Justiça

Entrevista de Moro a Fantástico é a continuação de Bastardos Inglórios

Após Rosângela Moro cravar o bolsonarismo na testa de Moro, o Hans Landa brasileiro segue sua saga contra seu ex-querido líder

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A entrevista de Moro ao Fantástico no domingo, 24 de maio, mostrou alguém que, acostumado a ser incensado pela imprensa chapa-branca, viu-se em posição semelhante à do Coronel Hans Landa (interpretado por Christoph Waltz) na cena final de “Bastardos Inglórios”, de Tarantino. Nela, o Tenente Aldo Raine (Brad Pitt) e o Sargento Donny Donowitz (Eli Roth) usam uma faca para desenhar uma suástica na testa de Landa, um oficial nazista do mais alto prestígio. Assim, após a derrota na Segunda Guerra Mundial, o militar não conseguiria sair à rua de forma anônima e confortável, como se nada tivesse a ver com a turma que acabara de ser derrotada.

Em fevereiro deste ano, Rosangela Wolff Moro, esposa do hoje ex-ministro da Justiça, disse ao Estadão que seu marido e Bolsonaro são uma coisa só. A unha romperia com a carne apenas dois meses depois. Foi a resplandecente suástica em sua testa que Moro, em ensaboados tons de cinismo, tentou apagar na entrevista ao Fantástico depois de ser provocado sobre fatos como o de ter permanecido por um ano e quatro meses em canina fidelidade ao governo de alguém que, na Presidência da República, não demonstrou ser uma vírgula diferente do que fora em 28 anos de Câmara dos Deputados.

Assim como Coronel Hans Landa, a marca do bolsonarismo está na testa de Moro.

Constrangido, Moro liga os aparelhos respiratórios de sua moral e diz ter se sentido desconfortável na fatídica reunião de 22 de abril. Indagado por que se calou diante do gangsterismo professado por Bolsonaro e seus colegas ministeriais, justificou que não era um espaço apropriado para se contrapor a desejos do mandatário como o de armar a população contra a “ditadura do isolamento”. A lista de saias-justas acabou expondo o que traceja sua testa desde os áureos tempos em que jornalismo era sinônimo de releases da assessoria de imprensa da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Moro piscou quando lembrado que varou 2019 e adentrou 2020 ostentando uma alta patente do bolsonarismo. Equilibrou-se ao falar que abraçou o fascismo por acreditar que tinha uma “missão importante”. Besuntou-se em litros de vaselina ao responder que não era o responsável por presidir a reunião no momento em que foi lembrado de seu silêncio frente à fascistóide fala de Weintraub em prender ministros do STF. Se um dia a tapioca vira, como se costuma dizer no Nordeste, parece não haver dúvidas que a de Moro não só virou como já está queimando.

Sumo-pontífice do terraplanismo jurídico, o ex-ministro ainda aproveitou para bradar contra o negacionismo do governo quanto à pandemia. Sentiu-se injustiçado, contudo, quando cobrado em abril sobre o assunto, chegando a dizer a auxiliares que não podia fazer muita coisa pois “é uma crise de saúde, não tem como prender o vírus”, mostrando proezas cognitivas não muito distantes das do seu ex-chefe. Por mais que agora, muito convenientemente, critique as alianças com o centrão e insinue que usou da desculpa de outro compromisso para sair mais cedo da reunião, não vai ser fácil esconder a insígnia sobre suas sobrancelhas.

Quando entrevistado por Pedro Bial, o ex-juiz não soube dizer da última biografia que lera, mesmo afirmando ter apreço pelo gênero. A indigência intelectual, aparentemente um traço sólido de sua personalidade, não se repete em Lula, mais notória vítima de seus absolutismos. Em entrevista à Globo News em 2015, o ex-presidente mostrou que, além de ser um devorador de biografias, extraiu delas a percepção de que o lugar na história não é estabelecido no calor do momento, mas fixado conforme ocorre o distanciamento de episódios e processos históricos. A coruja de Minerva, disse Hegel, não levanta voo no meio da manhã ou no início da tarde, mas sim ao anoitecer. É somente após o cair do dia que é possível compreender os significados do que foi tocado pelo Sol.

Ao anoitecer, será triste – e merecido – o fim do ex-juiz de Curitiba.

NOTA DE ALTERAÇÃO: Na versão original do artigo, fora utilizada a expressão “nanismo moral” para qualificar determinada postura considerada reprovável. Trata-se de uma expressão que o autor reconhece como infeliz, pois, além de gerar desconforto, contribui para estigmatizar determinado segmento da sociedade e suas lutas dignas para a superação da discriminação e a construção de uma sociedade mais justa e livre de quaisquer preconceitos.

O uso impróprio da expressão foi alertado publicamente pelo Movimento Nanismo Brasil, pelo Movimento Nanismo São Paulo e pela Associação Pequenos Guerreiros, que, muito gentil e pedagogicamente, chamaram a atenção para seu caráter inadequado. O autor do artigo pede sinceros perdões, agradecendo, ainda, pela intervenção, que teve êxito não apenas em gerar a correção do texto e a substituição do termo, mas também os efeitos pedagógicos mais do que necessários em situações como esta.

A entrevista de Moro ao Fantástico no domingo, 24 de maio, mostrou alguém que, acostumado a ser incensado pela imprensa chapa-branca, viu-se em posição semelhante à do Coronel Hans Landa (interpretado por Christoph Waltz) na cena final de “Bastardos Inglórios”, de Tarantino. Nela, o Tenente Aldo Raine (Brad Pitt) e o Sargento Donny Donowitz (Eli Roth) usam uma faca para desenhar uma suástica na testa de Landa, um oficial nazista do mais alto prestígio. Assim, após a derrota na Segunda Guerra Mundial, o militar não conseguiria sair à rua de forma anônima e confortável, como se nada tivesse a ver com a turma que acabara de ser derrotada.

Em fevereiro deste ano, Rosangela Wolff Moro, esposa do hoje ex-ministro da Justiça, disse ao Estadão que seu marido e Bolsonaro são uma coisa só. A unha romperia com a carne apenas dois meses depois. Foi a resplandecente suástica em sua testa que Moro, em ensaboados tons de cinismo, tentou apagar na entrevista ao Fantástico depois de ser provocado sobre fatos como o de ter permanecido por um ano e quatro meses em canina fidelidade ao governo de alguém que, na Presidência da República, não demonstrou ser uma vírgula diferente do que fora em 28 anos de Câmara dos Deputados.

Assim como Coronel Hans Landa, a marca do bolsonarismo está na testa de Moro.

Constrangido, Moro liga os aparelhos respiratórios de sua moral e diz ter se sentido desconfortável na fatídica reunião de 22 de abril. Indagado por que se calou diante do gangsterismo professado por Bolsonaro e seus colegas ministeriais, justificou que não era um espaço apropriado para se contrapor a desejos do mandatário como o de armar a população contra a “ditadura do isolamento”. A lista de saias-justas acabou expondo o que traceja sua testa desde os áureos tempos em que jornalismo era sinônimo de releases da assessoria de imprensa da 13ª Vara Federal de Curitiba.

Moro piscou quando lembrado que varou 2019 e adentrou 2020 ostentando uma alta patente do bolsonarismo. Equilibrou-se ao falar que abraçou o fascismo por acreditar que tinha uma “missão importante”. Besuntou-se em litros de vaselina ao responder que não era o responsável por presidir a reunião no momento em que foi lembrado de seu silêncio frente à fascistóide fala de Weintraub em prender ministros do STF. Se um dia a tapioca vira, como se costuma dizer no Nordeste, parece não haver dúvidas que a de Moro não só virou como já está queimando.

Sumo-pontífice do terraplanismo jurídico, o ex-ministro ainda aproveitou para bradar contra o negacionismo do governo quanto à pandemia. Sentiu-se injustiçado, contudo, quando cobrado em abril sobre o assunto, chegando a dizer a auxiliares que não podia fazer muita coisa pois “é uma crise de saúde, não tem como prender o vírus”, mostrando proezas cognitivas não muito distantes das do seu ex-chefe. Por mais que agora, muito convenientemente, critique as alianças com o centrão e insinue que usou da desculpa de outro compromisso para sair mais cedo da reunião, não vai ser fácil esconder a insígnia sobre suas sobrancelhas.

Quando entrevistado por Pedro Bial, o ex-juiz não soube dizer da última biografia que lera, mesmo afirmando ter apreço pelo gênero. A indigência intelectual, aparentemente um traço sólido de sua personalidade, não se repete em Lula, mais notória vítima de seus absolutismos. Em entrevista à Globo News em 2015, o ex-presidente mostrou que, além de ser um devorador de biografias, extraiu delas a percepção de que o lugar na história não é estabelecido no calor do momento, mas fixado conforme ocorre o distanciamento de episódios e processos históricos. A coruja de Minerva, disse Hegel, não levanta voo no meio da manhã ou no início da tarde, mas sim ao anoitecer. É somente após o cair do dia que é possível compreender os significados do que foi tocado pelo Sol.

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