Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

O meu tempo é agora

Se for falar para os meus quatro filhos o que não tinha no meu tempo, não caberia aqui nesta crônica

Foto: Patrick T. Fallon/AFP
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Passei a infância e a juventude inteira ouvindo o meu pai dizer que no meu tempo não tinha televisão. Isso, quando ele nos via com os olhos grudados no Vigilante Rodoviário ou nas aventuras do cabo Rush e do Rin-Tin-Tin. Parecia até que o mundo já estava pronto, e que no universo do meu pai criança a única coisa que não existia era a tal da televisão.

Hoje, se for falar para os meus quatro filhos o que não tinha no meu tempo, não caberia aqui nesta crônica.

Na minha infância não tinha cola Pritt.

Não tinha senha.

Não tinha micro-ondas.

Não tinha caixa-eletrônico.

Não tinha arroz parabolizado.

Não tinha Kit-Kat.

Não tinha vidro elétrico.

Não tinha cinto de segurança.

Não tinha X.

Não tinha computador.

Não tinha euro.

Não tinha moça do telemarketing.

Na minha infância, minha mãe matava pulga na unha, matava barata com Neocid em pó, passava cera no chão, sabia de cor o número do telefone das minhas tias e de todos os vizinhos.

Na minha infância não tinha Tim.

Não tinha pedágio.

Não tinha velcro.

Não tinha balde plástico.

Não tinha kiwi.

Não tinha pitaia.

Não tinha physalis.

Na minha infância, minha mãe escrevia cartas, o amolador de facas passava toda semana na minha rua, o azeite era em lata e o guaraná em vidro. A televisão encerrava as transmissões às 11 horas da noite, tocando o Hino Nacional. Na minha infância tinha Os Pequenos Cantores da Guanabara, tinha o humor de Ronald Golias e o mau humor do Pedro de Lara.

Na minha infância não tinha Inteligência Artificial, saía tudo da nossa cabeça.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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