assumido a máquina pública, ainda há servidores “infiltrados” que, embora tenham “mudado o discurso” atuam para “boicotar o governo por dentro”. E se ofereceu para assumir a chefia da pasta.

A tarefa da secretaria, nas palavras do deputado, é fazer “amplo controle, fiscalização, identificação, mapeamento, monitoramento (…) de todo aquele agente de esquerda que atue de forma oculta e que continue trazendo danos diretos e indiretos para a sanidade desta nação.”

Essa porcaria aí, tá ok?

E para encerrar o relato, houve uma portaria do Ibama publicada no Diário Oficial da União. E lá em seu artigo 2º, deixava claro: “”Esta Porcaria entra em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da União”. Podia ser humor, estivesse tudo no âmbito da ficção. Mas é real, e é tragédia mesmo.

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