Justiça

Mandato para diretor-geral e autonomia financeira são oportunismo da PF

É uma tentativa de servidores não-eleitos avançarem sobre mais um naco do poder

Polícia Federal
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Não se trata de tomar um lado na disputa. Como afirmou o presidenciável Ciro Gomes, na briga entre Jair Bolsonaro e Sérgio Moro, o aconselhável é ficar do lado da briga. Não há bala perdida, emendaria Mino Carta. Se um cometeu crime comum e outro, prevaricou, cabe às instituições (elas estão funcionando?) apurar, definir e tomar as medidas cabíveis. Políticas e judiciais.

Feito esse preâmbulo, vamos em frente. Quem duvida da torcida da Polícia Federal e do Ministério Público neste episódio? Eles são moristas e lavajatistas até a medula e fizeram questão de demonstrar. Nos três dias posteriores ao rompimento tormentoso entre Bolsonaro e o “superministro”, a torneira dos vazamentos contra os filhos do ex-capitão ficou aberta.

Ao sentir o cheiro da fraqueza de Bolsonaro, como o Agente Smith diante de um suado Morpheus em Matrix, os policiais enxergaram uma oportunidade para se apropriar antidemocraticamente de mais um naco do Estado. Há mais minhocas na enxadada do que imaginamos.

As propostas de autonomia financeira e de um mandato fixo para o diretor-geral da PF, vendidas como uma panaceia, servem exclusivamente aos interesses corporativos, particulares, de quem tem a missão de zelar pelo bem público, universal. Policiais e procuradores exercem funções delegadas. Não receberam votos, não se submeterem ao escrutínio dos eleitores.

Segundo a associação dos delegados, as medidas serviriam para a “dissipação de dúvidas” a respeito das intenções de Bolsonaro. Quem a esta altura, à exceção do rebanho que promete saltar do desfiladeiro ao lado do “mito”, tem dúvidas sobre suas intenções?

A ideia pode parecer sedutora, principalmente para a turma, cada vez maior, segundo as pesquisas recentes, que gostaria de ver Bolsonaro defenestrado do Palácio do Planalto o mais rápido possível. Pense melhor. Caso aprovadas, as medidas chocariam um outro tipo de serpente, tão antidemocrática quanto a ocupação miliciana do poder pelo clã.

Quem controlaria a PF? Vale a comparação com a autonomia do Banco Central. Em um caso e no outro, defende-se a “independência” em nome da proteção dos servidores das ingerências dos políticos malvados e corruptos. Autônomos, o BC e a PF de fato não seriam obrigados a prestar contas ao governo de plantão. Isso não significa que eles não teriam patrões. O Banco Central seria capturado de vez pelo mercado. E a Polícia Federal, a quais vontades se curvaria? Não ao do povo, adianto.

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