Frente Ampla

A hora da verdade na CPMI dos atos golpistas

A cada dia, fica mais clara a existência desta trama. É nosso papel juntar esses fios e tecer o contexto para a responsabilização dos envolvidos

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
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No dia 26 de abril de 2023 foi lido o requerimento da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar os ataques às sedes dos três Poderes ocorridos em 8 de janeiro deste ano. A tentativa de golpe de estado e abolição violenta do Estado democrático de direito. Mas, segundo o texto, o objetivo da CPMI é “apurar atos de ação e omissão” ocorridos na data das manifestações. Os autores do requerimento deixaram clara sua estratégia ao determinar este objetivo: com receio das ações, pretendem encontrar, principalmente, as omissões. Em resumo, sabem onde a investigação pode chegar e vão usar como estratégia que, apesar de tudo, a falha foi de quem não conseguiu impedir a sanha golpista.

No dia dos ataques, houve a intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal e o pedido de prisão do comandante da PM/DF, do Secretário de Segurança ex-ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres, e o afastamento do governador Ibaneis Rocha por 90 dias. Dez dias após, a exoneração do comandante do Exército, General Arruda.

Esses dados mostram que a omissão ou conivência existiram, e mais do que isso, começaram a ser punidas, estão em investigação e precisam ser ampliadas. No entanto, já são sete inquéritos instaurados no STF, onde também está incluído o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, que aliás já responde em mais vinte e três por diversos crimes. Já existe uma ação civil pública da Advocacia-Geral da União contra 54 pessoas, 3 empresas e associações envolvidas com o financiamento da logística dos golpistas.

No dia 9 de janeiro, foram efetuadas mais de 2 mil prisões das pessoas que estavam nos quartéis e participaram dos atos de depredação. 550 já foram indiciadas e transformadas em réus, neste momento 250 estão em apreciação pelo Supremo Tribunal Federal.

Alguém pode se perguntar: se já há investigação em curso, qual a necessidade de uma CPMI? A resposta fortalece a tese de que foi um instrumento da oposição para desviar o foco das investigações em curso. O tiro parece ter saído pela culatra. Já teve início o processo de indicações dos membros para compor a CPMI e sua instalação deve se dar nos próximos dias. Fortalecida pelo material já recolhido pela Polícia Federal e pelo STF, poderemos aprofundar pontos absolutamente essenciais para desmembrar o esquema que teve início logo após o anúncio do resultado das eleições em 2º turno.

Quem financiou os acampamentos, o transporte e toda a logística para sua manutenção? Com que objetivo? Até que ponto o período entre a derrota nas urnas e a fuga para a Flórida foi utilizado para, dentro do próprio Palácio do Planalto, impedir a posse de Lula e eternizar o derrotado e seu projeto no poder? Quem foram os autores intelectuais, quem incitou os crimes contra a democracia, contra as instituições, para deslegitimar as eleições, por danos ao patrimônio publico, por associação criminosa, por tentar um golpe de Estado, por crimes de terrorismo?

Perguntas não faltam e, a partir de depoimentos de figuras do entorno do ex-presidente, poderemos alcançar os verdadeiros responsáveis pelos atos contra a democracia e a Constituição. A justiça precisa alcançar não somente os que foram usados como massa de manobra para a execução de um golpe contra o resultado eleitoral, mas os que arquitetaram e financiaram este plano.

A cada dia, fica mais clara a existência desta trama. Áudios, mensagens, vídeos, esquemas vão sendo revelados. Ao puxar um fio, o novelo vai se desenrolando. É nosso papel juntar esses fios e tecer o contexto para a devida responsabilização dos envolvidos.

É preciso esclarecer fatos ainda envoltos num debate nublado pela estratégia da desinformação e da tentativa de blindagem do chefe maior do esquema. A corresponsabilidade das plataformas digitais na disseminação de fake news. Tudo deverá ser esclarecido, apesar do silêncio certo de alguns depoentes. Apesar do tumulto que tentarão criar para fazer prevalecer a tese de que a culpa é de quem não desviou da bala e não de quem atirou.

Não é apenas sobre a depredação, um ato por si só já bastante condenável e indesculpável contra os poderes constituídos. É sobre calar de vez a voz dos que ainda insistem em tramar contra o Estado Democrático de Direito. É sobre fortalecer nossa democracia. É sobre impedir que a mentira prevaleça. É a hora da responsabilidade pública. É a hora da verdade. E, com a verdade, que venha a justiça.

Este texto não representa, necessariamente, a opinião de CartaCapital.

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