Economia

A tão esperada retomada da economia começou?

Há paz e melhoria no ambiente de negócios. Mas, principalmente, o Estado busca recuperar seu protagonismo na indução econômica

Créditos: Foto: Ricardo Stuckert / PR
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O Brasil viveu uma década de derrocada econômica, com severas consequências políticas e sociais. Já em 2014, os efeitos da prolongada crise financeira mundial repercutiram por aqui, derrubando o crescimento de quase 3% do ano anterior para apenas 0,5%. Nuvens carregadas se acumulavam no horizonte.

Mas o pior estava por vir: a grave e prolongada crise política que se seguiu à reeleição de Dilma e desaguaria no processo de impeachment contribuiu para provocar uma forte recessão no biênio 2015/16, com quedas seguidas de 3,5% e 3,3% no Produto Interno Bruto. Além do cenário externo, a “tempestade perfeita” foi composta pelas perdas bilionárias da Petrobras e a destruição de grandes empresas de engenharia nacional, na esteira da Lava Jato, além da sabotagem explícita do Congresso com as chamadas “pautas-bombas” e de erros de condução do próprio governo.

Ao contrário do que diziam, os problemas do país não seriam resolvidos com a saída de Dilma. O governo de Michel Temer, mesmo contando com ampla maioria congressual, apoio dos grandes agentes econômicos internos e externos e uma simpatia quase militante da grande mídia, produziu resultados pífios: crescimento de 1,06% em 2017 e 1,12% em 2018.

Na contramão do que diziam os liberais, a reforma trabalhista, que consistiu numa verdadeira revanche do capital contra o trabalho, não confirmou a promessa de geração de empregos. Confirmou-se, na verdade, o que alertamos como oposição: desestruturação das relações laborais, explosão do desemprego, da informalidade e do empobrecimento, além do enfraquecimento de todo o sistema sindical brasileiro.

O caldo de tensões políticas e sociais, a bancarrota econômica e a negação de “tudo o que está aí” descambou na eleição de Bolsonaro e na ruína completa que foi seu mandato. Para agravar o quadro, vivemos uma pandemia que, no Brasil, foi conduzida por um governo negacionista. Resultado: crescimento medíocre de pouco mais de 1% entre 2019 e 2022.

Novamente, a realidade desnudou a fantasia neoliberal: essa tragédia econômica ocorreu mesmo com a aprovação de uma reforma da Previdência draconiana que, diziam eles, traria uma panaceia, uma enorme injeção de recursos públicos para acudir os mais pobres na pandemia e a derrama eleitoreira de dinheiro para tentar comprar a reeleição.

O que vemos nesse início de governo Lula, que já impacta positivamente a vida das pessoas, é uma mudança de paradigma. Primeiro, há paz e melhoria no ambiente de negócios. Mas, principalmente, o Estado busca recuperar seu papel protagonista na indução econômica, daí que o maior feito do presidente seja justamente retomar as políticas públicas que foram destruídas nos últimos anos.

Para ficar em poucos exemplos, podemos falar da volta do Minha Casa, Minha Vida com meta de contratação de 2 milhões de moradias até 2026 e destaque para o retorno da faixa 1, beneficiando os brasileiros que mais precisam e ganham até 2.640 reais. Ou o Novo PAC, que une obras antigas e paradas com outras tantas que são necessárias e precisam ser realizadas, cujos investimentos estimados em 1,7 trilhão de reais, em todos os estados do país.

Tais ações macro contribuem decisivamente para a geração de empregos e o revigoramento de setores da indústria, como o de máquinas e da construção civil. Além disso, o Ministério da Indústria, dirigido pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, tem feito o importante debate sobre um impulso à reindustrialização do país, voltando os olhares para setores mais dinâmicos, com maior acréscimo de ciência e tecnologia e menos poluentes.

Lanço como sugestão o incremento à produção de semicondutores, setor estratégico para a economia global, com alta demanda e que o Brasil já tem alguma presença através da CEITEC, que agora não será mais liquidada. Há muitas outras possibilidades, como a farmacêutica, energias renováveis, de tecnologias digitais, de games, robótica, que podem inclusive contribuir com a absorção de mão de obra de alta qualificação produzida em nossas universidades públicas.

Esse é um desejável projeto de médio e longo prazos, que precisa iniciar já. Mas também temos ações para impacto imediato, tais como a volta da política de aumento real do salário mínimo e o novo Bolsa Família, agora turbinado. Essas políticas possuem efeito multiplicador, pois são dinheiro na mão para as famílias consumirem mais alimentos e itens de primeira necessidade, o que impacta também na ampliação de arrecadação via impostos, particularmente em pequenas e médias cidades. Isso sem falar no maior Plano Safra da história, que será fundamental para impulsionar ainda mais o agronegócio, e o Pronaf para a agricultura familiar.

O conjunto da obra é que começam a aparecer sinais mais consistentes de crescimento. O primeiro deles foi a queda sustentada da inflação – e não aquela artificial, via corte eleitoreiro nos impostos dos combustíveis, feita por Bolsonaro -, o que pressionou o Banco Central a afrouxar o garrote dos juros.

Depois, os números expressivos do PIB nos dois primeiros trimestres. No primeiro, houve um salto de 1,9% fortemente induzido pela expansão na agropecuária. Neste segundo trimestre, alta de 0,9% – o triplo das previsões de mercado – puxada pelos setores de indústria e serviços e o aumento no consumo das famílias.

Isso não é miragem, os efeitos se fazem sentir objetivamente na vida das pessoas: o desemprego de 7,9%, divulgado na última PNAD-Contínua, é o menor desde 2014, os alimentos estão mais baratos, inclusive a carne, e já se experimenta alguma sensação de melhora na ponta. Que seja o início de um ciclo prolongado, a tão esperada retomada econômica.

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