Augusto Diniz | Música brasileira

Jornalista há 25 anos, Augusto Diniz foi produtor musical e escreve sobre música desde 2014.

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Vem aí o carnaval da exclusão

O cancelamento da festa de rua abre espaço para a privatização do maior evento popular do País

Carnaval de Salvador em 2019. Foto: Alberto Coutinho/GOVBA
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O que já se esperava, ocorreu: o cancelamento do carnaval de rua da cidade do Rio de Janeiro, anunciado pelo prefeito Eduardo Paes. Ao mesmo tempo, ele tratou de garantir a realização do desfile do Sambódromo por ser um ambiente controlado e passível de medidas contra a disseminação da Covid-19.

Na cidade de São Paulo, ainda aguarda-se o cancelamento, mantendo-se o desfile das escolas de samba, que ocorre no Anhembi, já que seria também uma área possível de controle.

Há planos de ambas prefeituras de confinar a festa de rua em grandes áreas cercadas, para permitir somente a entrada de pessoas com certificado de vacinação contra a Covid-19, além da realização de medidas básicas, como uso obrigatório de máscara. No Rio, fala-se da ocupação do Parque Olímpico e Parque de Madureira, e em São Paulo no Autódromo de Interlagos.

A ciência falou mais alto e a variante Ômicron já provou o que é capaz de fazer, a partir do exemplo da vidada do ano: aumentar o contágio sobremaneira, assim como as hospitalizações.

A despeito do desejo do governo manter algum caráter popular da maior festividade nacional, o fato é que se abriu a porteira de vez para a realização de eventos privados antes e durante o carnaval.

Serão eventos parecidos com o que ocorreram na vidada do ano, cujas imagens circularam bastante nas redes sociais: quase não pediam passaporte de vacina para checagem de vacinados e e poucas medidas sanitárias exigidas. Deu no que deu dias depois, com aumento significativo de infectados.

A profusão de festas de carnaval privadas contrapõe ao festejo popular de rua, aquele que absorve a grande massa e estimula a existência e a formação de blocos e agremiações. Não se espera que os eventos fechados os atraiam – nem serão feitos para atendê-los.

Festa privada de Carnaval é focada nos abastados. E nos subúrbios e periferias? Antes, esses lugares já sofriam a distorção de terem que se deslocar para o Aterro do Flamengo ou às ruas da Vila Madalena para brincar a festa do Momo, já que política de carnaval nunca foi centrada em manter as pessoas nos seus bairros – a explicação é o desinteresse de patrocinadores e o abandono histórico.

Com esse cenário, a pandemia nos apresentará mais uma distorção social, desta vez na principal festa popular do País. Será o carnaval da exclusão.

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