Opinião

O concerto das nações virá pela destruição da extrema direita

Não cedamos um palmo sequer aos fantasmas do conservadorismo

Viktor Orbán, o ditador húngaro, viu o partido dele perder as eleições para a prefeitura de Budapeste Orban empurra a Hungria para a Idade Média
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“No tempo de semear, aprenda; no tempo de colher, ensine; no entretempo, goze.” Willian Blake

Cada vez mais, fica patente que a nossa contribuição para o concerto das nações será a destruição da extrema direita, pela ineficácia, o descrédito, o ridículo mesmo.

Na semana passada, foi o bastião húngaro que ruiu: Viktor Orbán, o ditador húngaro, viu o partido dele perder as eleições para a prefeitura de Budapeste.

A oposição democrata venceu depois de nove anos de invencibilidade do fascismo.

Os democratas irão administrar o território onde vive aproximadamente um quinto da população do país. O candidato vencedor é um jovem (para os padrões europeus) de 44 anos.

Trata-se de vitória simbólica: o fascismo húngaro tem sido o mais vocal contra a imigração, estabelecendo, inclusive, campos de concentração para o confinamento de imigrantes no país.

Vale recordar que aquela extrema direita é antiga e co-autora com os nazistas do extermínio dos judeus durante a Segunda Guerra Mundial, como Hannah Arendt bem demonstrou, na obra-prima dela sobre o julgamento do exterminador Eichmann.

 

Mas o que somos? O que é a sociedade? O que é a natureza, senão um mosaico cujas peças se complementam para formar o quadro maior?

Com efeito, os países que acolheram imigrantes conheceram, em consequência, um grande desenvolvimento socioeconômico, sendo o caso mais notório o dos Estados Unidos da América, após a Segunda Guerra Mundial.

De fato, a colônia judaica que para lá imigrou aportou desde capital financeiro até intelectual e artístico, notáveis; revolucionou as artes visuais, principalmente o cinema, por meio do qual a hegemonia cultural estadunidense espalhou-se pelo mundo.

Ao lado disso, aportou desenvolvimento tecnológico tão impressionante que levou à construção da bomba atômica, dando aos EUA a supremacia militar.

Ao Sul, o fascismo vem travestido de modernidade, embora seja o velho colonialismo opressor, violento e dilapidador de riquezas nacionais.

Simbolicamente, o Papa Francisco afirmou na abertura do Sínodo da Amazônia na semana passada: “Deus nos preserve da avidez dos novos colonialismos”.

Nele estamos imersos, sendo o Brasil o exemplo mais dramático: após Bolsonaro ter entregue de graça a Embraer, a terceira empresa aérea do mundo, aos EUA, à Boeing, esta empresa determinou férias coletivas para os trabalhadores da Embraer, provavelmente para transferir a linha de montagem para os EUA.

Mas há reação, como vimos no Equador: após tentar impor ao país medidas draconianas ditadas pelo Fundo Monetário Internacional, o governo equatoriano teve de recuar, em razão dos protestos massivos que tomaram as ruas das principais cidades do país, principalmente da capital, Quito, que foi abandonada pelo presidente fujão.

Ao contrário do Brasil, o Equador conta com grande politização indígena. Estamos a anos-luz daquela realidade, mas vemos lideranças indígenas brasileiras cada vez mais ocupando o espaço político que lhes cabe.

Não era sem tempo: o desastre ecológico brasileiro aprofunda-se, ameaçando não apenas o país, mas o planeta.

A boa notícia é que os jesuítas querem voltar à região das Missões, em que outrora se construíra a república mais perfeita edificada pelos homens e as mulheres: a República Guarani, segundo a filósofa política mais importante do século passado, Rosa Luxemburgo.

Com efeito, só uma república mais que perfeita poderá salvar este pobre país, de onde até as cigarras fugiram ou foram assassinadas pela musa do veneno, a Rede Globo e o agronegócio que de pop não tem nada, mas de violento e mortífero, tudo.

Mas há um silêncio muito simbólico, da ausência do cantar delas, mas também do nosso poder de observação. Terei sido a única pessoa a notar que desapareceram? Elas que anunciavam a primavera em todo este imenso país, a ponto de nos ensurdecer com seu cantar?

A que ponto chegamos de embotamento? Será necessário que a notícia venha pelo Jornal Nacional, algum pastor ou padre conservador ou ainda o zap zap para que os nossos sentidos despertem para esse fato tão sintomático da nossa agressão à natureza?

Como ir para frente? Eu diria que primeiro temos de ir para trás: seria bom se aprendêssemos arqueologia nas escolas, desde a mais tenra idade. História concreta, aquela que vemos na arquitetura; que comemos em casa – vinda da culinária das mães, tias e avós; que ouvimos pelas ruas, na mistura de etnias e sotaques.

Não nos deixemos embotar pelo medo e pela violência – o medo que se concretiza. Não cedamos um palmo sequer aos fantasmas do conservadorismo, pois, como bem diz o ex-primeiro-ministro de Portugal, José Sócrates, com o fascismo não se dialoga, combate-se.

Afinal, somos o país de Paulo Freire, aquele que nos lembrou que estamos felizmente fadados à troca, que nos leva ao enriquecimento e este, por sua vez, à libertação. A ser felizes – em abundância, como nos lembrou São João e seu sucessor, São João XXIII, o “Papa Bom”, que tanto tem inspirado Francisco, outro Papa bom, que aos diferentes reconhece serem partes do mosaico maior, da vida.

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