Alberto Villas

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Jornalista e escritor, edita a newsletter 'O Sol' e está escrevendo o livro 'O ano em que você nasceu'

Opinião

Meu nome é João!

Fico imaginando se tem Sergio recebendo recados com o nome de João, se tem Mario que virou João, ou se tem mesmo um João recebendo recado para o João e não entendendo nada

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil
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Tem mais de um mês que cismaram que eu me chamo João. Simplesmente João, sem sobrenome, sem nada. Quando eu digo cismaram, são as redes sociais, o zap, mas principalmente o e-mail.

O primeiro que recebi, estava descansando em Santo Antônio do Pinhal. Quando abri o e-mail, por volta de seis e pouco da manhã, lá estava a mensagem, bem íntima: Bom dia João! Comece bem o dia porque temos um crédito de 100 mil reais para você trocar o carro.

Antes de ler a mensagem inteira, dei uma espiada pela janela para conferir se o meu Kwid laranja estava ainda estacionado no jardim, vai ver que roubaram o pobrezinho e já estavam me oferecendo um outro, zero.

Sim, ele estava lá, coberto de orvalho e umas folhas secas grudadas no teto, no parabrisa e no capô. Mas intacto. Mas, peralá, eu não me chamo João!

Meio por fora de TI, me veio à cabeça a ideia do meu computador estar em outro lugar e daí a mensagem chegou errada. Mas o dono da casa se chama Moreno e a dona Paloma, longe de ser João.

Já em São Paulo, chegou uma segunda mensagem, dessa vez pelo zap: João, não deixe seu nome não ser negativado, pague até a data de hoje e se livre de ver seu nome CPC.

Pensei, ué, mas eu não estou devendo nada a ninguém. Será que fizeram alguma compra com o meu cartão clonado? Dia desses fizeram uma compra de 900 euros na loja virtual da Stela McCartney no meu cartão. Não era eu, mas me ligaram e me chamaram de Alberto e não de João.

As mensagens para o João continuam.

Ontem chegou apenas um recado curto e grosso: João, aqui está o seu código de barras para pagamento do boleto de 1.288.50, que vence amanhã. O código de barra parecia real, com aqueles duzentos números, mas boleto de quê? Não dizia nada.

Fico imaginando se tem Sergio recebendo recados com o nome de João, se tem Mario que virou João, ou se tem mesmo um João recebendo recado para o João e não entendendo nada.

Até aí tudo bem. Os recados continuam e eu nem ligo mais, muitas vezes nem leio.

Tinha até um perguntando se eu estava interessado em aumentar o meu pênis.

Mas hoje cedo fiquei com a pulga atrás da orelha. Por volta de oito horas da manhã, meu celular tocou, era um número desconhecido. Atendi e, do outro lado, veio uma voz metálica, dessas de robô ou inteligência artificial, sei lá, dizendo: Bom dia! Eu estou falando com o João?

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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