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Entidade sindical do setor privado de ensino, da educação infantil à superior, que congrega 88 sindicatos e 10 federações de professores(as) e técnicos(as) e administrativos(as).

Opinião

Manifesto sobre a vida em risco

Nossa combatividade acumulará forças e propiciará mudança de curso

Foto: EBC
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Por Madalena Guasco Peixoto*

Para a defesa da vida, que é o tema deste texto, inicio me solidarizando com os amigos e as famílias das cerca de 145 mil vidas que foram ceifadas não pela pandemia, mas por uma política genocida desse governo antipovo que, através de suas ações de negligência e negacionismo, provocou todas essas mortes. São quase 900 mortes por dia. Dois aviões de grande porte. E é um dado que é apresentado pela grande mídia e pelo poder econômico como outro qualquer.

A vida está sendo atacada quando, nessa realidade, se retomam todas as atividades econômicas e se fala em ‘volta segura às aulas presenciais’, agora com a conivência de alguns especialistas que são ganhos pelo poder econômico. Nós, professores e professoras, não podemos negar a Ciência. E, no mês passado, mais uma vez fomos atacados por esse presidente. Seu governo odeia os professores porque odeia a verdade, a Ciência e o conhecimento. Nossa luta contra a volta das aulas presenciais é baseada na Ciência e no respeito aos profissionais, estudantes e suas famílias.

Governo odeia os professores porque odeia a verdade, a Ciência e o conhecimento

Nossos sindicatos existem para defender a vida de nossa categoria. É falsa a ideia de que a volta às aulas presenciais resolverá o problema da evasão e da inadimplência nas escolas particulares. Esse problema ocorre devido à política econômica desse governo e da negação de medidas de proteção do emprego. O governo vem aumentando as desigualdades, que ficaram mais evidenciadas com a pandemia. Deixou de aplicar R$ 1 bilhão do orçamento na educação básica, que agora será destinado a outros setores.

A vida vem sendo atacada neste momento nos seus vários aspectos em nosso país. A vida é atacada quando se ataca a Ciência, a educação crítica, o meio ambiente e a soberania nacional. Quando se destrói propositadamente a Amazônia, o Pantanal e a biodiversidade do Brasil. Quando se atacam os povos indígenas em favor do garimpo ilegal e da agropecuária predatória. Esse ataque ao meio ambiente coloca o mundo em risco, inclusive, de novas pandemias. Coloca em risco a vida das novas gerações.

A vida está em risco quando se prega o ódio e o fascismo e, de forma organizada, se propagam mentiras que levam propositadamente milhares de pessoas ao obscurantismo mais profundo.

A vida se coloca em risco quando um projeto político e econômico de ataque ao trabalho como direito é colocado em prática e se propaga a ideia do trabalho autorregulado e sem nenhuma proteção. Quando os direitos mais elementares são atacados, aumentando a pobreza e a miséria e, ao mesmo tempo, a concentração de renda, num patamar nunca visto. Quando a produção é negligenciada e o ganho no mercado financeiro improdutivo e especulativo passa a determinar a vida econômica de um país.

Vida está em risco quando se prega o ódio e o fascismo e, de forma organizada, se propagam mentiras

A vida é colocada em risco quando a fiscalização do trabalho é brutalmente interrompida, ajudando a proliferação do trabalho escravo. A vida está em risco quando 10 milhões de pessoas no Brasil se encontram sem segurança alimentar e não sabem se conseguirão se alimentar no dia seguinte. A vida está em risco porque esse projeto levará ao acirramento da crise mundial, aumentando também a repressão e o ataque à democracia, à inclusão, às diferenças, à educação cidadã e aos movimentos de resistência.

Frente a essa situação de aumento da exclusão, a ideologia dominante se apoia no fundamentalismo, na ideia da meritocracia e do desprezo à verdade. A tecnologia, em geral, é colocada a serviço do aumento da exploração e a tecnologia de informação, contraditoriamente, se coloca a serviço da mentira e do engano.

A vida está em risco quando, diante dos desafios da pandemia, o Brasil mostrou-se um país vulnerável, sem autonomia tecnológica, se rendendo às plataformas internacionais, colocando-se como colônia e, agora, pondo a educação brasileira nas mãos do imperialismo tecnológico e da informação.

A vida está sendo atacada quando a religião é utilizada para aferir volumosos lucros para as corporações nacionais e internacionais e quando é utilizada para propagar o fundamentalismo e servir aos interesses político-eleitorais e econômicos.

Defender a vida é nos colocarmos em luta. É propagar a ideia de que temos saída e devemos travar a luta de ideias

A vida está sendo colocada em risco quando se organizam milícias prontas para atacar a liberdade e matar, na periferia, o povo excluído.

A vida está em risco quando se propaga o belicismo.

Nesse ambiente, se divulga a ideia de que não existem saídas. A ideia de que a economia é como a lei da gravidade, regida por leis naturais. A economia é produto da implantação de projetos políticos, econômicos e sociais e está vinculada diretamente aos interesses de classe. Assim, defender a vida é nos colocarmos em luta. É propagar a ideia de que temos saída e devemos travar a luta de ideias, revelando a quem interessa a retirada de direitos e a quem interessa o fundamentalismo e o ataque às verdades científicas; quem se privilegia com a retirada de direitos e com a desregulamentação do trabalho.

Como educadores e educadoras, temos que estar deste lado da história, cumprindo este papel. Nossa combatividade acumulará forças e propiciará mudança de curso.

*Madalena Guasco Peixoto é coordenadora-geral em exercício da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino — Contee e diretora da Faculdade de Educação da PUC-SP. O manifesto foi originalmente apresentado em 22 de setembro, no Dia Nacional do Basta em defesa da vida, da dignidade e dos direitos dos professores e técnicos administrativos das instituições de ensino metodistas de todo o País

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