Opinião

“Ainda não tocamos o fundo”: Lula está livre e a pátria não será vendida

O voto do Brasil a favor do embargo a Cuba é uma mancha que não se apagará da história diplomática brasileira

Manifestantes em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Foto: AFP
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“Ainda não tocamos o fundo.”

Trata-se de um velho ditado popular italiano, que se aplica perfeitamente ao Brasil de Bolsonaro, Heleno, Guedes, Salles e Araújo, para citar apenas os mais notórios da quadrilha, que ainda inclui assassinos e milicianos, como fica mais evidente a cada dia.

Escrevo sob o impacto do voto brasileiro na Organização das Nações Unidas (ONU), a favor do embargo ilegal e ilegítimo dos EUA contra Cuba.

Votaram a favor do imperialismo criminoso apenas a colônia Brasil e a colônia Israel (prepostos em suas respectivas regiões).

Até as colônias Ucrânia e Colômbia abstiveram-se; 187 países votaram contra. Ou seja, sequer a Argentina – ainda – de Macri; o Chile – ainda – de Piñera; o Equador – ainda – de Moreno; o Egito de Sissi e a Arábia Saudita do príncipe esquartejador – congênere do homólogo local – votaram a favor do embargo ilegítimo e ilegal, que induz a ilha à pobreza, há décadas.

Essa mancha não se apagará da história diplomática brasileira.

 

De todo e qualquer desastre, entretanto, pode-se tirar lição. Deve servir, pelo menos, para entendermos porque agentes públicos não se rebelam quando a desobediência civil é legítima.

Vale lembrar que o embaixador junto à ONU foi chanceler da presidenta Dilma Rousseff e o alterno, promovido a embaixador durante os governos democráticos.

Portanto, como entender a passividade? Não conhecem a seriedade do voto e o dano que ocasionará ao Brasil e a Cuba? Por que a imprensa não menciona os respectivos nomes, além do chanceler ilegítimo e irresponsável? Onde estão os órgãos de representação dos servidores do MRE? Só se lhes interessa a pauta funcional? Quanto vale a dignidade neste País? Nada mais vale?

Mas o moleque não desiste de tentar nos fazer morrer de vergonha: fez uma postagem no Twitter, na qual afirmou que três empresas haviam decidido deixar a Argentina para se transferirem ao Brasil. Confrontado com a grotesca mentira, que não deixará de ter consequências na relação com o país que é o maior importador de produtos com valor agregado do Brasil, o covarde apagou a postagem.

De fato, a patética figura, se muito pode em Santa Cruz, nada pode contra o curso da história.

Lula já está livre, em cumprimento da Constituição Federal e graças a uma massiva campanha nacional e internacional, integrada pelos povos de todos os países antes mencionados e muitos outros mais.

Ao lado disso, o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernández, sobrevoou o Brasil, rumo ao México, estabelecendo uma nova aliança entre os dois gigantes latino-americanos, já libertados do status colonial, no qual o Brasil chafurda, no âmbito internacional.

O belo é que a história e a diplomacia são rebeldes aos traidores. Não se rendem, passam luminosas ao largo do abismo dos detratores da pátria.

Simbolicamente, no mesmo dia 7 de novembro, o Supremo Tribunal Federal decidiu, por apenas um voto de diferença, que a constituição continua em vigor e que não pode haver prisão antes do trânsito em julgado, razão pela qual o presidente Lula, um preso político, foi libertado.

O tamanho do abismo do qual estamos buscando sair pode ser medido por esse fato: como uma cláusula pétrea da Constituição, de redação tão clara, necessitou ser “interpretada” e foi mal compreendida por cinco dos 11 juízes da corte suprema?

Não chegou a hora de acordarmos para o fato de que o direito nas periferias do mundo continua sendo instrumentalizado pelo imperialismo? Como aceitar que estamentos da alta burocracia dos três poderes estabeleçam nefastas alianças com o império para destruir a nação e arruinar sua política externa? Como denunciar esse conluio que inclui as próprias forças de defesa?

 

A tarefa que temos adiante é imensa: denunciar os que vendem a pátria; buscar dialogar com todos; aceitar os arrependidos e rejeitar os que se auto-condenarem.

Do desastre do qual estamos buscando sair, temos de ter colhido a lição; do contrário de nada terá servido tanto sofrimento nosso e de todo o mundo, que, sem o Brasil, perdeu o melhor e maior advogado dos pobres, dos oprimidos e dos marginalizados, nos cinco continentes.

É verdade que outros tomaram a nossa tocha e iluminaram o caminho, como vemos fazer México e Argentina, mas para o mosaico da justiça e da paz todos somos necessários, com nossas diferentes culturas, cores e etnias.

Contra a dominação, a injustiça e a pilhagem do império todos somos necessários, pois a virulência dos que querem continuar explorando nossos povos e riquezas requer a consciência, a organização e a luta de todos.

A construção da pátria grande se faz cada vez mais necessária e ao voto vergonhoso do Brasil na ONU o povo brasileiro saberá responder com mais solidariedade, apoio e irmanamento com os irmãos e irmãs de Cuba, do Chile, da Nicarágua e da Colômbia, que acaba de eleger para sua capital uma prefeita lésbica, além dos argentinos, uruguaios, paraguaios, bolivianos e todos os demais povos da América Latina e Caribe.

Lula livre, Brasil livre, América Latina e Caribe livres! Unidos, nunca mais seremos vencidos!

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